Futebol feminino: elas estão na série A, mas ainda sofrem preconceito

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Susana Kimberly chegou a ouvir de uma familiar que futebol não era para mulher

Em 1941, Getúlio Vargas por meio do Decreto-Lei n° 3199 proibiu a “prática de esportes incompatíveis com a natureza feminina”. Uma fala como essa seria inconcebível em 2019. No entanto, na prática, mesmo com tantas conquistas femininas, o preconceito mostra que a realidade em campo ou fora dele não mudou tanto assim. 

“Como assim mulher jogando bola? Não dá certo menina jogando futebol”. Foi o que Susana Kimberly, jogadora do Minas/Icesp, ouviu de uma pessoa da família. Não é de hoje que o futebol feminino luta por visibilidade e respeito.

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As condições inadequadas de trabalho (em alguns clubes), a diferença salarial, comparado com o futebol masculino, e a falta de investimento ainda dificultam a entrada das meninas no esporte. “A gente pratica o mesmo esporte que eles (homens). Somos todos seres humanos, mas os investidores nos olham diferente”, afirmou Jéssica Soares, lateral de 27 anos do Minas/Icesp.

“Os investidores nos olham diferente”, lamenta Jéssica Soares

Sobre as condições de trabalho, a atleta destaca o suporte que a equipe de Brasília disponibiliza para as atletas. “A estrutura que o Minas oferece é melhor até que algumas instituições de futebol masculinas. Aqui temos coaching, psicólogo, plano de saúde e o clube arca com nossas despesas acadêmicas que também é muito importante”.

Para tentar solucionar o problema da modalidade no país, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) estabeleceu regras para os clubes da Série A. A partir deste ano, os 20 participantes do Brasileirão devem se enquadrar no Licenciamento de Clubes da Confederação e, por obrigação, manter um time feminino adulto e de base.

Segundo a CBF, no momento apenas 7 times do Brasileirão estão devidamente enquadrados na nova regra da Confederação. As demais equipes estão em adequação. A medida tem o objetivo de descobrir novos talentos, conseguir investidores e criar identificação com o torcedor do futebol masculino. Para Camila Pini, também atleta do Minas/Icesp, o futebol feminino já teve tempos piores. “Há cinco anos não tínhamos um pingo de visibilidade, mas atualmente estamos crescendo, não muito, aos poucos vamos progredindo” explica a atleta.

“Há cinco anos não tínhamos um pingo de visibilidade”, diz Camila Pini

A força que vem de casa

O apoio fora dos gramados é indispensável, mas a ideia de ser jogadora de futebol para a mãe da atleta Susana Kimberly não foi bem aceita no início. “Só você de menina no meio de um bando de meninos”, relatou a atleta, imitando a fala de seu mãe. Ao contrário da mãe de Suzana, os familiares da Jéssica Soares sempre deram total apoio para a jogadora para conseguir realizar seus sonhos. “Graças a Deus eu nunca tive problema com isso. Meus pais sempre acompanharam meus jogos. Minha mãe sempre foi uma incentivadora, tive bastante sorte. Nem sempre é assim”, explica Jéssica.

O incentivo familiar é essencial para as garotas que tentam se destacar em um esporte dominado por homens. De início é difícil para as mães apoiarem o sonho das meninas, mas quando o resultado é alcançado a história muda. É o caso da atleta Camila Pini. “De início minha mãe foi contra, meus pais eram separados. Então não tive muito o contato do meu pai sobre essas questões do futebol. Quando entrei em um time profissional ela passou a me dar apoio. Hoje, minha mãe é a maior incentivadora da minha carreira”.

Por Guilherme Gomes (texto e fotos)

Supervisão de Vivado de Sousa

 

 

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