No DF, há 5 vezes mais famílias aptas para adoção do que crianças à espera de um lar

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Raquel Nunes, 42 anos, com seu filho adotivo Marcelo . Créditos/foto: Arquivo pessoal

No Distrito Federal, 107 crianças e adolescentes esperam por um lar. São quinhentas e quarenta e três famílias habilitadas para adoção, mas 94% delas querem filhos com idade máxima de 2 anos, saudáveis e meninas. Padrões que interferem na possibilidade dos mais velhos também serem acolhidos e começarem uma nova vida.

Além dos estereótipos, há dificuldade para quem tem irmãos. Só um grupo de até duas crianças ou adolescentes conseguem ser adotados. Apesar das exigências, aos poucos as barreiras têm sido rompidas como a história da servidora pública Raquel Nunes, 42 anos. O desejo sempre foi ser “mãe de barriga e coração”. Por isso, em 2008, Raquel adotou Marcelo Nunes quando ele tinha 5 meses. Hoje com 8 anos, ele é irmão mais novo da filha mais velha da servidora pública, Luísa Nunes, 14 anos, e da Letícia, 10 anos.

Após ser adotado, Marcelo recebeu o diagnóstico no Hospital Sara Kubitscheck de paralisia cerebral. Os médicos disseram que ele teria dificuldades de falar e andar. Apesar das limitações, o garoto é um menino saudável. Negro, nunca sofreu preconceito. Durante o processo de adoção, a única demora, segundo a mãe, foi na hora de registrar Marcelo no cartório. “Foram quase quatro anos de espera que gerou medo e insegurança”, relatou.

Outra mãe que também ganhou um filho adotivo foi Wanda de Lourdes, 52 anos. Após sucessivas tentativas de uma reprodução assistida com o marido, o casal decidiu acolher João Felipe da Conceição, hoje com 4 anos. O único desejo da família era de que a criança fosse saudável, independente do sexo. Wanda e o marido querem aumentar a família. Por isso, estão, novamente, na fila de adoção. A pedido do filho, eles querem uma irmã mais nova para João Felipe.  Wanda questiona que alguns processos são demorados e que, A com ajuda de mais profissionais na área, poderia adiantar o procedimento.

Sensibilização

O supervisor da Vara da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (VIJ/TJDFT), Walter Gomes, explicou que, aos poucos, tem conseguido inverter os padrões exigidos pela família. Aumentou o número de crianças adotadas entre 6 a 10 anos e pais e mães estão sendo sensibilizadas para compreender o exercício de parentalidade.

No procedimento psicossociopedagógico são mostrados casos de famílias que adotaram crianças e adolescentes para motivar os novos pretendentes a sair do padrão. “Não é obrigatoriamente experimentar todas as fases da criança para ser pai ou mãe. É mostrar que a família pode começar a ter experiência de ser mãe e pai em qualquer momento da vida do adotando, seja em qualquer idade”, esclareceu.

O perfil de famílias, pais ou mães com desejo de adotar são diversificados. Há  candidatos que já têm filhos adotivos ou biológicos, casais heterossexuais e homoafetivos, solteiros, viúvos e divorciados. Para Walter, o cadastro de pretendentes à adoção reflete uma rica pluralidade sociocultural.

Demora

Apesar dos resultados, adotantes se queixam da demora no processo. Walter, no entanto, justifica que a morosidade é em razão das exigências dos padrões pela família e não pela democracia. “Cada caso é um. Em algumas situações pode ser que demore pelas condições em que se encontra o adotado”, explicou.

Segundo ele, a demora, em alguns casos, pode prejudicar a criança ou adolescente quando estes estão sob a proteção do Estado. “É em razão de questões na família biológica em que o governo tenta, de todas as formas, solucionar. Caso não se resolva, a criança passa a ser cadastrada para o processo de adoção”, informou.
Enquanto não se conclui o processo de adoção, a família pode desistir de acolher a criança ou o adolescente. Mas, quando a etapa é concluída, os pais adotivos já não podem mais recusar a adoção. Walter explicou que, caso isso ocorra, configura tentativa de abandono de incapaz. “Nesse momento, o pai, legitimamente, assume os riscos como todo pai e mãe”, destacou.

Na visão da psicóloga Viviane Legnani, o profissional tem a missão de identificar se o adotando apresenta duas funções: a de cuidar e a de dar limites. E os desafios são a de fazer a análise dos candidatos. “É preciso ter cuidado para não ter avaliações mal feitas para que não aconteça um desastre”, explicou.

Por Beatriz Souza

Arte de Gabriela Vital

Sob supervisão da professora Isa Stacciarini

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