Conheça histórias de recuperação após o derrame cerebral

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Maria Sônia de Souza Carvalho conseguiu recuperar os movimentos após o AVC. Crédito: Arquivo pessoal/Divulgação

Ao acordar no dia 28 de novembro de 2006, que deveria ser uma terça-feira comum, Maria Sônia de Souza Carvalho, então com 26 anos, moradora de Barreiras, na Bahia, percebeu que algo estava errado. Ao tentar se levantar, notou que não tinha sensações nas pernas, dor, nem dormência. Ela não se sentia tonta, mas caiu diversas vezes ao tentar ir ao banheiro. O corpo não respondia aos comandos. Sônia ainda não sabia, mas ela tinha tido um AVC enquanto dormia.

Um Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente chamado de derrame, pode ser definido como um sintoma neurológico súbito decorrente de um problema na circulação sanguínea em determinada parte cerebral. Existem dois tipos: o isquêmico, que ocorre por obstrução da artéria e é causado na maioria das vezes por hipertensão, dislipidemia, diabetes e arritmia cardíaca; e o hemorrágico, que é o rompimento de vasos sanguíneos, consequência na maioria das vezes da hipertensão. As pessoas com mais riscos de terem um derrame são as idosas ou que possuem hipertensão, diabetes mellitus, problemas de colesterol, doenças cardíacas, obesidade ou fumantes.

O derrame de Sônia foi causado por uma má-formação incomum do coração chamada Forame Oval Patente. Essa condição é uma cardiopatia congênita, causada por uma abertura na parede que separa o átrio esquerdo e o átrio direito do coração. Todas as pessoas nascem com essa abertura no coração, mas ela se fecha naturalmente ao longo da vida. Entretanto, em até 34% das pessoas essa abertura se mantém, segundo a neurologista vascular Márcia Silva Santos Neiva, o que permite a criação de coágulos que podem causar fenômenos embólicos, como o AVC.

Sônia precisou de fisioterapia para recuperar o funcionamento de mãos e pés e hoje leva uma vida tranquila, sem dificuldades causadas pelo derrame. Mas  esse não é o caso de Elisete Consuelo Ferreira.

Elisete Consuelo Ferreira teve AVC aos 46 anos. Crédito: Arquivo pessoal/Divulgação

Aos 46 anos ela sentiu dormência nos braços e perdeu a percepção dos arredores. Precisou realizar duas cirurgias no Hospital de Base de Brasília. O AVC dela foi causado por uma Malformação Arteriovenosa (MAV) que é uma comunicação direta entre uma artéria e uma veia, sem haver uma formação de rede de capilares para diminuir a pressão do sangue, causando o estouramento da veia que não estava preparada para receber tanta pressão arterial. Elisete fez fisioterapia para reabilitar os membros esquerdos, braço e perna, mas nunca recuperou totalmente os movimentos.

A neurologista Márcia explica que as consequências de um AVC variam de acordo com a área em que houve parada de circulação de sangue. “Elas podem oscilar em alteração da força e sensibilidade em um dos lados ou da face, dificuldade em falar, confusão mental, tontura, desequilíbrio e alterações da visão. Estes sintomas podem permanecer como sequelas ou reverter-se parcial ou totalmente a depender de inúmeros fatores”, esclareceu.

Segundo ela, 17 milhões de pessoas têm AVC por ano no mundo todo, sendo que desses, 6,5 milhões morrem e 26 milhões vivem com incapacidade permanente. No Brasil,  a taxa de incidência por ano é de 108 casos por 100 mil habitantes, aproximadamente 68 mil casos por ano. A taxa de mortalidade do AVC está entre 14 e 20%, dependendo da área geográfica, sendo a segunda maior causa de mortes no Brasil.

Os sinais de um AVC

A Escala de Cincinnati foi desenvolvida para que se possa identificar os sinais de um AVC de maneira simples e, assim, procurar atendimento médico imediatamente ou acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), pelo telefone 192.

A neurologista Márcia explica: “Primeiramente, pedimos à pessoa que sorria e observamos se os lábios se desviam para um dos lados. Em seguida, solicitamos para que  tente dar um abraço e notamos se os braços se movimentam menos ou não se movimentam. Finalmente, ela deve cantar uma música ou dizer uma frase e deve-se prestar atenção se há alguma dificuldade de articular a fala. Em qualquer um desses casos deve-se chamar imediatamente a assistência médica.”

Crédito: Marcela Ribeiro/Agência de Notícias UniCEUB

Segundo a médica, o atendimento especializado em unidade de AVC aumenta a chance de boa recuperação em 14%. O tratamento trombolítico (medicação que pode ser feita nas primeiras quatro horas dos sintomas) aumenta a chances de boa evolução em até 30% e a trombectomia mecânica  (tratamento em que há a retirada do trombo via cateterismo) aumenta as chances de independência em mais de 50%.

 Hoje, Sônia come menos sal para manter a pressão estável e faz caminhadas. Elisete não movimenta completamente o lado esquerdo do corpo e terminou a faculdade de turismo. A reabilitação de um AVC é um processo demorado e que necessita de determinação e acompanhamento médico, mas médicos alertam ser uma meta alcançável.

Existem sete centros especializados em tratamento de AVC em Brasília, segundo a ONG Rede Brasil AVC. São eles:

  • Hospital Brasília
  • Hospital Santa Lúcia
  • Hospital Santa Luzia
  • Hospital de Base de Brasília
  • Hospital Regional do Gama
  • Hospital Regional de Sobradinho
  • Hospital Regional de Taguatinga

 

Por Giovanna Inoue

Sob supervisão de Isa Stacciarini

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