“O jornalista pode ser engraçado, bem humorado, mas não pode esquecer seu papel na sociedade. A programação esportiva da TV aberta se apalhaçou e quase não tem, rigorosamente, nada de importante”. A observação do jornalista Juca Kfouri, que atua em diferentes mídias, coloca em dúvida a credibilidade da cobertura jornalística que se faz nos grandes veículos de comunicação em meio à preparação para os grandes eventos que acontecem no Brasil nos próximos anos. É o que ele chama de “leifertização” (referência ao jornalista Tiago Leifert, da TV Globo, que seria responsável por ter colocado em prática textos bem humorados na programação) do jornalismo.
Confira entrevista
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De acordo com Kfouri, a televisão aberta não é uma grande aliada na cobertura da Copa do Mundo de futebol e das Olimpíadas. Isso porque, existe, por parte das emissoras, “uma confusão entre a compra dos direitos de transmissão dos eventos e uma associação com as entidades que os vendem”. E um dos efeitos práticos, segundo Juca, é a existência de um jornalismo omisso de alguns veículos de imprensa. “Fatos como pessoas sendo expulsas de suas casas para a construção de vias para facilitar a mobilidade urbana estão à margem de boa parte da imprensa. Diversos documentários foram feitos sobre isso, mas pouco se vê nos grandes veículos”, disse.
Outro grande problema apontado por Juca Kfouri é a linha que divide liberdade de imprensa de liberdade de empresa. Para ele, a liberdade de imprensa só existe, de fato, no eixo Rio-São Paulo, onde estão os veículos que podem abordar diversos temas sem se preocuparem com possíveis retaliações. Nas outras regiões e em veículos dependentes de verba pública, esta liberdade de imprensa é tolhida simplesmente pelo fato de não existir, por motivos óbvios, a liberdade da empresa.
“Nada justifica as Olimpíadas”
Kfouri acredita que grandes eventos como as Olimpíadas e a Copa do Mundo são boas oportunidades para governos fazerem um grande anúncio sobre os seus países, apesar de existir o risco de se fazer um mau anúncio. A favor da realização do evento no Brasil, Juca afirmou o Brasil está perdendo a oportunidade de fazer uma Copa brasileira. “Não podemos querer realizar uma Copa do Mundo como na Alemanha ou na Ásia (…). Deveria se pensar em mostrar ao mundo o que nós somos e não o que gostaríamos de ser. É um evento de apenas um mês e vários estádios foram construídos em locais onde não existe futebol de primeira e segunda divisão”, analisou. “Fora que não existia a necessidade de novos estádios no Recife e em São Paulo, por exemplo. Já existem bons estádios que poderiam ser aproveitados na Copa”, completou.
Se por um lado Juca Kfouri concorda com a Copa do Mundo no Brasil, por outro o jornalista é crítico quanto à realização dos jogos olímpicos. “Não há nada que justifique trazer os jogos para o Brasil. Não existe uma política esportiva no país”. Para ele, o evento é a “farra dos empreiteiros e mega patrocinadores”.
Por Lucas Salomão – estudante de jornalismo, repórter da Agência de Notícias UniCEUB