A elite brasileira ainda se incomoda com a imagem e o legado do ex-presidente João Goulart, que morreu há 40 anos. Essa é a opinião de João Vicente Goulart, filho de Jango, autor do livro “Jango e Eu”, lançado neste mês. Para ele, o momento político no Brasil hoje é semelhante à época do golpe de 1964 que instaurou a ditadura no país por 21 anos. Ele também destaca que a intolerância política, algo “que Jango contestava”, faz parte do momento da sociedade brasileira.
“Eu sempre digo que as semelhanças são muitas e os autores quase idênticos. O que mudou foi o modus operandi”.
João Vicente Goulart, apesar de criança, lembra-se com nitidez afetuosa daqueles momentos. Da posse como presidente em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros, passando pela agonia do golpe até os últimos dias de vida. Jango governou até o dia 1º de abril, quando o Congresso Nacional declarou a vacância da presidência. Era o início do golpe militar de 1964. Para ele, essa é uma das semelhanças com os anos de hoje. “Hoje, nós tivemos uma manobra golpista através de subterfúgios judiciais, apoiados por um congresso altamente comprometido, assim como o de 64. Naquele ano, o congresso tinha quase 200 parlamentares, financiados pela CIA, e declararam vaga a presidência”, disse. Ele acentua que a produção de filmetes contra o governo João Goulart, diariamente, mexeu com a opinião pública.
“Quis o destino que ele se tornasse o único presidente constitucional desse país a morrer no exílio, pela democracia. Até hoje estamos falando dele, ao contrário dos ditadores”.
13º, criado por Jango, ameaçado
Vicente afirma que, hoje, medidas sociais do presidente não foram deixadas de lado ao longo desses anos. Ele indica que elas estão sendo implantadas. “O que nós vemos hoje é que estão querendo retirar os benefícios já adquiridos desse sofrido povo brasileiro em benefício pessoal, em beneficio das elites. O décimo terceiro, por exemplo, foi aprovado no governo de Jango, depois de muita luta”.
“Este livro, antes de mais nada, é um tributo”
O livro lançado por ele, “Jango e eu – Memórias de um exílio sem volta”, é um tributo ao pai e conta a história da família nos dias do exílio, e foge um pouco da política. “Ele conta o dia a dia desde o ponto de vista político até o ponto de vista pessoal, de uma família que se torna ave migratória devido as passagens de país para país porque as ditaduras iam se sucedendo e a perseguição àqueles que acreditam na democracia se reduziam dia a dia”.
Ele acrescenta que a visão do pai a respeito do golpe era de quartelada, como outras que o Brasil já tinha sofrido. “Após algum tempo, se dá conta de que é uma ditadura feroz, dirigida por uma política do departamento de estado americano, que buscava derrubar todas as democracias latino-americanas.” disse. Na lembrança do filho, os dias se transformaram em pesadelo. “Foi um homem que outorgou vários direitos reclamados pelos trabalhadores estavam sendo subjugados pela ditadura feroz imposta pelas armas contra a vontade do povo brasileiro”, completou.
Apesar de ter começado a escrever o livro quatro anos atrás, o lançamento nessa data foi programado em virtude dos 40 anos da morte de Jango e também porque considerou o momento propício. “Nós chegamos à conclusão de que seria um bom momento. A intenção é que as novas gerações conhecessem a parte humana do presidente João Goulart”, pontuou. Ele classifica a obra como um romance. “É um livro de memórias. Eu tinha a necessidade de contar esse dia a dia de saudade, de luta, de sacrifício e de resistência que tivemos no exílio”.
Por Gabriel Lima