Festival: “assédio contra mulher não tem cor ou classe”, diz diretora de filme

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A estreia do filme “Precisamos falar do assédio”, no 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, na noite de quarta no Cine Brasília, provocou manifestações por direito das mulheres e protestos contra o governo (o que já havia ocorrido na primeira noite). O filme, que emocionou por 80 minutos espectadores do cinema, mostra 26 relatos de mulheres de 14 a 84 anos sobre suas situações de assédio. “É impressionante como o assédio contra mulher não tem cor, não tem classe social, não tem bairro. Não é mais violento porque é na periferia, ou num beco escuro com um desconhecido. Às vezes é o pai, dentro de casa, em um prédio em Copacabana”, disse a diretora do filme, Paula Sacchetta, para a Agência de Notícias UniCEUB.

 

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Paula Sacchetta, diretora do filme “Precisamos falar sobre assédio”, explicou que selecionou entrevistadas em São Paulo e Rio

A inspiração da diretora, Paula Sacchetta, surgiu após a visualização dos movimentos feministas nas redes sociais no fim do ano passado. As hashtags “#meuprimeiroassedio” e “#meuamigosecreto”, fizeram Paula relembrar situações pessoais, além de ler relatos de pessoas próximas. “Quando eu vi, até minha mãe tinha postado também. Então dentro da produtora, notamos que toda mulher tem uma história para contar”.

“Não queríamos contar só os casos de estupro, queríamos contar todos os tipos de assédio. Do estupro dentro de casa ao assédio no metrô.”

Para aumentar o engajamento nas redes sociais, a diretora decidiu fazer um filme com cara de campanha, constituído por depoimentos feitos por mulheres dentro de um estúdio móvel em uma van. As vítimas, após os desabafos, recebiam apoio de funcionárias das secretarias municipais a fim de encaminha-las para os serviços necessários, como psicólogos ou delegacias.

As coletas dos testemunhos foram feitas exclusivamente nas capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo, em bairros nobres e periferia. A diretora lamentou a falta de representatividade de outros estados, mas que pelo baixo orçamento teve que se manter nas duas cidades.

Independente disso, Paula Sacchetta concluiu que não há padrão entre os depoimentos. Apenas ser mulher já significa estar vulnerável a assédios  De acordo com ela, houve muita discussão acerca do nome “Precisamos falar do assédio”, que foi escolhido de forma que pudesse ser usado como uma hashtag para extensão dos depoimentos.

Mimimi

O longa emocionou o público em sua estreia. Com um tema cada vez mais pautado em manifestações e redes sociais, foi feito para aqueles que ainda acreditam que a culpa de um assédio é da vítima. A diretora finalizou dizendo que denunciar o que acontece, já é um grande passo. “Acima de tudo nós temos que falar cada vez mais e mostrar que vamos aceitar cada vez menos. (…)Se você acha que é mimimi e que não existe cultura de estupro, senta aí e assiste.”

O estudante, Jean Felipe, 19, se emocionou ao assistir os relatos, além de se declarar esperançoso sobre as possíveis mudanças que o filme pode trazer. “Assistir uma hora e vinte minutos de coisas diferentes, onde todas elas sofreram assédio, é de abrir os olhos. Você fica muito mal e, com o tempo percebe que é porque todas essas pessoas se dispuseram a falar sobre o assunto”.

Para a diretora e professora de cinema Márcia Nunes, o filme tem um grande papel social de denúncia e socioeducação, “Nós temos uma sociedade estragada. Você pensa que tem individualismo, mas não tem. No metrô o cara te come com os olhos. Eu sou uma senhora e eu também sou assediada. Eu acho que esse filme é necessário. É um filme que provoca, é uma possibilidade para que a gente consiga revolucionar alguma coisa”.

Ainda completou, “Me toca muito a coragem das depoentes têm de verbalizar uma dor muito grande que elas guardam no coração e na memória delas, de uma experiência que elas não buscaram, elas não foram atrás disso”.

A produtora de “Precisamos falar do assédio” está captando verba para disponibilizar sessões gratuitas nas cidades. Qualquer mulher que quiser participar do projeto pode enviar o seu vídeo para o site do longa-metragem, que disponibiliza na íntegra os outros 114 depoimentos não exibidos no filme.

 

Manifestações
Um grupo do “Fórum de mulheres do Distrito Federal e entorno” esteve manifestando entre as sessões dos filmes contra o governo, em defesa do estado laico e à favor da legalização do aborto.

Entre gritos de “Fora Temer”, uma das fundadoras do Fórum, que existe desde 1986, Ana Liezi, 70, explicou, “O fórum é um espaço que reúne coletivos de todos os posicionamentos. Há pensamentos diversos, mas o que temos em comum é a luta pelo direito das mulheres”.

“Os filmes que estão passando hoje trazem a temática da violência que as mulheres sofrem cotidianamente. Entendemos que seria um espaço importante pra trazer nossa manifestação. Colocar o posicionamento que nós estamos colocando nas ruas e nas redes”, explicou Viviane Cristina Pinto, 32.

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Mulheres manifestam entre sessões do 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Por Beatriz Castilho e Isabella Cavalcante

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