
É ao som das tossidas do sorridente e brincalhão Noah, 10 meses, que a estudante Júlia Ribeiro, 16, recorda o momento em que a história mudou completamente. Ela lembra dos primeiros sintomas e da dúvida. “Eu desconfiava, e quando descobri (a gravidez) não fiquei tão surpresa. Só pensei em como falar para os meus pais e em como iria ser”. Júlia também relata as mudanças após o nascimento do filho, escolheu largar a escola para poder estar sempre por perto. “Eu preferi me dedicar só a ele em seu primeiro ano. Eu não penso mais em mim, ele é o meu foco e a minha prioridade”.
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No começo deste ano, Júlia voltou a estudar e preferiu um novo colégio. “Fui contar para um professor que sou mãe. Ele, na hora, achou que era mentira. O tabu ainda é muito grande”, reclama. Histórias assim não são raras, a também estudante, Dalila Rocha, 18, é mãe de Théo, de sete meses. “Na hora que eu descobri, pensei em tirar” conta a jovem, que estava com um intercâmbio marcado para alguns meses depois.
Para Rebecca Seabra, 22, que teve a sua filha Manoella aos 20 anos, a descoberta foi um susto. “Sinceramente foi um desespero. Tinha acabado de conhecer o pai da Manoella. O que não saia da minha cabeça é que meus pais iriam me deserdar”, confessa. Após o nascimento de sua filha, Rebecca trancou a faculdade para se disponibilizar 24 horas à pequena. “Tentei voltar a estudar e deixar ela esse pouco tempo com minha mãe, só que não foi uma boa escolha”, desabafa a jovem.
Rebecca relata, ainda, as dificuldades na hora de dar à luz: “Com a demora do parto, os médicos perceberam, assim que ela saiu de mim, que o formato da cabeça estava deformando. Ela estava entrando em sofrimento fetal, por isso eles não pensaram duas vezes antes de levá-la urgentemente para outro lugar. Não tive um momento a sós mãe e filha naquela hora”.
As dificuldades não pararam por aí. “Não consegui amamentar. Tentei de tudo. Essa foi à parte mais triste. Procurei ajuda, fui ao banco de leite e nada. Até que então, comecei a sofrer de depressão, era uma tortura a hora de dar de mamar, eu não aguentava mais”, recorda.
Mas, apesar das inúmeras dificuldades, o amor prevalece. “O que eu tiro de lição disso tudo, é que todo o meu esforço, sofrimento, dedicação e amor, já foi recompensado pelo primeiro sorriso da minha filha pra mim, na primeira vez que ela me chamou de “mamãe” e na primeira vez que ela saiu correndo para me dar um abraço. Ser mãe é um privilégio” ela conta emocionada.
Rebecca, Dalila e Júlia não são exceções. No Brasil 68,4% dos bebês são filhos de mães adolescentes com idade entre 15 e 19 anos, os dados são do relatório da Organização Mundial da Saúde. O índice brasileiro está acima da média latino-americana, estimada em 65,5%. No mundo, a média é de 46 nascimentos a cada mil. As taxas se referem ao último período analisado entre 2010 e 2015.
Os números contam a realidade de muitas jovens e o preconceito, em muitas das vezes é, a resposta da sociedade. A idade das mães causa dúvidas sobre a capacidade de cuidar. “As pessoas sempre acham que sabem cuidar mais do meu Theo, do que eu” reclama Dalila.
Por Gabriela Bernardes
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira