Onde Eu Moro: Um emocionante apelo pelo mínimo

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Vindo de carreiras extensas no ramo de documentários, os diretores Jon Shenk e o brasileiro Pedro Kos recebem sua primeira indicação à premiação da Academia por Onde Eu Moro. Enquanto o diretor norte americano é conhecido majoritariamente por sua atuação como cinematógrafo em peças documentais, Pedro Kos é creditado principalmente como editor, o que lhe rendeu um Emmy em 2014.

Assista ao trailer oficial:

O aumento exponencial da quantidade de pessoas em situação de sem-abrigo na costa oeste dos Estados Unidos nos últimos cinco anos chamou a atenção de entidades públicas e governamentais, o que levou ao decreto de Estado de Emergência em relação ao desabrigo em cidades como Los Angeles, São Francisco e Seattle. 

Onde Eu Moro relata o dia a dia de algumas pessoas em situação de sem-abrigo e suas lutas pela conquista de melhores qualidades de vida e moradia enquanto precisam lidar com as inúmeras dificuldades decorrentes dessa condição.

Atmosfera

A experiência de Jon Shenk com cinematografia se faz perceptível em Onde Eu Moro. O uso de drones para planos aéreos mostra, em primeira instância, o aspecto higienizado e limpo dessas cidades, como normalmente são representadas no cinema. Logo em seguida, o mesmo drone é utilizado para longos planos aéreos mais próximos do chão que exibem ruas completamente cobertas por barracas e abrigos improvisados, de forma a apresentar, gradualmente, o contraste entre realidades.

Cartaz de divulgação do filme (Imagem: Divulgação/Netflix)

A paleta de cores, puxada para tons frios, aliada à trilha sonora levada por acordes tímidos e intimistas, cria um ambiente melancólico e inóspito, que estimula a reflexão a respeito das condições desumanas às quais aquelas pessoas estão submetidas. A música “Midnight” – Coldplay, ressalta ainda mais essa atmosfera solitária, com sua letra que diz “deixe uma luz, uma luz ligada”, relacionando a busca por uma “luz guia” com a busca por uma vida nova e longe das ruas.

No chão

A obra aborda histórias de pessoas que chegaram à situação de sem abrigo por motivos diversos e é hábil em fazer o espectador se solidarizar com cada uma delas. Muitas situações relatadas estimulam o questionamento a respeito da possibilidade e do absurdo de um ser humano ser submetido a tal.

O curta chama atenção para a condição de vulnerabilidade resultante da situação de sem-abrigo. Camadas de abuso moral e físico estão presentes em quase todos os relatos, enquanto a falta de apoio governamental unido a políticas sociais higienistas dificulta a obtenção de ajuda por parte dessas pessoas. Muitas delas acabam se vendo em constante trânsito entre a situação de desabrigo e lares cujos aluguéis são inviáveis considerando sua renda.

Barracas coloridas em contraste à cidade preta e branca (Imagem: Divulgação/Netflix)

Mais que uma casa, um lar

No idioma original, o título “Lead Me Home” poderia ser traduzido, de forma literal, como “Me Leve ao Lar”. A diferença entre “casa” e “lar” é reforçada indiretamente durante todo o filme. O segundo vai além do espaço físico, envolve o conforto e a sensação de pertencimento, que são algumas das maiores necessidades mostradas. Dessa forma, a obra reforça que a busca desses indivíduos é por algo além de um abrigo. O que se almeja são condições de vida humanas e estáveis, ser visto novamente como cidadão.

Percepções

Onde Eu Moro pinta um retrato da desigualdade social americana e de como esse problema é negligenciado pelo governo e pela sociedade como um todo. Os planos de câmera que desafiam qualquer orçamento de obra documental enriquecem a beleza do curta ao mesmo tempo que cumprem a função de ressaltar o contraste entre realidades. O destaque visual dado à construção de vários edifícios com anúncios de “aluga-se” mostra que o problema não está na falta de espaço físico para suprir a demanda de residências, mas sim no foco em aumentar receitas em detrimento de necessidades humanas básicas. 

O curta traz o espectador para perto das personalidades retratadas, humanizando-as e gerando identificação. Os problemas enfrentados são relacionáveis e reforçam a ideia da situação de sem-abrigo como uma condição temporária e que não define quem a enfrenta. 

Ao não construir uma perspectiva de resolução do problema, o documentário mantém, no espectador, o sentimento de preocupação e de empatia, que são encontrados pela oportunidade de tomar ação no site leadmehomefilm.com, oferecido pelo filme. Dessa forma, a obra sucede em promover reflexão e deixar uma impressão marcante no pensamento de quem a contempla. 

Ficha Técnica:

Direção: Pedro Kos, Jon Shenk

Gênero: Curta-metragem e documentário

Duração: 40 minutos

Classificação Indicativa: 13 anos

Origem: Estados Unidos

Distribuição: Netflix

Por Henrique Fregonasse

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