Em Brasília há apenas seis meses, Cristian José da Silva Alves, 20 anos, veio de Franca (SP) para tentar uma vida melhor. Mas já experimentou diferentes sensações. Cristian, que hoje trabalha na Feira da Torre, chegou a ficar em situação de rua. Mesmo com as dificuldades no início da mudança, ele diz que “hoje em dia, graças a Deus, já estou estabilizado”. Cristian conseguiu emprego de garçom. Histórias como a dele de superação e saudade da terra natal podem ser encontradas no verdadeiro caldeirão cultural que é a tradicional feira brasiliense.
Confira entrevista com Cristian Jose da Silva Alves:
No caso de Cristian, ele escolheu Brasília, pois é uma “cidade turística” onde as pessoas são bem receptivas. Ele conhece várias pessoas que vieram de outros estados, incluindo a própria esposa. Sobre as lembranças de ‘sua terra’, Cristian diz que são boas e completas. “Lembro do tutu da minha mãe, que minha mãe fazia um ‘tutuzim’ que aqui não faz” e “O feijão tropeiro é totalmente diferente do daqui”. Cristian acaba sentindo saudade e vontade de voltar para Franca, já que a maior parte dos integrantes de sua família são de lá.
Sair da terra em que nasceu inspira a arte. Gonçalves Dias, há quase 175 anos, entoou a saudade em uma das mais célebres poesias do romantismo brasileiro. “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá; As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá.” A primeira estrofe da “Canção do Exílio” traduz sentimento compartilhado por trabalhadores na capital.
A saudade de Wellington Ribeiro, 22, é da família e não especificamente de Franca, de onde ele também migrou. Ele está em Brasília há quatro anos e gosta da cultura local e diz ter se adaptado bem. Hoje, Wellington trabalha na Feira da Torre e conta que Brasília é muito melhor para encontrar trabalho. Foi entrevistado enquanto distribuía panfletos para os visitantes irem almoçar no restaurante em que trabalha.
Migração
A Feira da Torre de TV representa uma amostra de toda essa mistura cultural de Distrito Federal. São vendedores de todas as regiões do país que trazem artesanato e comida típica como mercadoria. Dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (CODEPLAN), de 2015, mostram que 51,08% da população do DF são imigrantes e 26,94% vieram da região Sudeste do país. O maior período de migração foi entre 1991 e 2000. Brasília apresenta, então, uma mistura de todos os povos e suas culturas.
Vendedora na Torre de TV, Lúcia Melo, 58 anos, veio de Duque de Caxias (RJ) e está em Brasília há 15 anos. O motivo da mudança foi a necessidade de ter melhores oportunidades de trabalho, pois, para ela, Brasília tem pouca mão de obra em comparação ao Rio. Hoje, Lúcia celebra que conseguiu concluir o ensino médio completo e que “para sobreviver, Brasília me acolheu”. Ela tem boas lembranças de Duque de Caxias, mas não tem vontade de voltar. “No Rio, eu não nasci, me jogaram… mas de Brasília eu gosto!” termina.
A Feira também conta com pessoas que estão em Brasília há ainda mais tempo. Um exemplo é a artesã Selma Carvalho, 56 anos, que veio da capital paulista há 23 anos. O motivo da mudança foi o fato de que, para ela, São Paulo era caótico. Por influência familiar, seguiu a irmã para o Centro-Oeste e, antes de Brasília, mudou-se para Goiás.

Ao aprender a fazer artesanato, Selma mudou para a capital federal e ganhou um espaço para ter a própria loja ali a partir de um concurso promovido na época da Feira da Torre de TV. Voltar para São Paulo deixou de ser uma opção. Agora, só volta para a terra da garoa para visitar a mãe que ainda mora na cidade.
Confira entrevista com Selma Carvalho:
Por Thales Augusto