O Chefe da força-tarefa que conduz a Operação Lava Jato e procurador do Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol, lamentou, em palestra para universitários em Brasília, o fato do sistema penal brasileiro facilitar a impunidade principalmente em crimes que envolvem corrupção. Segundo ele, a conformidade do brasileiro ao dizer que vive em uma cultura corrupta dificulta a mudança dessa realidade. “Tragicamente, nós criamos um país em que frequentemente o crime compensa”, reiterou Dallagnol.
Porém, o procurador acredita que é possível enfrentar a corrupção desde que o passado histórico brasileiro não seja usado como desculpa. “Precisamos de um direito penal moderado, minimamente sério para desempenhar o papel de punição”, afirma Dallagnol.
Segundo ele, até o momento, os resultados da corrupção impune têm refletido na história de crianças com câncer que não podem ser tratadas pelo fato de a unidade de atendimento mais próxima estar a mais de 900 km de casa, ou de um pai que perdeu toda a família em acidente causado por buracos na estrada – todas consequências da má administração que busca dinheiro fácil sem servir a população.
Cinismo
No entanto, mesmo diante de um cenário aparentemente desanimador, o procurador vê em ações como a do Mensalão (Ação Penal 470) e a Operação Lava Jato, o pontapé inicial para a mudança do cenário brasileiro. “A Lava Jato pode ser um ponto de apoio para colocar alavancas de mudança [na cultura da corrupção]. Ela quebra o cinismo que faz [o brasileiro] acreditar que o país não tem mais jeito”, destaca Dallagnol.
Contudo, o procurador ressalta que a operação não deve ser encarada como algo que resolverá o problema da corrupção no país. “É como se fosse um câncer”, compara ao explicar que enquanto um problema é tratados outros surgem. Por isso, convida os ouvintes a deixar de se apoiar na cultura em que o mais esperto é colocado em posições mais favoráveis do que aqueles de conduta correta e tomar atitudes de mudança.
Por Aline do Valle