“Sinto muita saudade de tudo”, diz dançarino cadeirante sem poder sair de casa

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Silêncio na música. Uma pausa no ritmo. A dança foi adiada. Para pessoas com limitações e deficiências, o movimento já faz falta. É mais do que um passatempo. Trata-se de um momento muito especial do dia, um encontro de união e vontade. Mas, a pandemia do coronavírus parou o som

Para o dançarino Roges Moraes, de 24 anos, o período de quarentena tem sido ruim. “Para ser sincero, só tenho feito  algumas flexões (de braço)”. Roges é cadeirante e participante do Projeto Pés, projeto de dança voltado para pessoas com deficiências diversas, que também conta com tetraplégicos em seu elenco. O projeto Pés é uma iniciativa do professor  de dança Rafael Tursi.

 

Roges Moraes se apresenta em Planaltina. Atualmente, só flexões em casa (Imagens: Eliane Castro/Divulgação)

Progresso afetado

Para Carla Maia, cadeirante e dançarina de outro projeto, o Street Cadeirante, o impacto também foi “grande”. O progresso de desenvolvimento foi afetado e a divulgação dos resultados também. “Tínhamos três apresentações marcadas que foram canceladas pela pandemia. Durante esse período de quarentena, todo o treinamento foi prejudicado, estamos nos adaptando aos poucos, mas a gente perdeu tempo no período que ficamos parados sem saber o que fazer no início”.

Ela considera que a parada é necessária. “Muitos cadeirantes estão no grupo de risco, temos que manter saúde e segurança de todo mundo”, comenta Carla Maia, dançarina e gestora do grupo Street Cadeirante. O grupo conta com apenas pessoas cadeirantes e conseguiram adaptar sua rotina de aulas, diferente do Projeto Pés que trabalha com deficiências físicas, motoras e mentais.

Roges Moraes acrescenta que, como dançarino, tem sido “muito ruim” a quarentena sem o contato da dança, uma parte importante da vida dele. “Sinto falta de tudo, da companhia, dos trabalhos… É só saudade”, responde o dançarino. A falta do projeto tem sido mais intensa para aqueles que têm sido ajudados por ele.

Roges em apresentação no ano de 2019. (Imagens: Mayariane Castro)

 

Adaptado

O decreto do fechamento de academias se prolonga até o dia 31 de maio e Carla conta como foi o impacto na sua rotina com a falta da dança e como foi feita a adaptação. “No começo, ficamos sem saber o que fazer mas quando vimos que a quarentena iria demorar, a gente optou por usar o Zoom, um aplicativo de reuniões online, para continuar as aulas mesmo que de forma virtual”, explicou a gestora.

O uso de aplicativos alternativos para continuar com a dança foi uma solução usada pelo Street Cadeirante, porém isso não adaptou e não atendeu a todas as necessidades necessárias pela dança. Ela explica que as coreografias e trabalhos foram afetados pela quarentena e pelo uso das reuniões de vídeo para dar continuidade ao projeto. 

“O aplicativo não é próprio para aulas de dança, o áudio acaba comprometido que é muito importante numa aula de dança. O contato do professor com alunos também é uma dificuldade, mas que o Wesley, nosso professor, tem conseguido lidar”, relata.

                                                 Aulas do grupo continuam via online (Reprodução: Instagram)

 

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Entretanto, o grupo achou na dificuldade uma oportunidade de solidariedade. Ao usar o aplicativo (Zoom), o grupo decidiu liberar as aulas para quem quisesse fazer e Carla conta que eles têm recebido alunos de todo o Brasil. Ela relata que o feedback dessa iniciativa tem sido ótimo e até pessoas que nunca dançaram antes se juntaram as reuniões virtuais do grupo.

Ela diz que a iniciativa partiu do professor e diretor artístico do projeto, Wesley Messi, que quando conseguiu se adaptar as aulas online, decidiu disponibilizá-las ao público. “Estamos dando aula para pessoas que nunca tiveram aula de dança, estamos tendo um feedback muito bacana e recebendo muitos comentários positivos”, comenta Carla.

Cadeirantes de todo o Brasil aproveitam a oportunidade do projeto. “A falta que a dança nos faz é grande, né? Ela traz muita alegria para todos nós e foi difícil. Mas agora que conseguimos fazer aula e ainda distribuir conteúdo pelo Brasil todo, recebendo um retorno bacana, a gente se sente bem, sabe? A falta virou uma oportunidade para cadeirantes do Brasil inteiro e isso é muito gratificante”, relatou a gestora e dançarina.

Por Mayariane Rodrigues

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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