Gravidez na adolescência: a vida em periferias e o papel das escolas

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Há sete meses, Laura de Lima, 16 anos, descobriu a gravidez. Ela lembra que o maior receio dela foi a reação da família. “Fiquei com medo dos meus pais não aceitarem e de eles quererem tirar (o bebê)”. Laura, que é moradora de Planaltina (GO), explica que, normalmente, usava camisinha, como método contraceptivo. Mas, nem sempre o casal lembrava. Além disso, a adolescente garante que sabia como funcionava o ciclo menstrual e que, no colégio onde estudava, havia palestras sobre  planejamento familiar e prevenção a doenças sexualmente transmissíveis.. Laura espera um bebê para maio deste ano.

A 70 km de Planaltina, em outra região de periferia, a preocupação com as adolescentes faz com que o colégio Centrão, de São Sebastião, também tenha um programa de prevenção à gravidez. A escola tem 2905 alunos e com 1005 meninas. A instituição de ensino relata que, pelo menos uma vez no ano, o serviço de orientação educacional, responsável pelos projetos da escola, realiza programas voltados para discutir assuntos de sexualidade. A professora Rosângela Toledo, que é encarregada das licenças maternidade das alunas, relata que, em um ano, o máximo de meninas grávidas no turno da tarde é de aproximadamente oito adolescentes, que costumam ter entre 16 e 17 anos.

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A professora de geografia do Centrão, Mara Marçal, diz que conversa sempre em sala de aula sobre o assunto, principalmente quando explica conteúdos de crescimento da população brasileira. “Eu falo diariamente. Hoje foram três debates em salas diferentes. As famílias não conversam, não têm diálogo, e quando a gente conversa nas aulas, os alunos ficam vermelhos, envergonhados.”

“Medo”

A adolescente Yanna Pereira, de 19 anos, moradora de Planaltina (GO) está grávida de oito meses e me contou na entrevista, que no primeiro momento, quando descobriu da gravidez pensou que a vida tinha acabado e o grande medo de não ser uma boa mãe, veio à tona. Ao contrário de Laura, Yanna utilizava pílulas anticonceptivas regularmente, mas, por “um descuido”, acabou engravidando. Ela revelou não pensar em largar os estudo e que, no colégio que estudava, não tinha nenhum projeto de prevenção.

A 80 km dali, o colégio da Ceilândia, Centro de Ensino Médio 02, tinha  projetos de prevenção à gravidez e às drogas. No entanto, sem orientador há dois anos, os programas foram suspensos. Quem  gerenciava essa área eram os orientadores. O diretor do instituto da escola, Wilson Venâncio, relatou ter solicitado ao governo do DF um novo profissional da área para o centro de ensino. Wilson conta que a antiga orientadora realizava várias palestras e ajudava as “gravidinhas”. “A orientadora trazia palestras com ginecologistas, ou até ela mesma palestrava. Quando tinha alguma menina grávida, ela orientava  ir ao posto médico e fazer o pré-natal.”  

O Centro de Ensino Médio 02 oferece apoio às mães. A coordenadora Josiane dos Santos explicou que há três meninas de licença maternidade, com idades de 16 e 17 anos, nas séries de 1 e 2 ano. A professora  acrescenta que as adolescentes não costumam abandonar os estudos, mas se acontecer o abandono o colégio entra em contato com a família e o conselho tutelar.

Escola Centro de Ensino Médio 02, em Ceilândia, está sem projetos de educação sexual

A Secretária de Saúde do Distrito Federal informou que, no ano de 2018, teve um total de 43.755 partos, e que desse número 7.096 são de mães na faixa etária de 10 a 19 anos. Os postos de saúde mais procurados e com maior números de nascimento é no Hospital Regional de Ceilândia, Hospital regional de Samambaia, Hospital Regional de Taguatinga e  Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB).

A ginecologista Luciana Côrtes atende na rede pública de saúde e disse que o melhor meio é a prevenção. “O ideal é a prevenção para que não termos gravidez indesejadas, porque também atrapalha o projeto de vida da adolescente que engravida, tendo chance de uma nova gravidez em um a dois anos da primeira gestação”. Além do mais, a médica cita que um corpo pode ser mais desenvolvido que outro corpo, mas que ainda não estão preparados para uma gravidez, principalmente a parte psicológica.

A secretária também informou que existem projetos e campanhas que existem no DF. Isso inclui  apoios psicológicos para meninas grávidas que é oferecido nos hospitais públicos e a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez não Intencional na Adolescência. O propósito é prevenir pelo caminho da educação com  rodas de conversas, atividades e filmes educativos.

Por Lorena Cabral

Foto: Plan International / Divulgação

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