Empatia pode ser a palavra-chave do filme para discutir de forma não-apaixonada maternidade e aborto. O longa-metragem alemão, 24 semanas (2016), dirigido por Anne Zohra Berrached, e que estreou no ano passado no Brasil, traz discussão sobre o tabu em torno do aborto e da maternidade de forma não romantizada.
A trama é permeada por questões de gênero tratadas na telona com muita naturalidade. Seja na personagem Nele (Emilia Pieske), menina de mais ou menos 9 anos que aparece em quase todas as cenas fantasiada de homem-aranha com presilhas coloridas no cabelo curtinho ou construindo sua com seu pai sua casa na árvore, existe aqui uma quebra nos padrões de feminilidade ou masculinidade na infância, a paternidade é outro ponto que pode ser apontado, Markus, marido de Astrid é simplesmente pai, sem ser ovacionado pelas simples atitude de ser um pai ativo dentro do processo de criar seus filhos e acompanhar a gravidez da esposa.
Em meio a uma fotografia que preza pela sutileza principalmente na escolha de cores, contrastando dessa forma com a intensidade do tema que polêmica em muitos países no mundo. Somos convidados a acompanhar a história de uma mulher grávida, chamada Astrid (Julia Jentsch) e de sua família que aguardam felizes pela chegada do novo bebê.
Até que em um dado momento é revelado aos pais que a criança seria portadora de Síndrome de Down, o casal bamboleia entre a dúvida de abortar ou não, por um segundo, o espectador observa com certo receio se a temática se desenrolaria em torno desse conflito. Apesar dos medos, Astrid e o marido, Markus (Bjarne Mädel), decidem seguir adiante com a gestação.
Confira o trailer do filme
Em um exame rotineiro de ultrassonografia, o médico descobre anomalia cardíaca na criança, que deveria ser submetida a procedimentos cirúrgicos violentos logo após o nascimento. Preocupada com o sofrimento a que seu filho seria submetido Astrid volta a pensar no aborto como uma opção para evitar sofrimentos a criança cuja a vida não seria uma certeza, entrando em divergência com a escolha do pai que assume o papel de interpretar os argumentos contra o aborto. Nesse momento, argumentos sobre prosseguir ou interromper uma gestação, nesse caso avançada (permitida na Alemanha em caso de complicações médicas) surgem na voz do pai e da mãe.
O polêmico debate surge diante dos nossos olhos, aqui recebemos um convite para ouvir e entender os motivos que podem conduzir uma mulher a continuar ou interromper uma gravidez, a complexidade do tema dentro da obra de Anne Berrached está em não conduzir juízos de valor na decisão que a personagem venha a tomar. Empatia pode ser a palavra-chave do filme. Debater assuntos que precisam ser debatidos sem paixões, por mais incômodos que sejam para a sociedade, por simplesmente serem realidades que não podem permanecer empurradas para o ‘debaixo do tapete’, tem sido frequente na obra da diretora Anne Zohra Berrached, que já havia abordado num trabalho anterior, chamado Duas mães, onde o tema central foi a maternidade em relações homoafetivas. O diferencial do filme não está em inovações técnicas, mas no peso das discussões trazidas por ele de forma crua, buscando ao máximo não julgar e sim mostrar os fatos.
Por Larissa Mota
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira