Esqueça o café amargo que queima a boca. Esses profissionais medem até a temperatura da água. Tomar café todos os dias, provando das melhores safras e ainda servindo outros apaixonados pela bebida. Ficou com inveja? Esse é o trabalho do barista. A profissão pode enganar quem vê apenas o resultado: cafés saborosos e bem elaborados. No entanto, por trás disso há bastante esforço e aplicação de vários conhecimentos científicos que variam do tamanho do grão à meteorologia.
“O café muda muito porque não é só estar ali tirando na máquina. Precisa de ter um paladar muito apurado”, explica Lumara de Fátima, 27, que há um ano e quatro meses fez um curso de barista promovido pelo Senac. Estudar café não foi uma escolha por acaso. Lumara trabalhava como assistente de balcão no café do CCBB, em Brasília, e o interesse foi imediato. “Eu não sabia tomar café, sabia mexer na máquina só. Eu era auxiliar dos baristas. Aí comecei a ver como era bonito”.
Ao lembrar dos tempos de assistente, ela vê a diferença que faz estudar o café e coisas que ela não imaginava que faziam influência. “O tempo muda o café muda. Se chover o café fica úmido, se está muito calor o café fica mais leve, então precisa de todo um jogo de cintura para mexer no moinho, provar, degustar…”.
“Eu não gostava de café”
Outro caso de quem era assistente e passou a ser profissional é de Iva Rosa, 29. Ela lembra que não gostava da bebida, mas, por influência da barista que auxiliava, começou a experimentar vários tipos de café e mudou de opinião.
Ela já fez dois cursos: “barista avançado” e de “cafés filtrados”. Mas ela não quer parar por aí. O próximo passo é aprender o latte art (os desenhos feitos com leite no café). “Estou sempre procurando estudar algo porque o café sempre tem algo novo. Todo ano muda alguma coisa”.
A prática também faz o barista
Allan Souza, 25, não conhece outra ocupação que não seja trabalhar com café. Entrou em contato com baristas aos 17 anos e desde então seguiu o caminho. “O marido da minha irmã trabalhava com café. Eu ia visitá-lo e ficava vendo as conversas com os clientes, aquele negócio de degustar…” E assim, ele pediu para que o empregasse e na própria cafeteria, deram todo o suporte que ele precisava.
Hoje, Allan trabalha numa cafeteria dentro de um co-working (espaço compartilhado de trabalho) na Asa Norte. Depois de tanto tempo tomando tantos cafés especiais, ele não tem medo de afirmar: o café vendido em supermercados é de péssima qualidade. “Para a gente, barista, não é café. Eles fazem uma torra mais escura e já moem o café. Quando você faz e toma, só sente o gosto de amargor. Isso é um defeito altíssimo.”
Para todas as pessoas
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), o consumo de café no Brasil em 2017 foi uma média de 83 litros por habitante. Ainda segundo a pesquisa, em mais de 80% dos lares brasileiros se consome café. O grande alcance que essa bebida tem, faz com que os mais apaixonados busquem, cada vez mais, se aprofundar no assunto.
Esse interesse é bem aproveitado por uma faculdade particular de Brasília que passou a oferecer cursos de barista para iniciantes. De acordo com o coordenador do curso de gastronomia da faculdade, Sebastian Parasole,46, a ideia é trabalhar com um produto que está em alta. “Estamos com esse curso de extensão porque me parece que agora o café tem um valor sumamente importante. Pela cultura brasileira, pelos produtores, pelo orgânico, por ter cada vez mais mestres no assunto.”
Sebastian é argentino e está no Brasil há pouco mais de uma década. Para ele, não há comparação entre o cuidado que o brasileiro tem com o café em relação ao argentino. “A qualidade do café brasileiro é superior. O interesse de ter um bom café e o cuidado na hora de fazer um café é maior no Brasil.”
Por Matheus Garzon