Raros jogos de futebol feminino na TV, medalhas, entrevistas, holofotes, reportagens em programas esportivos….Tudo isso é recente. Pouca gente sabe, mas o futebol feminino foi proibido no Brasil de 1941 a 1979. Desde o fim dessa interdição de longos 38 anos, as mulheres conquistam cada vez mais espaço na categoria, apesar das dificuldades. No mês da mulher, o assunto ganha mais visibilidade, mas é um desafio diário garantir espaço e atenção. No Distrito Federal, existem projetos de inclusão realizados pelas próprias atletas com a proposta de empoderar as jogadoras do futebol.
Com esse ideal, a ex-jogadora brasiliense Camilla Orlando, de 34 anos, resolveu tomar uma iniciativa para colaborar com mulheres em um dos locais de maior vulnerabilidade social na capital do país, a Vila Estrutural. Foi lá que o campo, a quadra e a esperança se abriram para crianças e adolescentes principalmente. O projeto social ganhou o nome dela “Camilla Orlando Academia de Futebol Feminino” (COAFF) possui o intuito de não apenas descobrir talentos, mas também orientar a busca pelos sonhos e influenciar uma comunidade em situação de risco. Além disso, busca colaborar no desenvolvimento e gestão do futebol feminino no Brasil.
“O nosso trabalho é voltado para a formação da atleta. As jogadoras precisam entender a importância que possuem para futebol feminino. Esse trabalho integra a participação da família, cujo apoio é fundamental para o desenvolvimento da modalidade. Além disso, prezamos por oferecer formação de qualidade às novas treinadoras, assim, formar uma equipe com a comissão técnica forte e liderada por mulheres”, conta Camilla Orlando.
Todos os sábados, às 9h na Estrutural, cerca de 40 meninas com diferentes idades jogam e se desenvolvem desde a iniciação à excelência. Elas buscam as várias oportunidades fornecidas pelo futebol que existem além da seleção brasileira. O projeto já está no quarto ano de atividades e conta com uma parceria com a Escola Americana, na qual as atletas têm bolsas para estudar a língua inglesa duas vezes na semana. A ideia é contribuir com o aperfeiçoamento das atletas, que é o principal objetivo do projeto.
Sinônimo de mudança
Outro projeto dedicado às atletas mulheres é o “Reverso Esportes”, que possui o objetivo no próprio nome. “Queremos reverter os padrões de gênero e os preconceitos no esporte, dar mais visibilidade para as mulheres e mostrar que o respeito está acima de todas as coisas. Acreditamos em um mundo com mais igualdade entre todos. Para nós, reverter é sinônimo de mudança”, explica a treinadora do time, Nara Paiva, de 25 anos.
A equipe surgiu com amigas de faculdade que queriam criar um time de futsal para continuar a jogar e disputar torneios. O projeto começou com um homem como treinador, mas por entenderem a importância de ter uma mulher no comando tático, Nara Paiva decidiu iniciar a graduação em educação física e assumir o cargo de treinadora. Além dela, o time conta com o apoio de fisioterapeuta, nutricionista e dois psicólogos.
Os treinos acontecem às terças e quintas-feiras na Asa Norte. O time possui 32 atletas em idade universitária e está expandindo o projeto para jogadoras iniciantes. “O intuito desse novo projeto é que crianças entre cinco e sete anos de idade possam ter acesso ao esporte mais cedo e possam ser treinadas por mulheres”, diz a capitã da equipe, Joana de Paiva, de 22 anos.
A jogadora Júlia Seabra, de 24 anos, exalta a importância da mobilização das mulheres e das equipes para valorizar o futebol feminino. “Houve um campeonato em que foi anunciada premiação em dinheiro aos três primeiros colocados da categoria masculina e ignorou a premiação para o torneio feminino. Após nós mobilizarmos tanto os times como outras meninas nas redes sociais, os organizadores divulgaram que haveria premiação para as mulheres. Foi graças não apenas ao Reverso, mas a uma mobilização feminina”.
Por Mariana Fraga e Victoria Brito
Sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira e Katrine Tokarski Boaventura