Dirigido por Pablo Larraín (Jackie), Spencer é um longa que conta o que teria acontecido nos últimos dias da princesa Diana como um membro da realeza britânica, durante o feriado de Natal de 1991 na propriedade real de Sandringham. A atriz Kristen Stewart (Crepúsculo) foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz por sua representação da adorada nobre.
A história da família real, em especial da “Lady Di”, não é novidade, tendo em vista que ela sofria uma forte perseguição midiática, considerada pelo público como uma pessoa extremamente atrativa, carismática e solidária. Em mais uma produção retratando seus dias em meio a Corte, Spencer traz a história por trás das câmeras, pela visão de uma mulher que não se adequava aos padrões reais.
Confira o trailer oficial de Spencer:
Estética militar
Larraín, conhecido por se aventurar em retratações de figuras públicas em filmes como Jackie (2016) e Neruda (2016), não aborda questões da protagonista enquanto pessoa pública em sua nova trama. A narrativa se constrói a partir de um ponto de vista em que a vivência na família real era como um sistema militar, o que compõe toda a estética do filme.
Isso se faz presente tanto nos momentos iniciais da produção, no qual vemos um pelotão de soldados camuflados carregando caixas reforçadas, quanto em detalhes mais subjetivos, tais como normas de como se portar, o que vestir a cada ocasião e a estrutura de horários quase inflexível para cada refeição.
As figuras masculinas se constroem como típicos personagens de guerra, como o Major Gregory (Timothy Spall), que representa a máxima autoridade rigorosa e implacável, o chef Darren (Sean Harris), com um semblante de autoridade mais compassivo e acessível, e o próprio príncipe Charles (Jack Farthing) que, no pouco tempo de tela que possui, retrata a figura de alguém conformado, adaptado ao modo de vida que lhe foi imposto.
Essa abordagem constrói a trama pautada na ideia de que Diana era cercada por pessoas que agiam não pelo que sentiam, mas sim pelo o que eram e o que isso representava, enquanto a mesma lutava para superar os desafios que as convenções reais lhe impuseram.
Kristen Stewart no poster de Spencer (Imagem: Divulgação)
Roteiro
Em seus primeiros instantes, o diretor classifica o longa como uma “fábula baseada em fatos reais”, algo que se faz presente durante a atuação de Stewart. Diana é tratada como alguém constantemente vigiada, seja pela mídia ou pelos membros da nobreza, e que não possui privacidade, mesmo em meio a sua própria família.
A atriz traz os detalhes da personagem com bastante cuidado e delicadeza, como a maneira sutil de falar e se portar, salvo os poucos momentos em que mostra se sentir confortável, como quando está na presença de seus filhos William (Jack Nielen) e Harry (Freddie Spry).
Do sotaque britânico da atriz americana à sua linguagem corporal, a Lady Di de Stewart consegue nos passar um sentimento de empatia à medida que acompanhamos o paralelo entre seus momentos de angústia e delírio, tentando caminhar para o mais perto que conseguisse de um “final feliz”.
Kristen Stewart conquistou uma indicação ao Oscar por sua atuação como Lady Di (Imagem: Divulgação/NEON)
Durante a narrativa, podemos perceber que o roteirista Steven Knight (Locke, 2013) não foca nos grandes acontecimentos, mas sim no que se passa entre eles. Ao invés de abordar os jantares e festividades de fim de ano, a história se aprofunda nas consequências que precisar comparecer e agir de determinada forma traziam a Diana.
Por que Spencer?
Diferente de grande parte das produções anteriores, Spencer não foca apenas no status de Diana enquanto princesa. O longa trata da história de uma mulher que se sentia sufocada pelas obrigações reais, dividida entre ser quem é e ser quem a realeza precisa. Uma mulher cuja a pouca força que ainda possuía vinha de uma conexão com seu passado e a vontade de estar lá para garantir a felicidade de seus filhos.
Formado a partir do ponto de vida de sua protagonista, o filme trata, de forma cuidadosa e com toques teatrais, da história de uma mulher que se sentia imersa em uma vida de aparências, buscando aproveitar os raros intervalos de felicidade e alívio.
Ficha técnica
Direção: Pablo Larraín
Roteiro: Steven Knight
Elenco: Kristen Stewart, Timothy Spall, Sean Harris, Jack Farthing
Duração: 117 min
Gênero: Biografia / Drama
Classificação Indicativa: 12 anos
Origem: EUA / Reino Unido
Distribuição: Diamond Filmes
Por Maria Paula Meira
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira