Aniversário de Brasília é também a capital do samba

COMPARTILHE ESSA MATÉRIA

Brasília vai receber nos dias 21 e 22 deste mês a 1ª Roda de Samba-Enredo do Brasil Capital. O objetivo das apresentações é comemorar os 58 anos da cidade.

O músico e produtor Ronaldo Castro da Silva vai promover a festa apenas com a execução de samba-enredo para proporcionar ao público a vivência do Carnaval. Com isso, a capital federal vai ter a experiência inédita de passar por esse momento ao vivo.

Nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo os desfiles das escolas de samba possuem tradição estabelecida ao longo dos anos. Os brasilienses se queixam de não terem a mesma oportunidade nos desfiles das escolas de samba de Brasília para que essa tradição se estabeleça.

O organizador Ronaldo Castro da Silva conversou com a Agência de Notícias UniCEUB sobre esse e outros assuntos.

 

Entrevista

Como o senhor vê as Escolas de Samba de Brasília no cenário nacional?

Infelizmente estamos estagnados. Vínhamos num crescente bem interessante, com carnavais cada vez melhores. Com a crise dos estados as verbas das escolas de samba foram cortadas (desde 2015 não há Carnaval), ocasionando uma dívida grande das escolas de samba da cidade com fornecedores de outro estados. O processo foi interrompido com as escolas produzindo o Carnaval daquele ano e, com isso, houve uma dispersão das pessoas. Então, ficamos à deriva no cenário nacional. Inclusive, seria um caso saber como estados sem muita tradição de desfiles de escola de samba, como Corumbá-MT, Uruguaiana, conseguiram se manter e o DF não!

O Governo do DF tem oferecido ajuda às Escolas de Samba de Brasília para a festa de Carnaval?  De que maneira tem sido essa ajuda?

Depois de amargar dois anos de penúria (2015 e 2016), o GDF acenou com uma verba de R$ 50.000,00 em 2017 para apresentação pocket das escolas de samba do Grupo Especial (06 escolas) em locais que as mesmas determinavam onde seriam. Agora em 2018, com R$ 100.000,00 com uma estrutura montada pelo governo próximo à Torre de TV, com um mini-desfile, sem carros alegóricos, mas com um bom público, mostrando que a cidade tem potencial para os tradicionais desfiles ainda!

Brasília é conhecida no cenário musical como a cidade do Rock e do chorinho. O senhor acha que esse evento do aniversário de Brasília  pode se transformar no impulso para que a cidade venha a ser conhecida também como a cidade do samba? Por que?

Sim, a cidade tem potencial, tem pessoas talentosas que se destacam no cenário do samba como Dhi Ribeiro, Renata Jambeiro, Deborah Vasconcellos e Rafael dos Anjos (violinista e produtor). Exceto a Dhi Ribeiro, todos estão radicados no Rio pelo talento que construíram aqui e foi aperfeiçoado lá. Temos também o Dilsom Marimba, compositor da cidade e que todos os anos disputa samba-enredo no Rio. Fora o nosso grupo (modéstia a parte), que faz em média 120 shows por ano, no seguimento de casamentos e eventos corporativos e que leva uma batucada com muita qualidade, onde em algumas festas, as pessoas perguntam: “De que lugar do Rio vocês são?” Temos qualidade, falta olharem com bons olhos para o povo do samba!

O senhor concorda com a tese de que o carnaval atual se tornou tão luxuoso que afasta o povo? Sim ou não? Por que?

Sim e não. Antes os ingressos eram vendidos à “preços populares”, mas para as escolas poderem existir, tinham que vender as fantasias à um preço que cobrisse as despesas. Era um desfile mais morno e com pouca vibração, pois os turistas estavam desfilando e a parte do povão, na arquibancada. Hoje os papéis foram invertidos. As escolas doam praticamente 100% das suas fantasias para a comunidade e os turistas estão na arquibancada, assistindo a um desfile mais animado, com pessoas cantando a plenos pulmões seus sambas. Alguém teria que pagar essa conta, caso contrário não teríamos os belos desfiles que temos hoje.

O senhor acha que assuntos como crítica à crise econômica, crítica social-política e religiosa da falta de respeito à diversidade e crítica à escravidão no Brasil e África podem se tornar tendência daqui por diante nos enredos das escolas?

Acho que sim. Vide o último desfile das escolas campeã e vice-campeã, que vieram com enredos críticos e levaram a melhor. São tantas mazelas na vida do povo brasileiro que, quando alguém abre a boca para criticar ou defender, todos se sentem representados. E essa é a essência do Carnaval, que estava ficando perdida com enredos patrocinados, falando do estado A ou B, ou do país tal. A crise econômica fez com que esses patrocínios diminuíssem e aí você tem que “tirar da cabeça, o que do bolso não dá” (Fernando Pamplona).

Termino deixando um trecho de um samba de 2004, da São Clemente, que mostra que cada dia que passa, eu tenho a convicção que essa frase é verdade:

 

“ONDE A ZORRA VAI PARAR

EU TÔ SOFRENDO, MAS EU GOZO NO FINAL

A SÃO CLEMENTE FAZ A GENTE ACREDITAR

QUE NO BRASIL O QUE É SÉRIO É CARNAVAL ”

(São Clemente 2004)

 

Os sambistas Wantuir (Unidos da Tijuca), Igor Sorriso (Mocidade Alegre), Claudio Vagareza (ARUC) Nêgo – o irmão do Neguinho da Beija-Flor -, Grazzi Brasil (Vai-Vai e Paraíso do Tuiuti) participam da festa. Artistas brasilienses da Bateria Acadêmicos da Asa Norte e do grupo brasiliense Brasil Capital também se apresentam com muita roda de samba. O momento será de samba-enredo na cidade, aquele tradicional samba encontrado no eixo Rio-São Paulo feito especificamente para os desfiles das escolas de samba.O evento tem patrocínio da CAIXA e do Governo Federal.

 

Programação

21 de abril (sábado)

16h – Abertura com Roda da Samba com Renato dos Anjos (Vila Planalto)

17h20 – Show com os intérpretes Nego e Grazzi Brasil.

18h50 – Encerramento – Momento Apoteose, com a Bateria Acadêmicos da Asa Norte, Passistas, Mestre-Sala e Porta-Bandeira

22 de abril (domingo)

16h – Abertura com Roda de Samba com Claudio Vagareza (ARUC)

17h20 – Show com os Intérpretes Wantuir (Unidos da Tijuca) e Igor Sorriso (Vila Isabel e Mocidade Alegre-SP)

18h50 – Encerramento – Momento Apoteose, com a Bateria Acadêmicos da Asa Norte, Passistas, Mestre-Sala e Porta-Bandeira

 

Serviço

1ª Roda de Samba-Enredo do Brasil Capital

Dias 21 e 22 de abril (sábado e domingo), no estacionamento localizado entre o Edifício sede da Caixa e da Caixa Cultural Brasília (Setor Bancário Sul QD 04)

Horário: das 16h às 19h

Entrada franca

Informações: 3206-9448

Classificação livre

Por Claudia Sigilião

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.

Você tem o direito de:
Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial.

Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.

SemDerivações — Se você remixar, transformar ou criar a partir do material, você não pode distribuir o material modificado.

A Agência de Notícias é um projeto de extensão do curso de Jornalismo com atuação diária de estudantes no desenvolvimento de textos, fotografias, áudio e vídeos com a supervisão de professores dos cursos de comunicação

plugins premium WordPress