Mesmo com BRT, brasilienses vivem epopeia de transporte

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“Estações fantasmas” fazem com que trabalhadores recorram a longa caminhada ou transportes piratas

Reginaldo no caminho para o trabalho/Foto: Gabriel Dias

governo do Distrito Federal entregou em 2014 o Bus Rapid Transit (BRT), como uma das obras do pacote da Copa do Mundo. Hoje, apenas seis das 19 estações do projeto original funcionam normalmente. As do Park Way foram finalizadas, mas não estão em uso, causando transtornos para quem necessita parar naqueles pontos.

Vargem Bonita, SMPW Quadra 26, Granja do Ipê e Catetinho formam essas estações que, mesmo prontas, continuam interditadas. Reginaldo Epaminondas, de 54 anos, é jardineiro no Park Way e caminha cerca de 2 km a mais para chegar ao trabalho. O ônibus que Reginaldo utiliza passa direto pela estação Vargem Bonita, a qual ele desceria se estivesse funcionando. O jardineiro tem que desembarcar na estação Park Way e andar por um caminho onde boa parte é terra, e carros em alta velocidade percorrem ao lado. “A melhoria que eles dão para nós é essa aqui, pagar passagem e andar a pé”, lamentou.

Estação Vargem Bonita/ Foto: Gabriel Dias

Essa não é uma rotina exclusiva de Reginaldo Epaminondas. Muitos trabalhadores caminham uma longa distância entre a única estação que para perto do Park Way e respectivos destinos. “Eu tenho que andar meia hora, por que não tem um ônibus aqui. Era pra ter, não é?” diz a empregada doméstica, Maria Rufino. Ela conta que consegue carona, mas nem sempre acontece. “Na volta que é ruim, porque a gente tá cansada. Quando acha um filho de Deus que dá uma carona, tudo bem, mas quando não acha, a gente cansa muito” descreve Maria. O jardineiro, Antônio Bezerra, também conta que o BRT para longe da quadra 26, local de trabalho dele. “Eu desço na floricultura e ando praticamente 40 minutos, não sei a distância, mas dá uns 3 ou 4 quilômetros”.

“Na volta que é ruim, porque a gente tá cansada. Quando acha um filho de Deus que dá uma carona, tudo bem, mas quando não acha, a gente cansa muito”, conta Maria Rufino.

 

O subsecretário de Mobilidade, Denis Soares, afirma que o funcionamento das estações está impedido por questões relativas aos contratos para vigilância e limpeza. “Nós tivemos uma descontinuidade no processo de manutenção e segurança das estações, por tanto, para manter a qualidade e a segurança da operação, a gente não pôde abrir para o público”, justifica. Ainda segundo o subsecretário, as estações não têm uma data para começarem a funcionar, mas a previsão é que o governo entregue as que já estão prontas nos próximos meses.

Com as estações no Park Way interditadas e a falta de transporte interno do bairro, muitos motoristas aproveitam para fazer transporte pirata e moto táxi com passagens à R$ 6. Alguns trabalhadores utilizam o serviço pela falta de opção e se arriscam em carros desconhecidos e sem legalidade. Em nota, a secretaria de Mobilidade diz que, com o auxilio dos órgãos de trânsito e de segurança pública do DF, realiza o combate ao transporte irregular desde abril deste ano. A multa pode chegar a RS 5 mil. O DFTrans afirma que existem linhas que circulam dentro do Park Way, e que, se horários e itinerários não forem cumpridos, o usuário pode registrar uma ocorrência no 162.

ABANDONO

A estação da Candangolândia não chegou a ser terminada, apesar de ela fazer parte do projeto original, o sistema BRT nem passa por perto e a estação está abandonada. Alguns moradores de rua se abrigam por lá, eles dividem o local com ratos e sujeira da construção que não foi acabada. O sistema tinha como projeto original fazer 19 estações, ligando o Gama, Santa Maria, Rodoviária do Plano Piloto e a Estação Asa Sul. Mas foram concluídos apenas 10. Sendo que, por falta de planejamento, quatro delas se tornaram estações fantasmas. Segundo o DFTrans, estão operando hoje apenas seis (Terminal BRT Santa Maria, Terminal BRT Gama, Santos Dumont, Periquito, CAUB, e Park Way). Em nota, a secretária de Mobilidade afirma que já foram investidos mais de R$ 720 milhões no Expresso Sul. Há ainda R$ 230 milhões destinados para a conclusão dos trechos 3 e 4 (acrescentar o local em que chega). O subsecretário estima que até o final do ano, a licitação para iniciarem as obras da ligação entre o que já foi construído até o terminal Asa Sul fique pronta.

Projeto inicial do BRT Divulgação — site Redecol Brasil
A estação está abandonada no meio da EPIA — Foto: Gabriel Dias
A estação não teve acabamento nas partes internas e externas — Foto: Gabriel Dias
Restos de obra e abandono são visíveis na estação — Foto: Gabriel Dias

Texto e fotos: Gabriel Dias, do Esquina On-line

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