A professora Ranilce Garcia, 47 anos, pela regra atual, vai se aposentar daqui a três anos. Porém, a reforma da previdência em discussão no Congresso a assusta. O motivo é que, juntamente com a reforma da previdência, serão aprovadas regras de transição, conhecidas como pedágio. “Com certeza, a mulher será a mais prejudicada. Trabalha em casa e fora dela, mas eles não estão considerando a dupla jornada”, afirma.
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Especialistas concordam com a visão da professora. “As mulheres, além de terem maiores dificuldades em entrar no mercado de trabalho e, quando conseguem, ganham menos e, por conseguinte, recolhem menos a previdência, o que futuramente irá impactar negativamente em seus benefícios”, afirma a advogada, especialista em previdenciário, Ana Tâmara. Para ela, a proposta de reforma da previdência vai criar impactos na vida de populações vulneráveis, mas as mulheres estão entre as principais afetadas. Além disso, a especialista explica que a idade mínima para aposentar vai ter aumento de dois anos, sendo necessário que a mulher tenha 62 anos e possua 20 anos de contribuição previdenciária. Porém, o valor recebido será de 60% do salário, com aumento de 2% por ano. A exigência para receber o valor integral do salário é contribuir 40 anos.
Conscientização
A professora de contabilidade Diana Vaz de Lima, que pesquisa o setor previdenciário, afirma que a reforma é ainda mais dura para as professoras. Pela nova regra, a idade mínima vai de 50 para 60 anos e o tempo de contribuição de 25 para 30 anos.
Para Diana Vaz, as mulheres precisam ter uma idade diferenciada para se aposentar e o Brasil poderia avançar em termos de cobertura previdenciária para as mulheres. “No assunto igualdade salarial por um mesmo serviço, o Brasil fica em 133º, atrás de todos os países da América do Sul”, explica. Além disso, ela afirma que a mulher entra no mercado de trabalho mais tarde, por não ter as mesmas oportunidades que os homens.
“Em 2014, no Brasil, o valor médio dos benefícios ativos para o trabalhador foi 32% maior do que para a trabalhadora”, afirma. Segundo aponta, há predominância dos benefícios de aposentadoria por idade para o sexo feminino (mais de 56% do total), concedido aos trabalhadores acima de 65 anos de idade. “ Por si só, isso já eleva a idade média de aposentadoria concedida para a trabalhadora brasileira”, afirma.
Temor
Segundo a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em 2018, mulheres trabalham oito horas a mais que os homens, em tarefas domésticas e com o cuidado com filhos, em média 18,1 horas por semana. O Centro-Oeste representa a região onde os homens menos participam das tarefas domésticas, com o total de 9,6 horas.
A estudante de direito Larissa Regina Portela Fontinele Ximendes, 20 anos, também teme pelo futuro e acredita que a reforma enriquece os bancos, visto que aumenta a procura pela previdência privada. “A carreira que escolhi é no judiciário. Então, não vou ter preferências. Ainda não entrei no mercado de trabalho. Se estágio contasse, ajudaria bastante”, explica.
Por Julia Campos de Souza
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira