A última gota de dor reitera a fraqueza dos oprimidos. São galões vazios e panelas malcheirosas a óleo eternamente. A sombra é pouca, tão escassa quanto os alimentos — próximo da L4, nas imediações da Universidade de Brasília (UnB). Entretanto, no contraste provocado pelas árvores tampando o sol, maior ainda é a desgraça na qual sobrevivem. A perseverança é ocasionada pela fragilidade do dia a dia, em que a subsistência oscilante sai às ruas por migalhas, oferecendo um dia a mais de vida para cada corpo magro e resistente às queimaduras solares. “Meu sonho é tomar banho em um chuveiro de novo.” E a gota se solta da nuvem, desce vagarosamente…
Era como se fosse um dia completamente cinza mórbido, tal qual a relativa liberdade dos moradores — embora fizesse bastante sol. Bem próximo à UnB e a algumas embaixadas na Asa Norte, existe uma pequena comunidade fincada na terra por barracões de plásticos negros, muito parecidos com sacos de lixo. A estrutura normalmente são pedaços de madeira que dão resistência aos plásticos bem esticados. Há duas possibilidades para conseguir as lonas: a primeira é encontrar em algum lixo ou perto de construções — sobra muito material em condições de uso; a segunda é juntar um dinheirinho e comprar em lojas específicas. Cada família vive em um barracão, geralmente com o espaço delimitado para no máximo dois colchões de solteiro. Há sete barracões na parte principal da comunidade. Um pouco mais para baixo, descendo a rua, há mais um. Aproximadamente 20 pessoas vivem na comunidade.
Por Vitor Albuquerque