Jazz é ritmo “sofisticado e seleto”. Para contrariar essa ideia, músicos brasilienses têm tentado organizar eventos mais informais. O gênero musical se espalha por novos espaços de Brasília e mostra as caras em ambientes públicos. Cangas estendidas, vinho servido e a música começa. Um dos exemplos é o “Buraco do Jazz”, que acontece desde junho do ano passado. A ideia é iniciativa que democratiza a música e leva de graça cultura e entretenimento para o público.
Produzido por Gustavo Frad, os eventos de jazz surgiram da falta de espaços para esse tipo de evento na cidade e a partir do impulso social das pessoas que demandam acontecimentos culturais. Para ele, uma cidade é o que ela apresenta como atividades e afirma que é o público que faz com que o evento se mantenha. “Não temos verba de nenhum órgão, mas temos um público com poder aquisitivo que pelo poder de compra consegue manter o evento sem cobrança de entrada”, disse.
Apesar do contraste gerado pelo estereótipo do jazz ser um ritmo “sofisticado”, Frad se esforça para mudar esse conceito e trazer o jazz para a rua novamente e entregar ele para o povo. “Há pouco tempo jazz era um estilo de música menos acessível à sociedade”, explica.
Clara Telles começou a sua carreira como cantora aos oito anos de idade, quando começou a cantar em coral infantil. Daí vieram as várias influências do jazz e de outras músicas que fizeram ela se apaixonar pela experimentação e pautar a sua carreira no gênero musical. Para Clara, a importância desse evento é a possibilidade de trazer um evento gratuito ao ar livre direcionado ao povo. “A música é para todos. Ali não tem preconceito, não tem segregação. Qualquer pessoa de qualquer raça, qualquer segmento social, qualquer tipo de pessoa pode estar ali participando daquele momento. Isso pra mim é o essencial da arte: ser livre”, explicou a artista.
O festival culmina em um grande encontro de cultura e de origens. Para ela, a música serve para juntar os músicos ao público. “Tem alguns músicos que a gente nem conhece e acaba descobrindo no festival”, explica. Clara ainda explica que esse tipo de evento já está “enraizado” no Brasil, e adiciona que o cenário do jazz vem crescendo no Brasil. “Todo gênero musical merece o seu espaço, principalmente em uma capital federal”, disse.
A Lei do Silêncio é um empecilho que atrapalha a criação e a expressão cultural, segundo Rosana Loren, outra artista de jazz que toca no Buraco do jazz. Apesar da dificuldade das poucas casas que recebem esse tipo de música e do público seleto, eventos como esse estão trazendo novas possibilidades para o cenário musical do jazz. “Esses eventos estão trazendo uma força e luz para os artistas”, explica Rosana.
Rafael Quaresma, um dos expectadores do evento, tem 27 anos e é servidor público e músico. Ele simpatiza com a ideia do projeto de trazer a música para a rua. “Eu compactuo com a ideologia do evento (Buraco do Jazz) de trazer música para as ruas”, contou. Assim como Rafael, Isvi Freitas, estudante de psicologia de 22 anos lembra da importância desse tipo de evento para impulsionar a música na cidade e acrescenta que isso aumenta a movimentação do comércio.