Produtores no DF se adaptam para produzir vinho; confira mitos e verdades sobre bebida

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Cada vez que tomamos uma taça de vinho repetimos uma tradição que ultrapassou fronteiras. As primeiras videiras chegaram ao Brasil pelas expedições colonizadoras de Martim Afonso de Souza, em 1532, e, a partir daí, a produção se espalhou pelo território.

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Inicialmente, a viticultura se deu na região Sul do país graças aos imigrantes italianos que trouxeram o hábito de consumo com eles.

A cultura teve que se reinventar para se encaixar nas características climáticas da região e o desenvolvimento de novas tecnologias possibilitou que a produção se estabelecesse, por exemplo, na região do Planalto Central mesmo com o clima seco.

Adaptação 

Segundo a professora de enogastronomia Alessandra Santos, do Centro Universitário de Brasília, que também é sommelier, as regiões propícias para a produção de vinhos são de clima temperado, ou seja, com as estações bem definidas.

Foto: Creative Commons

Irrigação

No entanto, as novas tecnologias de irrigação potencializaram a qualidade das uvas da região e possibilitaram a diversificação de produtos, já que cada região proporciona um tipo de vinho diferente.

Além disso,  a agrônoma e sócia do novo projeto Vinícola Brasília, Isabella Bonato, conta que para viabilizar sua produção, seguiu uma técnica que surgiu em Minas Gerais. 

O trabalho foi desenvolvido pelo pesquisador Murilo Albuquerque Regina, coordenador do Núcleo Tecnologia Epamig Uva e Vinho da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.

A ação que consiste em empurrar o ciclo de colheita da videira para o inverno, ao invés de colher no período habitual do verão. E, segundo ela, transformou completamente o cenário de produção em Brasília.

Condições climáticas

O clima com pouca chuva, frio, amplitude térmica (certos dias podem ter variação de 8°C, pela manhã, e 28°C, à tarde que garantem boa acidez para as uvas) e os solos profundos e bem drenados foram pontos destacados pela agrônoma ao falar os benefícios da viticultura na região central do país.

“Não foi a gente que buscou Brasília, o vinho que nos buscou no final das contas”.

Foi o pontapé inicial para que dez famílias, que vieram para Brasília na década de 80, se juntassem para compartilhar equipamentos e dividir custos em uma área chamada PAD/DF (Programa de assentamento dirigido do Distrito Federal), cujo o objetivo principal era a criação de um cinturão verde em volta da cidade.

As famílias que tinham cada uma seus próprios rótulos, vinhos, marcas e empresas diferentes, terão uma marca em conjunto para a produção do vinho Vinícola Brasília a partir de um blend (corte de vários vinhos). Uma das famílias participantes do projeto foi a primeira a produzir o primeiro vinho brasiliense, o vinho Seu Claudino.

Qualidade 

No Brasil, existe uma lei que classifica e regulamenta a produção de vinhos no país (Lei nº 7678). Só assim os vinhos podem chegar ao processo de distribuição e serem aprovados pelos clientes.

Alessandra Santos acrescenta que os fatores que influenciam na qualidade do vinho são avaliados por um enólogo durante o cultivo, por exemplo, a casca da uva, modo de elaboração, tipos de vinícolas.

Depois, passam pela aprovação do cliente, principalmente, a partir das memórias gustativas e como cada indivíduo interpreta os sabores.

Ela considera que cada pessoa possui seu estilo de consumo, podendo explorar o mundo vasto e complexo dos vinhos. Para a especialista, o mercado é animador e o Brasil cada vez mais ganha espaço no cenário internacional.

Isolamento e vinho

A agrônoma Isabella Bonato afirma que, durante o atual cenário pandêmico, a procura por consumo de vinhos tem aumentado consideravelmente, tendo em vista que grande parte das pessoas não estão mais frequentando bares e restaurantes e precisam se reinventar na cozinha.

Além disso, ela ressalta que o consumo da bebida aumentou também devido ao interesse de realizar  experiências ao ar livre, um cenário que combina perfeitamente com o vinho e permite uma reconexão com a natureza. A sommelier Alessandra também atribui esse crescimento ao processo de descoberta e busca de conhecimento sobre receitas e combinações de alimentos por parte do público durante o período de isolamento.

Uma garrafa de vinho, taça, tem o poder de mudar o contexto e o ambiente. O que seria uma noite mais ou menos se torna uma noite especial com um vinho especial”, afirmou Isabella.

Consumo 

A nutricionista Alessandra Gaspar acredita que o vinho oferece muitos benefícios para o corpo, dentre eles o bom funcionamento do cérebro, auxílio dos aparelhos digestivo e respiratório, estimula a produção de insulina, atua como anti-infeccioso e imunoestimulante. Outro benefício é que ajuda a reduzir os riscos de câncer e retardar o envelhecimento.

Porém, a especialista ressalta que os efeitos benéficos do consumo da bebida estão associados a uma alimentação saudável e qualidade de vida.

O consumo quando exagerado, além de uma ou duas taças por dia, pode causar cirrose hepática, está relacionado ao desenvolvimento de câncer no sistema digestivo e até doenças cardiovasculares.

Doses

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma dose diária (90ml) para mulheres e duas doses para homens (180ml), o considerado ideal.

Os vinhos mais indicados e considerados mais saudáveis são os que possuem mais taninos, que é onde fica o resveratrol, um composto fenólico que possui uma função antioxidante, ou seja, protege as células do corpo contra substâncias tóxicas, infecções e várias doenças, segundo a especialista.

 

Conheça mitos e verdades sobre o vinho

Fonte: nutricionista Alessandra Gaspar

Processo de produção

Afinal, qual o processo que o vinho precisa passar para chegar até o consumidor? A sommelier explica que não existe mais um padrão unificado, justamente pelo desenvolvimento de novas tecnologias e singularidade de cada tipo de vinho.


Da colheita ao engarrafamento

As etapas básicas começam com a colheita (que deve ser orientada por um enólogo para definir o tipo de acidez do produto final para determinar o período de maturação que a uva deve ser colhida). 

Na sequência, já o desengace ou esmagamento (rompimento das cascas das uvas de maneira sutil por meio de máquinas), prensagem (separação de cascas e sementes do suco).

A fermentação envolve o processo biológico para transformação do açúcar natural em álcool e dióxido de carbono, que podem ocorrer nos barris de carvalho ou aço inox.

Depois, ocorrem a trasfega (transferência de um tanque para o outro), a classificação ou estabilização (remoção de componentes que deixam o vinho turvo e estabilização de calor, frio e microbiológica) e o amadurecimento/envelhecimento. Por fim, o engarrafamento para, então, ser distribuído.


 

Por Lorena Rodrigues e Maria Eduarda Cardoso 

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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