Caso Klein: jornalistas investigaram histórias de abusos sexuais por 5 meses

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Foram cinco meses de uma investigação exaustiva até as confirmações de que estavam diante de uma história de terror. Jornalistas da Agência Pública descobriram que tanto o pai, Samuel, como o filho, Saul Klein, da Casas Bahia, são acusados de promoverem abuso sexual de centenas de crianças e adolescentes. Em abril de 2021, o resultado foi publicado pelo veículo de comunicação. Muitos dos processos contra o magnata acabaram em acordos por indenização para as vítimas em troca de destruição das provas, que consistiam, em sua maioria, de vídeos comprovando os crimes. 

 

Os jornalistas Thiago Domenici e Mariama Correia buscaram as denúncias e colaboraram para a divulgação do material. Nesta terça-feira (25), ambos participaram da Semana da Comunicação do CEUB, em conversa mediada pelos professores Henrique Tavares, Luiz Claudio Ferreira e Katrine Tokarski, e comentaram sobre a produção da reportagem. 

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Apuração

Mariama relata que sua maior dificuldade foi ao abordar as vítimas. “É muito delicado você falar com essas pessoas e colocá-las diante da situação de reviver um trauma”, afirma a jornalista. Como são casos que, em sua maioria, aconteceram anos atrás, essas mulheres ainda eram crianças ou adolescentes, o que torna a situação mais sensível”. 

Além disso, os jornalistas disseram que é comum, em uma investigação como essa, que, em alguns momentos, fiquem ansiosos e desanimados durante o processo de construção da reportagem. Isso se deve ao fato de que a procura pelas denunciantes foi demorada, já que foi difícil conseguir juntar um número suficiente de vítimas.

“Nós tomamos porta na cara de, pelo menos, umas 20 (mulheres). Uma das denunciantes topou na véspera da publicação e isso me deu uma força maior”, disse Thiago. Segundo Mariama, muitas mulheres recusaram porque se tratava de situações as quais buscavam esquecer.

“(Elas) não quiseram falar ou colocar o nome, com medo de sofrer algum tipo de represália. Mas também com medo de se expor pras próprias famílias, porque refizeram a vida de outra forma, em outros estados. Enterraram esse momento de violência e não queriam acessar”, completou a jornalista.

Thiago acrescenta, ainda, que para fazer uma acusação contra o fundador da Casas Bahia, era necessário uma apuração da reportagem de todos os elementos possíveis: “Fontes, documentos, rechecagem de informação e processos, para que quando a história viesse a público, não tivesse nenhum tipo de contestação”, afirmou.

Leia mais sobre o tema na matéria de A Pública 

A construção da imagem do ‘benfeitor’

Thiago Domenici conta que a reportagem começou com a dica de uma fonte, e logo foram atrás. Segundo essa informação, o filho de Samuel Klein estava sendo investigado pelo Ministério Público, na época, por crimes sexuais, como estupro. A equipe de jornalistas da Agência Pública, ao pesquisar, se deparou com processos relacionados ao próprio Samuel. “Percebemos logo no começo que a história seria muito maior por conta de ser o fundador da Casas Bahia”, disse o jornalista. 

As aparências

Samuel Klein, chegou ao Brasil fugindo do nazismo na Europa. Aqui, solidificou-se como um grande empreendedor conquistando um império de varejo no país. “O curioso é que muitas das denunciantes tem até um certo respeito por conta dele ser um benfeitor. Elas não o enxergam necessariamente como um abusador”, declarou Thiago.

Segundo Mariama, essa é uma questão que vem do machismo: “São questões estruturais, da sociedade que objetifica mulheres. Os homens poderosos sentem impunidade, principalmente aqueles que têm poder relacionado à dinheiro”, relata. Além disso, a jornalista conta que a reportagem afetou seu psicológico, porque existe um ambiente hostil, até na internet, para jornalistas mulheres que têm trabalhado com essa temática.

Pandemia

Thiago ressalta que o período de pandemia interfere no processo de apuração da reportagem. Embora a maior parte do trabalho esteja sendo feito em home office, algumas entrevistas pontuais precisaram ser feitas presencialmente. 

“Tivemos que ir até os locais para chegar às informações. Mas seguimos todos os protocolos, como uso de máscara n95, álcool em gel, tudo aquilo que a ciência diz que tem que ser feito”, afirmou o jornalista.

 

Por Ana Luiza Duarte, Nathália Guimarães e Rayssa Loreen

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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