Dia da jornalista: mulheres denunciam casos de assédio em redações

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Primeiro, um elogio. Depois, um comentário malicioso, uma piada sem graça… A história evolui para um toque físico, um convite para sair, chantagens  e, no final, a profissional percebe que o ambiente de trabalho se transformou em um verdadeiro inferno. Esse lugar também é uma redação de veículo de comunicação, espaço que deveria ser marcado por respeito, diálogo e diversidade. Para

trazer problemáticas da profissão no dia do jornalista (7 de abril), a Agência de Notícias UniCEUB ouviu profissionais em Brasília que revelam ambientes opressor, machista e sexista. Elas pediram que não fossem reveladas identidades ou veículo de comunicação onde ocorreram os casos.

A presença das mulheres nas redações cresce a cada ano, mas o respeito ao gênero não acompanha o número. Jornalistas relataram casos de assédio sexual, moral, abuso psicológico e de discriminação de gênero tanto dos chefes quanto das fontes.  Uma jornalista identificada aqui como Maria* disse que teve a sua competência questionada ao trabalhar no editorial de política “O editor sempre chamava um colega homem e passava uma pauta e me pedia para ajudar, como se eu não tivesse competência para fazer uma matéria sozinha. Não havia diálogo, tudo o que eu falava não valia, tudo o que eu precisava fazer ele julgava que eu não tinha condições. ”, “Você tem um jeitinho de falar com as pessoas que as fontes acabam revelando as informações. Não é jeitinho, é a minha competência. ”

Casos como o de Maria não são isolados. Segundo levantamento da pesquisa “Gênero no Jornalismo Brasileiro” divulgada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), esses casos são até comuns. Participaram da pesquisa 500 mulheres, mas só 477 respostas foram válidas e 42 jornalistas foram ouvidas. Clique para aumentar:

A par do que mostra a pesquisa, os números não dão conta de revelar o trauma do que uma mulher passa em um ambiente profissional. Bruna* recorda que foi vítima de pressão na redação. “Era um assédio psicológico muito forte. Eu trabalhava a tarde e, quando eu comecei a questionar as coisas que ele fazia comigo, ele me ligava de manhã em casa para perguntar sobre as matérias que eu estava fazendo, mas sempre gritando, de um jeito bem grosseiro, já chegou a me pegar pelo braço e correr atrás de mim dentro da redação. Cheguei a cogitar denunciá-lo ao Sindicato dos Jornalistas, mas o cara é um poderoso e eu fiquei com medo de perder o emprego. Um colega homem nem sonha o que é isso”.

Segundo a pesquisa, 64% das jornalistas já sofreram abuso de poder ou autoridade de chefes de fontes. A repórter Carolina* conta que um assessor de imprensa de política em Brasília só prestava informações para a repórter que mantinha relações sexuais com ele.  “Se você não entrasse no joguinho, ele deixava de fora”. Carolina* também conta que passou por constrangimento dentro da redação. “Terminei meu relacionamento, todo mundo na redação ficou sabendo. Um profissional veio até mim e eu achei que ia ouvir uma palavra de consolo, mas foi o oposto. Ele falou que eu era muito atraente, me encurralou no balcão e disse ‘eu tenho certeza que você não vai ficar solteira por tanto tempo, inclusive aqui na redação muitos homens te acham linda. ’”

70,2% das mulheres que responderam à pesquisa contam que já presenciaram ou tomaram conhecimento de uma colega sendo assediada em seu ambiente de trabalho, “Eu não fui a primeira. Quando eu desabafava  com as meninas, elas diziam que isso era super comum, algumas passavam pela mesma situação.” conta Maria*.

A importância de denunciar

A presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Maria José Braga, acredita que a situação pode ser alterada a partir de mais denúncias. “O que mais nos preocupa é o silêncio. Tem crescido os casos de denúncia, mas ainda muitas mulheres se calam diante do assédio principalmente nos casos de assédio moral. O silencio beneficia o assediador. É claro que isso demanda coragem por conta da exposição, mas é preciso romper essa barreira. ”
Segundo a diretora da Coordenação de Comunicação do Sindicato dos Jornalistas, Leonor Costa, há canais adequados para que a categoria não deixe a situação cair no esquecimento. “É importante que as mulheres denunciem atráves da ouvidoria da entidade http://www.sjpdf.org.br/ouvidoria”.

Por Marília Sena

Sob supervisão de Luiz Cláudio Ferreira

Artes: Agência de Criação UniCEUB

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