Dizem que as paredes têm ouvidos. Mas, na arquitetura rústica e simples do lar de Maria Sileide, elas escutavam a vida dos expressivos sorrisos e choros das quatro crianças, na sala. Desde aquele momento, o silêncio tomou conta. A ausência eloquente contagiou a casa. Não foi o mero atravessar da porta pelo amigo de longa data que sufocou o ar da família e ofuscou os desenhos animados das crianças. A mensagem que ele trazia era de que o marido havia cumprido “sua sentença”, como a de um “mal irremediável” descrito em ‘O Auto da Compadecida’, por Ariano Suassuna. Chico Buarque também abordou a situação quando embotou lágrima e cimento à poesia “Construção”. Servente de pedreiro, João Alves da Cruz não sobreviveu após cair de uma altura de cerca de 12 metros. Ele ajudava a erguer, com tijolos, os sonhos dos outros que, meses depois, sentiriam, pela janela, os ares do novo lar (além de uma montanha de prédios à vista). A obra do edifício residencial em Águas Claras, bairro de classe média alta em Brasília, onde o servente jamais imaginaria morar, tornou-se cenário da tragédia que vitimou o pai de família. À época, ele tinha 34 anos. Até então, suava, diariamente, em cada uma das 14 horas de serviço. Era necessário. Aquele esforço mantinha o sustento da família com os R$ 622 mensais.
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Por Lucas Valença
Arte: Camila Fernanda
Edição de vídeo: Henrique Kotnick