Músicos no Distrito Federal passaram a investir mais nos videoclipes por conta da divulgação em mídias alternativas, como o Youtube, Vimeo e Facebook. A evolução das mídias fez com que artistas passassem a se preocupar mais com o audiovisual, já que a única oportunidade de divulgação antes era por programas de TV. Para eles, trata-se de uma nova forma de trabalhar a experiência sensitiva de suas produções com videoclipes que são, na realidade, uma variação da linguagem do cinema. Ao explorar aspectos cinematográficos em suas composições com narrativas mais curtas, os clipes ganham mais espaço para a exploração do aspecto técnico visual e de passeios psicológicos em personagens superficiais. Inclusive, 16 videoclipes vão participar no Curta Brasília, que começa no dia 15.
Segundo o diretor de cinema Caio Cortonesi, nesses produtos tenta-se dar uma dimensão visual para uma música que já existe e isso pode ser feito de diversas maneiras. “Você pode explorar o aspecto técnico, os aspectos visuais, etc. Cada caso é um caso.” Para Cortonesi, fotógrafos e pessoas ligadas à parte técnica são essenciais para trabalhar em clipes e aprofundar mais a liberdade de atuação na parte técnica.
“São variações da mesma linguagem”, Caio Cortonesi
Confira entrevista com o diretor de cinema, Caio Cortonesi:
Caio acrescenta alguns dos detalhes que se podem notar nos videoclipes e não no cinema, como por exemplo, a questão do tempo de duração do vídeo, nos clipes muito curta e nos filmes, maior. Isso traz uma maior possibilidade de experimentação aos videoclipes para se trabalhar conceitos, enquanto no cinema, tem-se que respeitar uma história, uma narrativa concreta e coesa, com começo, meio e fim. “No cinema, há toda uma preocupação de contar uma história coesa. Tem que fazer começo, meio e fim e levar a pessoa para passear por uma estrutura, por uma história que faça um certo sentido”, afirma o diretor.
“No clipe, a música é a ferramente para contar uma história, no filme, a história que é a ferramente”, Caio Cortonesi

A banda de rock brasiliense Etno entende bem do assunto cinema e videoclipe. O baterista da banda, Tiago Palma, dirigiu o videoclipe de animação gráfica, “Diário da Morte”, que está concorrendo na categoria que avalia videoclipes do Festival Curta Brasília. Ele conta que a fotografia cinematográfica, os tipos de planos e o efeito dramático são inspirados no cinema a fim de trazer um sentimento “épico” para a música e para o clipe. “Foi uma forma que a gente encontrou de mostrar a temática e a estética com a técnica da animação”, afirmou o músico.
“Um filme tem um tempo maior para trabalhar os elementos característicos de um personagem, no clipe, a gente tenta explorar mais as características psicológicas do personagem já que o tempo é menor”, explica o vocalista da banda, Tiago Freitas, e acrescenta que o clipe “Diário da morte” é uma caminhada dentro do interior da protagonista.
Os integrantes da Etno acreditam que explorar novos horizontes artísticos como o cinema pode trazer grandes retornos, como a boa repercussão do trabalho.
“Quando um artista se propõe a fazer algo que ele nunca fez, sempre tem uma chance de alcançar um resultado bacana”, Iano Fazio (baixo e vocal)
Assista abaixo o vídeo da entrevista com a banda Etno:
Acessibilidade
Não são somente os diretores e os músicos que acreditam no videoclipe como linguagem cinematográfica. O Festival Curta Brasília faz duas mostras competitivas, além de curtas metragens, também irá avaliar e premiar videoclipes. “Nós acreditamos muito nesse eixo clipe e cinema”, declara a idealizadora do festival, Ana Arruda.
Assista também entrevista com a idealizadora do Festival Curta brasília, Ana Arruda:
Para a organizadora do evento, o videoclipe é muito mais do que apenas a promoção da banda e sim uma experiência sinestésica. Ela conta que o festival trouxe filmes para uma comunidade de surdos e perceberam que os deficientes auditivos permaneceram para a exibição dos videoclipes. “Eles tem a sensibilidade corporal, eles viram a música traduzida em imagens. O som amplificado que eles sentem pelo corpo”, conta.
“O videoclipe é cinema”, Ana Arruda
No sentido de trazer o som mesclado com imagens levando a história de uma música para a imagem visual em que se explora o som e a técnica, o videoclipe é cinema, segundo Ana.
Matéria por Bruno Santa Rita
Arte porRebeca Santos
Edição de vídeo: Bruno Santa Rita e Gabriel Lima