Tornar-se mãe faz com que a rotina da mulher mude. Quando isso acontece na adolescência, as consequências são maiores e fazem com que a gestante sofra com as mudanças. No entanto, essa realidade tem mudado com o apoio de pais que aceitam e acolhem as filhas grávidas. Com o suporte da famílias, elas conseguem adaptar à nova rotina e continuar os estudos.
Um dos exemplos de mães precoces que continuou a rotina de estudos é a aluna de de serviço social Rokléssia Marla Pereira da Silva, 21 anos. Moradora de Ceilândia, ela engravidou de Marjorie Falcão há um ano e sentiu medo de não conseguir lidar com as responsabilidades da maternidade. No início, a jovem enfrentou conflitos familiares. Com dificuldade financeira, recebeu apoio do namorado. O casal está junto até hoje. “Meu maior medo era não conseguir seguir adiante com os estudos, além de não dar conta de lidar psicologicamente e financeiramente com a vida de um bebê. Tive muita sorte quanto a ajuda. A minha turma de faculdade também me ajudou muito quando soube da notícia”, contou.

Letícia de Campos de Queiroz, 19 anos, também se tornou mãe jovem. Ela deu a luz a Noah de Queiroz, 2 anos, quando ainda cursava o ensino médio. No fim do período escolar, conseguiu ser aprovada na universidade para o curso de letras. Com o apoio da família e do pai do filho, Letícia consegue estudar e fazer estágio.
No início, o filho sentia falta da mãe em casa. Com o tempo, aprendeu a lidar com a nova rotina. Na gravidez, a jovem teve ajuda dos familiares, de amigos e de grupos virtuais. “O maior conflito é ter que dividir meu tempo entre trabalho, faculdade e maternidade. Sempre algum dos três acaba sendo prejudicado pelos outros”, explicou.
A maquiadora Taís* (nome fictício), 35 anos, se tornou mãe aos 15 anos e é um exemplo de superação. Sem o apoio dos pais dos filhos, hoje é mãe de cinco jovens: dois de 19 anos, um de 18, outra de 15 e a mais nova de 14. Para ela, usar o tempo a seu favor é a solução. Taís fez até a 8ª série grávida de seu primeiro filho, concluiu o ensino fundamental já em outra gestação e desistiu dos estudos. Com persistência, trabalhando e cuidando dos filhos, a maquiadora começou o supletivo com 19 anos. Porém, nem todos os professores aceitavam que ela levasse as crianças à escola. Mas ela não desistiu. Taís Soares nunca deixou de estudar, fez cursos técnicos e cursos de aperfeiçoamento para ser uma profissional melhor. Em 2015, decidiu fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e se surpreendeu com a nota que obteve. Em 2016, começou a cursar ciências sociais.
Hoje a maquiadora uma profissional reconhecida, uma estudante dedicada, dona de casa e uma ótima mãe. “Com o passar do tempo, a maturidade me fez parar de dizer que eu não tenho tempo para nada. É uma luta a favor do tempo, nunca contra ele. Acordo cedo, faço o café da manhã deles e vou estudar. Além disso, preciso ser mãe, professora e enfermeira dos meus filhos”, explicou.
Estatísticas
Em 2015, no Distrito Federal, 5.589 jovens de até 19 anos foram mães, segundo a Secretaria da Saúde. Todavia, de acordo com os dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc), em 2015 houve uma queda de 17% da taxa de meninas grávidas, entre 10 a 19 anos, no Brasil. De acordo com a pesquisa, a redução do índice é justificada pelo aumento da educação sexual nas escolas e o crescimento da distribuição de métodos contraceptivos para a população, como o caso de preservativos.
Para a psicóloga infanto-juvenil Rebeca Almeida Pereira Ribeiro, 28 anos, a adolescência é uma fase de descobrimento, pois o corpo está passando por mudanças. Assim, descobrem descobrem a sexualidade como uma forma de proporcionar prazer.
Para ela, quando a gravidez precoce não é tratada com acolhimento, a jovem pode desenvolver casos de ansiedade, auto-estima baixa, depressão e isolamento. “Se a família da jovem for capaz de acolher com harmonia, colaboração e respeito, a gravidez tem grande possibilidade de ser levada em condições normais e sem grandes transtornos. O bem-estar afetivo da adolescente é muito importante para si e para o bebê”, explicou.
Outro problema enfrentado é a demora em ir ao médico. Por não terem compartilhado a gravidez com a família, muitas meninas têm receio de sofrer algum preconceito e não procuram um especialista. A técnica de enfermagem Josenilde Corrêa, 52 anos, vivencia a realidade dessas mães todos os dias. Ela afirma que algumas demonstram insegurança por não terem apoio. “Elas têm medo do trabalho de parto, pois a maioria não faz o pré-natal completo. Muitas delas estudaram só até o ensino fundamental incompleto”, explicou.
Julia Campos
Sob supervisão de Isa Stacciarini