Hidrantes vazios em dias de racionamento em regiões administrativas no Distrito Federal ligaram o sinal de alerta para bombeiros. Para tentar sanar o problema e minimizar o risco de ficar sem água em meio a um incêndio, militares passaram a adotar uma nova tecnologia desenvolvida pela própria corporação para otimizar o uso de recursos hídricos: espuma por ar comprimido. Não houve até agora um incêndio em área urbana em grandes proporções graças ao trabalho de prevenção.
Na verdade, os bombeiros não criaram a nova tecnologia por causa desse racionamento. O investimento em pesquisa no projeto “Espuma por ar comprimido no combate a incêndios classe A e B” completou 10 anos. Mas só desde o final do ano passado o sistema foi integrado às viaturas de combate a incêndios urbanos promovendo o uso racional da água, pois um litro de água gera seis litros de espuma.
O presidente da Companhia de Saneamento Ambiental do DF, Maurício Ludovice, informa que realmente, mesmo com o remanejamento da rede para atender situações especiais, não é possível levar água aos hidrantes. Ouça entrevista.
Além da eficácia em segurança, a tecnologia tem fundamento ecológico. Essa espuma por ar comprimido é 100% biodegradável, decompondo-se em menos de 30 dias. A mistura facilita o resfriamento, reduz a poluição atmosférica, uma vez que a espuma impede a liberação de gases tóxicos. A poluição pluvial também é reduzida, porque a espuma se fixa aos materiais, permanecendo sobre o local onde foi utilizada, como explica o coronel George Cajaty Barbosa Braga, coordenador da pesquisa.
As pesquisas também compreendem o bombeiro em ação. Os estudos demonstraram que no combate a um incêndio o calor em torno da máscara contra gases pode chegar a 140º C e internamente a 120º C, como mostra o vídeo produzido durante a testagem.
Sem visibilidade
O coronel George Braga destaca que o equipamento individual usado por um bombeiro no combate a incêndios urbanos pode chegar a 40 quilos, que a temperatura ambiente pode ser em torno de 1.000º C e que a visão é praticamente nula. Testes feitos com câmeras térmicas e comuns mostram a visão que o profissional tem ao entrar num incêndio e o que está acontecendo no ambiente.
A preocupação com o combate aos incêndios e, principalmente quanto à prevenção é diária para os bombeiros, cujo lema é “vidas alheias e riquezas salvar”. Um pisca-pisca de árvore de natal pode provocar um incêndio e consumir um ambiente doméstico em segundos, como mostra experimento feito pelo National Institute of Standards and Technology (NIST/EUA).
Em prontidão
Em novembro de 2016, o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) recebeu cinco caminhões-tanque com capacidade de armazenar 10 mil litros de água cada, para auxiliar no combate a incêndios florestais. Hoje, sem água nos hidrantes, a corporação definiu nova estratégia e esses caminhões são distribuídos diariamente ficando abastecidos e estacionados nas regiões onde há o racionamento.
O CBMDF foi om primeiro colocado na categoria Uso/Manejo Sustentável dos Recursos Naturais do 6º Prêmio A3P, programa do Ministério do Meio Ambiente criado como resposta da administração pública à necessidade de enfrentamento de questões ambientais graves.
O Programa A3P integra o Departamento de Produção e Consumo Sustentáveis (DPCS), que, por sua vez, faz parte da Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental (SAIC) do Ministério do Meio Ambiente.
A pesquisa foi coordenada pelo coronel George Cajaty Barbosa Braga, do CBMDF. Ele é pós-doutor em Tecnologia de Combate a Incêndio pelo National Institute of Standards and Technology (NIST/EUA), doutor em física do Estado Sólido pela Universidade de Brasília (UnB); Mestre em Física de Estado Sólido Experimental e Bacharel em Física ambos pela UnB.
Operação Verde Vivo
A operação Verde Vivo do CBMDF vai até novembro e tem por objetivo o emprego de recursos humanos e materiais de acordo com o aumento gradativo do número de incêndios. O Grupamento de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros já faz sobrevoos para identificação das áreas críticas. Veja a reportagem completa sobre a Operação Verde Vivo.
Por Zilta Marinho
Colaboração de Karina Berardo
Edição de vídeos: Henrique Kotnick
*Sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira