Ampliar o acesso à informação, gerar conteúdos sobre as comunidades locais e incentivar os jovens da região a se tornarem protagonistas da própria história. Esses são os propósitos do projeto 14x Fercal. Para isso, a iniciativa pretende viabilizar uma agência de notícias comunitária móvel para que a comunicação seja itinerante. A ideia é circular com automóvel pela comunidade e gerar notícias de interesse da comunidade a partir do próprio local, com direito a ao vivo e notícias integrais. O projeto também pretende criar um elo entre as organizações privadas ou governamentais com a comunidade.
Saiba mais sobre a Fercal
O que engajou essa iniciativa foi o fato dos noticiários cobrirem apenas temas negativos da região. “Estamos cansados de falarem sobre a Fercal apenas quando acontece algum roubo ou até morte. A Fercal não se limita a essa cobertura jornalística feita”, afirma a educadora social Priscila do Carmo Araújo, de 42 anos. Ela atua como produtora cultural. E foi isso o que a motivou a iniciar o 14x Fercal, em 2018, que é um projeto de educomunicação. “O mais importante para a gente é poder mapear as habilidades dos moradores de dentro da Fercal e, através dessas habilidades, queremos organizar internamente a situação da nossa região”, cita a educadora. O projeto foi construído com objetivos a longo prazo.
“É diferente você viver no local e gerar notícia a partir deste local.”
Segundo Priscila do Carmo, a comunicação comunitária também tem a capacidade de envolver a realidade que os cerca. “Incentivar as pessoas a conhecerem a sua região, a saber a história. Então a comunicação serve para que a gente possa ter um sentimento de pertencimento”, afirmou. Em seguida, a educadora acredita que uma das mensagens que o 14x Fercal tem a oferecer é a importância de projetos estarem fundamentados na ajuda local. “É muito mais interessante incentivar as pessoas para que elas estejam doando para projetos locais. Há a possibilidade de verificar como o investimento feito está sendo benéfico para a própria região. São projetos em que a transparência pode ser evidenciada”.
A ajuda local pode ser o principal público a ser atingido no momento, mas é um espaço que ultrapassa barreiras. Priscila do Carmo explica que a comunicação gera visibilidade. “Contribuir com o projeto também significa ajudar a economia da minha região, além de contribuir com a educação dos jovens e possibilitar a utilização de recursos que possivelmente eles não teriam acesso antes”.
Ela esclarece que as parcerias são fundamentais para chegar ao objetivo. São a ponte entre os auxílios financeiros. “Para a gente, é muito importante ter parcerias com universidades, empresas privadas e poder escrever projetos porque a intenção futuramente é concorrer a editais de projetos para conseguir recursos financeiros.” Um exemplo é a realização de parcerias institucionais, sendo o Programa de Extensão Comunicação Comunitária da Faculdade de Jornalismo da Universidade de Brasília (UnB) (saiba mais no Facebook e no Instagram a primeira parceria efetiva. Em setembro de 2020, professores e estudantes do Centro Universitário de Brasília (UNiCEUB) realizaram roda de conversa com representantes da comunidade e também da UnB para também colaborar com a iniciativa como ação curricular de extensão.
Vozes na comunidade
A maioria da comunidade da Fercal está na faixa adulta e idosa. Para Priscila do Carmo, existe conservadorismo de alguns integrantes e é preciso superar as barreiras e resistências culturais para viabilizar a novidade. Por isso, houve grande dificuldade no início do 14x Fercal. “Ao invés de ter senhores ensinando os jovens da Fercal, o que eu valorizo é os jovens ganhem papel de destaque e contribuam com a educação dos jovens da Fercal”.
O projeto 14x Fercal (alusivo às 14 comunidades da região administrativa) foi inspirado no 32x SP, em que é feito um trabalho de comunicação comunitária em 32 distritos, onde existem jovens comunicadores representantes que desenvolvem pautas sobre a comunidade. “Eu quero que o projeto tenha visibilidade, que a gente possa conseguir apoio, que os jovens possam ir para o mercado de trabalho”, explicou.
Dentro do projeto existem oficinas e ações com jovens de 12 a 20 anos, em que são realizadas aulas de educomunicação e de áudio, fotografia e vídeo. O estudante Johnn Anjos, morador da localidade, participa do projeto 14x Fercal. Ele testemunha que essas oficinas oferecidas pela UnB trouxeram uma nova perspectiva para ele. O trabalho possibilitou que ele e outros jovens possam ter “fala”, “visão” e “voz”, afirmou o jovem.
A Fercal operária

Há moradores na Fercal desde 1957. A fábrica de cimento foi autorizada a se instalar em 1961. Por ser uma cidade operária, ela é caracterizada, principalmente, pelas fábricas de cimento e pela agricultura familiar. Outra característica é a catira e a Folia de Reis, marcas culturais fortes da região. A maior parte da população se concentra na comunidade do Engenho Velho.
A região é composta por 14 comunidades ao todo, sendo elas: Rua do Mato, Engenho Velho, Bananal, Alto Bela Vista, Expansão Alto Bela Vista, Fercal I, Boa Vista, Catingueiro, Córrego do ouro, Ribeirão, Fercal II, Loberal, Queima Lençol e PA Contagem. Cada uma possui suas particularidades, como exemplificou Priscila do Carmo. É comum existirem apelidos dentro da comunidade como forma de caracterizar o local, devido ao fato de não existir um endereçamento oficial.

Além disso, o projeto 14x Fercal possui dificuldades na reunião de dados referentes ao projeto e à região, os quais estão acumulados e desatualizados. “Nosso problema está em resgatar todas as informações obtidas, tudo o que já conseguimos realizar e colocar eles em evidência. Pretendemos criar um site para disponibilizar essas informações”, cita a educadora social.
Redes sociais
Após a atualização dos dados, o projeto estará focado na produção de notícias em um jornal quinzenal ou mensal. Entretanto, a falta de equipamentos eletrônicos aparece como um empecilho para que os jovens sejam os monitores e trabalhem de forma integral para o projeto. “Nosso maior desafio agora é ter equipamentos e o celular é um deles. Temos muito jovens que não têm celular e com esse empecilho, nós não conseguimos nem desenvolver oficinas de vídeo de bolso. Alguns também não têm internet em casa. Então não tem como eles serem engajados em redes sociais”.
Em virtude desses traços tão específicos da região, Priscila do Carmo explica que é essencial entender a comunidade para se comunicar. Na Fercal existem problemas de acessibilidade e por ser uma área rural, não possui muitas redes telefônicas. “É muito importante a gente poder verificar na comunidade quais são os meios que funcionam, se essa comunidade tem acesso à internet ou se não tem, quais são as redes que elas acessam, se tem algum site que promova a comunicação local”.
Por Milena Castro e Sandy Melo
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira