Com pelo menos 950 animais no abrigo “Flora e Fauna”, ao menos 20 voluntários doam parte do tempo para fazer a diferença na vida de cães e gatos abandonados. Muitos dos animais, vítimas de maus-tratos, foram parar no local após terem sido resgatados da rua. Mas, superlotado, o local passa por dificuldades. Faltam ração, medicamentos para os bichanos e material de higiene. Na tentativa de mudar esse cenário, moradores do Distrito Federal levam afeto e doação de mantimentos para o local.
Após a situação do abrigo aparecer em canal aberto de TV (Caldeirão do Huck, da Globo), no ano passado, o local recebeu ração, remédios e uma reforma total na estrutura. Mas, passado esse período, o abrigo perdeu doadores. Além disso, o número de animais abandonados em locais próximos é de aproximadamente 30 cães e gatos por mês, o que eleva a quantidade dos bichanos.
Mas, em meio a esse cenário, há quem ainda doe parte do tempo para levar amor. A voluntária Ana Lúcia Ywane, 50 anos, recorda que a gata Preciosa chegou em uma situação bastante delicada. A felina tem cerca de 1 ano e foi parar no abrigo aos 4 meses. “Quando ela chegou, tinha o olho esquerdo perfurado, inflamado e necrosado”, explicou. Ana adotou a gatinha e arcou com os custos da recuperação da Preciosa, em razão da falta de condições do abrigo de pagar o tratamento. Hoje, a gata não tem mais o olho esquerdo, porém conta com uma qualidade de vida e um lar cheio de amor.
Resgate
A voluntária Ana Corrêa , 40 anos, levou para casa 23 cães de pequeno porte para desafogar a superlotação do abrigo. Lá, ela fez um lar temporário para os animais. Entre eles, a Mia, uma cadela que também foi vítima de violência. “A pequenina foi encontrada sofrendo maus-tratos em uma chácara, muito debilitada e com forte crise de cinomose (uma doença altamente contagiosa). Na sua primeira noite, depois de ser resgatada, ainda na casa da responsável pela limpeza do abrigo, Mia estava com tanta fome que matou e comeu o papagaio da moça”.
Depois de um longo tratamento de quase seis meses, a cinomose de Mia está inativa, mas ela ainda toma remédios para amenizar a doença. O veterinário Plinio Rossi Arantes destacou que a adoção é uma atitude que deve ser tomada de forma consciente e responsável. “Existem muitas pessoas denominadas acumuladores de animais que os resgatam sem ter a condições de dá-los o tratamento correto, podendo até aumentar as possibilidades de transmissão de doenças e piorar a situação do animal em comparação a quando foi resgatado”, alertou.
Segundo o médico, o resgate responsável pode oferecer um bem-estar ao animal livrando cães e gatos da fragilidade da rua e exposição a doenças. “Alguns chegam à casa da pessoa adotante com indícios de maus-tratos. Mas, logo depois do tratamento, sempre há uma reação e um final feliz”, ressaltou. No entanto, o especialista observou que o preconceito com animais sem raça definida ainda é grande, o que leva consumidores a preferirem a compra dos bichos.
Motivação do trabalho
Voluntário do abrigo, Wellington Fabiano, 30 anos, ressalta que cada animal tem uma história. Com aproximadamente 650 cachorros e 300 gatos, ele explicou que alguns não conseguem sobreviver. “Cada um passa uma emoção e uma sensação diferente. Só que eles sempre nos dão mais vontade de ajudar. É gratificante, não tem dinheiro no mundo que pague”, emocionou-se.
Wellington ressaltou que a motivação para o trabalho é o amor pelos animais. “Quando os mutirões de banho terminam, tem dias que eu saio do abrigo às 20h, mas vou para casa com cansaço bom, de trabalho cumprido. Sempre que um trabalho é feito com união, há uma força que todo mundo sai ganhando”, destacou.
O abrigo precisa de doações de apoio de qualquer tipo de material de limpeza e ração, independente de ser voltado para cães ou gatos adultos ou filhotes. As doações são recebidas na feira adoção realizada pelos voluntários aos sábados, na 108 sul, de 11h às 16h. Ou no próprio abrigo, nos mutirões de banho realizados sempre no último domingo de cada mês. Para entrar em contato com o abrigo, acesse: http://www.abrigofloraefauna.org.br.
Por Beatriz Artigas e Mateus Arantes
Arte: Alice Vieira
Sob supervisão de Isa Stacciarini e Luiz Claudio Ferreira