Projeto social em Ceilândia transforma jovens e adolescentes da comunidade

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Oficinas de teatro e dança, ensino de fotografia e produção audiovisual, estímulo ao empreendedorismo e preparação pré-vestibular. Essas são algumas das atividades ligadas a um projeto social que têm transformado a vida de adolescentes e jovens de 18 a 29 anos em Ceilândia.  Por meio do trabalho voluntário de um grupo na Praça do Cidadão moradores da região têm tido uma nova oportunidade: o acesso a cultura e o estímulo à educação.

O programa é o Jovem de Expressão. Desenvolvido a partir de uma pesquisa que demonstrou a quantidade de adolescentes em condições de violência em 2007, voluntários decidiram resgatá-los e incentivá-los a uma nova vida por meio da arte e dos estudos. É com o apoio da comunidade que o trabalho acontece. A oportunidade do cursinho pré-vestibular, por exemplo, só é possível graças à doação de livros e a participação de professores voluntários.

Nayane Gomes, 19 anos, é ex-aluna de dança e teatro. Hoje ela é terapeuta como voluntária e já foi professora na preparação pré-vestibular. Ela ajuda jovens da periferia a ter empoderamento, capacitando-os a se desenvolverem mesmo diante dos problemas da comunidade. “É fazer com que os jovens possam ter alguém para conversar, tirar dúvidas e ter apoio”, destaca.

Nayane sempre estudou em escola particular, e por isso teve pouco contato com a cidade. No entanto, após o Jovem de Expressão ela passou a ter maior vivência e transformou a visão sobre o lugar. “Esse lugar me mudou. Quero fazer coisas por Ceilândia onde sempre morei e, também, pelos moradores, além de atender as necessidades daqui. É preciso transformar primeiro nossa comunidade e depois o mundo ”, completa.

O programa traz, ainda, acessibilidade que são inviáveis para algumas pessoas, como o acesso a internet e aulas totalmente gratuitas. Além disso, moradores de rua frequentam e usufruem do espaço. Inclusive podem tomar banho, usam o computador, cuidam da higiene pessoal e são incluídos nas programações e atividades sociais.

O projeto envolve tantos os alunos que, de beneficiados, eles passam a ser transformadores. É o caso de Thamires Cursino, 23 anos. Hoje instrutora voluntária de fotografia, ela já foi aluna na mesma atividade. Em meios aos conflitos comuns dos adolescentes pós ensino médio, Thamires encontrou nas aulas uma paixão. A partir do encantamento, decidiu fazer faculdade na área. “O Jovem de Expressão me ajudou em tudo. Vim aqui para decidir o que fazer depois do ensino médio e me apaixonei pela fotografia”, declara.

Moradora de Samambaia, ela, assim como outros alunos, pensam que expandir programas sociais para outras regiões administrativas do DF seria importante para trazer oportunidade a jovens de demais localidades. “Eu acho que devia ter um Jovem de Expressão em todas as cidades, nas comunidades periféricas principalmente. A quebrada é muito excluída, então ela tem que se agregar e se ajudar”, explica.

 

Expansão do programa

 

Representante da Rede Urbana de Ações Socioculturais, uma parceria com o Jovem de Expressão, Antônio de Pádua, 37 anos, explica que utilizam algumas atividades para ocupar os espaços públicos de forma saudável como o Voz Ativa, o festival Elemento e Movimento na Praça do Trabalhador, o sabadão cultural realizado a cada dois meses, com músicas, danças e aberto para todos os públicos, e também a Lecria, um laboratório de empreendimento criativo. Além disso, ajudam de forma financeira jovens interessados em montar eventos que promovem cultura. “Depois do programa (Jovem de Expressão), muitos ingressaram no mercado e buscaram um o ensino superior”, explicou.

No entanto, na visão dele, antes de expandir o projeto é preciso  montar uma sede. Isso porque, o espaço cedido pela administração, onde o programa acontece, ficou pequeno para o desempenho das atividades. Esse é um ponto comum entre voluntários, alunos e ex-alunos. “Pensamos em expandir o programa, mas não apenas de forma física. Pretendemos ter vídeo aulas com parcerias que promovam a cultura e tenha uma pegada parecida com a nossa”, ressalta Antônio.

“Para ficar mais atrativo teria que aumentar o espaço. Ele já está saturado. E vem tanta gente interessada. Nós tentamos agregar todo mundo, mas, infelizmente, não estamos conseguindo pela falta de espaço”, lamenta Thamires.

Para trabalhar as dificuldade, como o choque de cultura e a incompreensão da comunidade com o jovem, o programa encabeça campanhas para tratar do assunto. Em algumas apresentações na Praça do Cidadão já houve debates sobre preconceito e intolerância com o grupo LGBT. Porém, segundo Antônio, ainda existe dificuldade nas apresentações de hip hop. “O hip hop ainda é muito marginalizado. Já teve caso em que a polícia pediu para parar por causa do barulho, mas liberou para uma atividade de igreja evangélica que estava com o som equivalente”, conta.

 

 

Importância

 

Formada em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e doutora e mestre em política social, Camila Potyara defende que os programas sociais são importantes, mas é preciso que eles, primeiramente, busquem o empoderamento e a libertação da comunidade ali inserida. “Eles são importantes desde que sejam claros nos objetivos, tenham o caráter político e visem a emancipação da comunidade ou, ao menos, uma conscientização de classe da população”, explica.

Na visão da pesquisadora, muitas das pessoas que vivem em regiões de vulnerabilidade social são excluídos e inviabilizados. Por isso, na visão dela, um programa social que agrega essa população é importante para que eles se conscientizem dos direitos que têm. “São pessoas que não entendem sua situação e a gravidade, que se vêem sozinhas, não têm representações nem voz. Por isso, ter um programa social que abraça essas pessoas é importante”, complementa.

Por Beatriz Souza (Texto e fotos)

Arte: Gabriela Vital

Sob supervisão da professora Isa Stacciarini

 

 

 

 

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