Com roteiro de direção de Pawo Choyning Dorji, A Felicidade das Pequenas Coisas (2019) recebe indicação ao Oscar de Melhor Filme Internacional, e é apenas o segundo filme que o Butão inscreve na premiação – o outro foi A Copa, de Khyentse Norbu, de 1999.
Veja o trailer do filme butanês:
O longa-metragem defende que o ser humano nasce puro e a sociedade o corrompe, tese defendida pelo filósofo Jean-Jacques Rousseau. A narrativa exemplifica essa teoria com a história de Ugyen Dorji (Sherab Jorji), um professor sem vocação ao ensino que passa seu tempo em bares com os amigos e usando aparelhos eletrônicos. Quando é enviado à “escola mais remota do mundo”, em Lunana, acessível após oito dias de trilhas rumo a uma montanha, ele detesta o local e as pessoas sorridentes que ali vivem e pede para ir embora.
A Felicidade das Pequenas Coisas fala sobre a ruptura do ser humano perante a sociedade (Foto: divulgação)
Aos poucos, o jovem professor, conhece, pela primeira vez, a satisfação no trabalho e o valor da amizade verdadeira com sujeitos que valorizam sua profissão, ao contrário da capital onde residia anteriormente, na qual educadores perderam sua autoridade. No topo da montanha de iaques, animal que remete ao búfalo, ainda se acredita que “os professores tocam o futuro”, razão pela qual Ugyen recebe um tratamento privilegiado.
A felicidade está nas pequenas coisas?
O longa-metragem parece sugerir que os membros da comunidade são felizes pelo simples fato de não terem a oportunidade de desfrutar de alguns privilégios, como não saber o que é um carro, não possuírem uma bola para brincar, fazer fogo com fezes de iaque ou até mesmo o uso de papel higiênico. Em um dado momento, a eletricidade finalmente chega ao vilarejo, mas o jovem sequer percebe, porque estaria ocupado demais encontrando “a felicidade das pequenas coisas”.
A narrativa leva o espectador a crer que a pobreza traz contentamento, pois os humildes seriam menos corrompidos pelo impulso de ter um poder aquisitivo alto – cabe questionar a romantização da miséria promovida por tal ideologia.
Este é o segundo filme do Butão no Oscar (Foto: divulgação)
Sensações
O cinema do Butão está dando seus primeiros passos para ser conhecido internacionalmente, e, se não fosse a indicação ao Oscar de Melhor Filme Internacional, talvez ele passasse batido. Mas não há como negar que há uma previsibilidade na história. A jornada do protagonista e o processo de “salvação” na trajetória de autoconhecimento é bem óbvia e já vista com frequência em outras histórias. É natural que haja certo enraizamento em clichês neste momento.
Ainda assim, o longa, que, independe dos problemas, traz uma sensação reconfortante ao telespectador – a sensação de que existe a possibilidade de encontrar a felicidade nas pequenas coisas cotidianas.
Ficha técnica:
Direção: Pawo Choyning Dorji
Elenco: Sherab Dorji, Ugyen Norbu Lhendup, Kelden Lhamo Gurung, Pem Zam e Sangay Lham
Classificação Indicativa: 14 anos
Gênero: Drama
Duração: 110 minutos.
Origem: Butão/China
Distribuição: Pandora Filmes
Por Evellyn Paola
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira