
Aos 72 anos, a aposentada Maria Terezinha Duarte passeia de bicicleta e chama a atenção dos vizinhos. Em um primeiro momento, pela forma como se sente livre ao fazê-lo, pode parecer que pedala há muitos anos. Aqueles que a veem sob as árvores nas calçadas da Asa Sul, não sabem que dona Terezinha quis encarar a bike apenas há menos de um ano. Foi depois que ela conheceu o Bike Anjo, um grupo que se voluntaria no último domingo de cada mês a ensinar pessoas de todas as idades a pedalar. No caso de Terezinha, a vontade era de longa data. A chance parecia ter se perdido depois de tantos anos, mas Terezinha e outras mulheres provam o contrário.
A história de Maria José Oliveira Alencar é semelhante. Desde criança, conforme recorda, teve muita vontade e curiosidade, mas vivia em uma cidade no interior do Piauí e a família não podia comprar uma bicicleta. Depois de se mudar, o medo do trânsito desordenado das capitais é que se tornou um impedimento. Agora está com 64 anos e nada mais a impossibilita nem mesmo o temor da perda de equilíbrio.
Maria Terezinha já comprou a própria bicicleta e sempre convida os que ficam curiosos com a sua desenvoltura a aprenderem. Uma vizinha, bem mais jovem que ela, disse que não consegue pelo receio. A bike se tornou uma boa razão para não ficar em casa, uma ocupação divertida e saudável “Ficar só em casa pilotando fogão, não é vida pra mulher nenhuma” diz Terezinha, que lamenta não ter recebido incentivo da família.
Incentivo, porém, é o que não faltou para Arlene Marques, de 63 anos. “Minha filha adulta que não sabia nada de pedalar viu um anúncio da Bike Anjo e nós fomos juntas. Ela também aprendeu no mesmo dia em que aprendi a arrancar montada na bicicleta.” As três mulheres, apesar das dificuldades, se sentem muito contentes com o feito. “Foi uma experiência espetacular, senti um grande prazer. Podia ter aprendido muito antes”, diz Maria José
Perspectiva
Um estudo feito pelo IBGE aponta que em 2050 a população terá cerca de 30% de pessoas com mais de 65 anos. Para a socióloga Tânia Cristina Cruz, pesquisadora da questão de gênero da Universidade de Brasília (UnB), não é raro que o idoso seja marginalizado, e carente de políticas públicas. “Muitos adoecem e morrem sozinhos. No caso das mulheres, que muitas vezes dedicaram suas vidas ao cuidado dos filhos, é fantástica a perspectiva de envelhecer sem adoecer e ainda praticar uma modalidade esportiva como o ciclismo”, afirma. Ela acrescenta que isso também mostra que a idade e o sexo não definem o caminho que cada um deve seguir. “Pedalar é uma forma de empoderamento, tanto para mulheres quanto para idosos”.
Por Yoneila dos Santos