Semáforo vermelho: quem são os artistas de rua que buscam sustento em Taguatinga

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Artistas de rua levam espetáculo a motoristas e pedestres de Brasília. Foto: Bruno Santa Rita/Agência de Notícias

A arte de rua é vista frequentemente nos semáforos do Distrito Federal. Embaixo de sol ou chuva, frio ou calor pessoas do Brasil afora e até de outros países chegam a cidade para trabalhar ao ar livre. Tiram das apresentações a sobrevivência diária e o reconhecimento da cultura. Em meio a fogos, bolas, pinos e tecidos homens e mulheres se aventuram nas apresentações. Com a influência do circo, fazem truque de mágica, malabares e personificações.

Entre os carros e movimentos, quem frequentemente é visto nos semáforos da capital leva a milhares de motoristas e pedestres a cultura por meio de apresentações rápidas. O sinal vermelho para os automóveis é o momento em que o show começa. “Eu sai da minha cidade para levar arte, fazer arte. Esse é o maior motivo”, destaca Giuseppe Eduardo Vescozi, 19 anos. Natural de Joinville (SC), o jovem chegou ao Distrito Federal em agosto. Desde então se instalou em Taguatinga e vive da arte da rua.

Para conseguirem um bom resultado eles passam horas treinando. Tudo para proporcionar um bom espetáculo ao público. “Dizem que o nosso trabalho é ganhar dinheiro fácil, mas temos que ralar e dar o melhor de nós mesmos. Se não trabalhar não tem dinheiro”, Giuseppe.

Já um uruguaio de 29 anos, que se identificou como Bernardo, veio ao Brasil à procura de um irmão. Aqui adotou a arte de rua como profissão e também tem viajado por muitas cidades. Mas, para o latinoamericano, Taguatinga é um bom lugar para trabalhar, “porque as pessoas são mais atentas às apresentações e mais dispostas a darem alguma quantia”. Na opinião dele, se não fosse pelos artistas de rua a valorização da cultura não seria tão frequente como é no Brasil e no mundo. “Se não fosse por nós, que colocamos uma mochila nas costas e viajamos pelo mundo para levar arte para as pessoas, essa tradição teria acabado”, conta.

A professora e atriz de teatro, Tainá Palitot, graduada em educação artística e formada pela Universidade de Brasília (UnB), destaca que arte de rua é um respiro de vida no meio do trânsito corrido e do estresse que ele causa. “Essas pessoas levam um pouco de humor e amor na correria do dia a dia. É possível encontrar artistas de diferentes qualidades apresentando seus trabalhos incansavelmente”, destaca.

Para ela, a arte de rua é um canal que permite o acesso à cultura mesmo para os que nunca foram a um teatro ou a um show. “A qualidade de muitos desses artistas é fantástica. Isso faz com que as pessoas se abram para apreciar e dar um espacinho para a cultura nessa correria tão louca. Acho um trabalho muito bonito e corajoso”, ressalta.

Falta legislação

Mas, apesar do esforço, nem todas as pessoas dão valor aos artistas que, além de levar momentos de distração e proporcionar sorrisos, ganham a vida a base do talento da arte. Em algumas poucas cidades do Brasil, como São Paulo e Curitiba, existem leis que regularizam a atuação nas ruas, mas muitas cidades ainda não aprovaram nenhuma norma, como é o caso de Brasília. “A gente não tem voz. Nada do que a gente fala eles levam em conta”, lamenta Giuseppe. “Tem cidades, como em São Jorge  (GO), que o que a gente faz é proibido. Em algumas situações, a polícia leva as nossas coisas, enquadra a gente como delinquentes quando, na verdade, estamos aqui debaixo de sol”, desabafa.

Joyce Quina, 17 anos, veio de Juiz de Fora (MG), e se apresenta nos semáforos de Taguatinga. Foto: Thaís Batista/Agência de Notícias

Joyce Quina, 17 anos, veio de Juiz de Fora (MG) e conta que muitas vezes sofre desrespeito não só por ser artista de rua, mas por ser mulher. “Às vezes acham que porque eu estou ali no sinal, sou garota de programa. Nem precisa eu estar fazendo arte. Só se eu estiver andando de short, bermuda, calça, vestido curto ou comprido sempre passa um fazendo gracinha, falando alguma coisa. Tudo é motivo para assédio”, desabafou.

Artista de rua há nove anos, João Pedro desabafa que os profissionais sofrem discriminação, são vítimas de roubo, de violência verbal e até física. Carioca, João Pedro foi expulso de casa quando tinha 12 anos. Desde então começou a trabalhar com arte de rua e vive disso. Ele não mora em um lugar determinado e faz várias viagens para diferentes cidades do Brasil. “Levamos uma vida simples, mas somos felizes. Conseguimos comer, viajar e viver fazendo o que gostamos. Fazemos arte para colocarmos o sorriso no rosto de alguém.” comenta.

A Secretaria de Cultura do DF diz que não possui dados a respeito da quantidade, origem e outros fatores sobre os artistas de rua e que não há legislação específica para esse grupo “por falta de uma definição mais precisa do que seria artista de rua.”

Ana Paula Teixeira e Thaís Batista

Sob supervisão de Isa Stacciarini

 

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