A Câmara dos Deputados deve ser dominada, mais uma vez, por homens. A diferença entre gêneros ocorre, seja qual for a cor da pele com a qual a pessoa se identifica. Os homens brancos representando 64,2% (3394 pessoas) das candidaturas. Entre pardos, esse predomínio é 58,4% (1823). Entre negros, a porcentagem é ainda maior (67,8% mas são só 547 candidatos).
Nas eleições de 2014, por exemplo, 80% das cadeiras no Congresso Nacional foram ocupadas por homens brancos, formando uma das mais conservadoras das suas composições. Os outros 30% representavam a diversidade do povo brasileiro mulheres, negros, pardos, indígenas e amarelos.
Segundo a pesquisadora de representatividade negra Noêmia Colonna, o conservadorismo é uma característica da sociedade brasileira, tendo raízes na nossa história. O Congresso conservador seria um reflexo da própria sociedade, mudanças só poderiam acontecer caso o pensamento da sociedade mudasse. “Então, são raízes do conservadorismo que pauta que é bom como o que é branco, rico, cristão e hétero. O que sai desse modelo de brancura, de “macheza”, de riqueza não é bom para a família, para aquilo que a gente acha que seja bom e puro e virtuoso. É aí que a gente observa a origem de todas as violências. Que advém dessa atitude e desse pensamento”, pontua a pesquisadora.
Ela defende também que não há no país uma onda conservadora, o que houve foi uma onda tecnológica que permitiu que essas vozes conservadoras ganhassem repercussão, encorajando assim novas vozes. “A tecnologia simplesmente permitiu que o íntimo das pessoas das pessoas tivessem ressonância, é uma ressonância mundial, aí a gente vem falar de onda conservadora, mas o conservadorismo sempre existiu, se brincar é a base da humanidade”, analisa.
No Congresso, eleito na última eleição, as mulheres representavam quase 10% do Congresso Nacional, entre estas apenas 0,6% representam mulheres negras do país. Nas eleições deste ano entre as candidaturas para uma vaga na Câmara dos Deputados Federais mulheres autodelclaradas negras, pardas, indígenas e amarelas somam 14,5%, enquanto que mulheres brancas representam 17,6%.
“A democracia já diz é a voz de todos, é um Estado onde todos têm voz, onde todos podem manifestar o seu valor. O nome democracia já diz, governo de todos. Quando a gente vive numa democracia onde apenas alguns existem e têm voz até que ponto de fato estamos vivendo numa democracia na prática e não apenas uma democracia no papel? Então, a representatividade tanto de gênero quanto de raça é de extrema importância sim para a democracia”, analisa a professora.
No início do ano, o Rio de Janeiro viu uma representante política, que agia em defesa dos direitos humanos e contra forças conservadoras, ser brutalmente assassinada. A morte de Marielle Franco ressoou, e hoje no Rio de Janeiro percebesse que o número de candidatas negras, ao Congresso Federal, praticamente dobrou em relação à última eleição, dessa vez elas se igualam às vozes dos homens negros. “Se a tentativa ao matarem Marielle era silenciá-la como mulher negra era que ela nunca mais falasse e que os temas que ela levantava nunca mais viessem à tona, a ação teve um efeito contrário. A morte de Marielle foi um estopim para que mais mulheres como Marielle se dessem conta que elas deveriam se levantar para que a luta de Marielle não acabasse, pelo contrário, se multiplicasse”, explica a pesquisadora.
Ela analisa também que o aumento de candidaturas de mulheres pode ser uma representação da força que os muitos movimentos feministas vêm ganhando. Eles existem no plural para acompanhar a diversidade das mulheres, explica ela. “É uma resposta muito clara e muito espontânea das mulheres que começam a se informar, a questionar o status quo e sem dúvida alguma dos movimentos feministas das mulheres, que decidem dar a cara a tapa e se assumem feministas”.
“O conservadorismo é algo nocivo e que impede uma evolução maior numa sociedade tão múltipla, diversa e cultural como o Brasil. Não deveria combinar e de fato não combina. Somos tão diversos, somos tão ricos culturalmente e conservadorismo, infelizmente, mata essas diferenças”, ela analisa também que quanto mais vozes hegemônicas, menos diversidade de pensamento e isso se reflete em uma estagnação, por isso a importância de se pensar num Congresso diverso para pensar necessidades e particularidades de cada parte da nação brasileira.
“É por isso que a gente luta, porque a base da sociedade mundial é de cunho conservador. O ser humano aos poucos vem evoluindo, agora nós precisamos desconstruir, precisamos fazer ciência para desconstruir as ciências que tiraram a humanidade das pessoas”, ressalta.
Por Larissa Calixto
Foto: site da Câmara