A pandemia atrasou os planos do jornalista Anderson Olivieri, que planejava publicar neste ano uma biografia sobre o ex-jogador Müler. Atualmente, ele é comentarista de TV em programa esportivo na TV Gazeta. Mais do que o adiamento nos planos, o jornalista entende que a necessidade de isolamento social tornou desafiador o trabalho. Nesta semana, ele foi convidado para a oficina “Apuração e Narrativa em Livro-Reportagem”, como parte do evento acadêmico EnCUCA, promovido pelo Centro de Ensino Universitário (CEUB). Assista abaixo:
Saiba mais dos trabalhos do jornalista
Anderson Olivieri, que já escreveu cinco livros-reportagem sobre futebol, defende que a precisão das informações é fundamental para contar histórias de forma atraente. “Quanto melhor sua apuração, melhor será sua narrativa”. Em relação à biografia do ex-jogador Müller, o jornalista tomou como ponto de partida que ele teve glória e dinheiro e depois perdeu muitos dos bens. Ele explica que a paixão pelo livro-reportagem começou na adolescência e está baseada no relacionamento íntimo que tinha com a literatura. Segundo ele, logo surgiu o interesse por livros de não-ficção e o profundo interesse em fazer o mesmo, fazer aquilo que estava lendo.
“O que me cativava na não-ficção eram exatamente as minúcias, os detalhes e a riqueza da narrativa sempre baseada em informação. Então, chegou um momento que eu não queria mais ser somente um leitor desse tipo de literatura, mas também um autor”. Anderson, depois de formado na área de direito, estudou jornalismo no CEUB.
Essa paixão pelo livro-reportagem, pela informação e fidelidade aos dados e fatos, permite que Anderson seja um profundo conhecedor desse gênero jornalístico. Ele compartilhou seu entusiasmo com estudantes autores de jornalismo que assistiram e participaram do evento. Ele explica que o caminho para apurar e narrar é ler ficção e literatura, e conhecer a arte da narrativa. Para ele, a diferença entre a reportagem presente em veículos de comunicação e o livro-reportagem é o “fôlego”. Um livro requer tempo para realização e espaço para acessar documentos em arquivos públicos e privados, provas, pessoas, locais, isto é, apuração em alto grau, o que implica contar com recursos financeiros.
Anderson lembra que um livro-reportagem é constituído por linguagem e elementos jornalísticos, o que demanda checagem e rechecagem de cada informação coletada, uma etapa imprescindível da apuração. “A reportagem em si, para mim, é a essência do jornalismo, pois é o gênero jornalístico que trata de forma mais profunda, mais dedicada um assunto, o que se torna a forma mais correta. Porque quanto mais bem apurada uma informação, menor o risco dessa informação trazer algum tipo erro”, comentou ele.
Aos escutar e consultar muitas fontes, a narração, para Anderson, ganha embasamento e credibilidade. Ele ainda acrescentou que uma bagagem sociocultural ampla por parte do autor do livro-reportagem permite melhor fluidez na narrativa. “Fidelidade absoluta aos fatos. Quem quer inventar algo tem que se render à ficção”.
Para acompanhar Anderson, estiveram presentes à oficina estudantes de jornalismo que tiveram experiência na faculdade na confecção de livros-reportagens. Entre os trabalhos, estudantes abordaram a realidade das pessoas no Distrito Federal em meio à presença e ao avanço da covid-19 na capital do país.
Estudantes relataram os desafios da apuração para contar sobre os riscos e as vulnerabilidades que as pessoas tiveram de enfrentar. Distrito Pandêmico foi escrito durante a pandemia por estudantes de jornalismo e está disponível no repositório do CEUB para acesso livre e gratuito de todos os interessados. No segundo semestre de 2020, universitários inspiraram-se em obras de Clarice Lispector para pensar nas pautas. Esse último trabalho ainda não foi publicado.
Durante a Oficina, Anderson apresentou uma lista de livros-reportagem como inspiração para compreender a arte de apurar e de narrar em jornalismo.
Dicas de leitura de Anderson Olivieri:
- O dono do morro – Misha Glenny
- Se não fosse o Cabral – Tom Cardoso
- Ho-ba-la-lá – Marc Fischer
- Notícias do Planalto – Mario Sergio Conti
- A sombra do poder – Rodrigo de Almeida
- Marighella – Mário Magalhães
- Maysa – Lira Neto
Por Paloma Castro
Supervisão de Mônica Prado e Luiz Claudio Ferreira