Massagista cego mantém projeto social na Vila Planalto

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foto cegoA data é 16 de maio de 1981. Esse dia nunca acabou. Anísio Cabral de Lima, hoje com 85 anos, nascido em Pilar na Paraíba, formado em massoterapia e técnica em reabilitação, trabalhava como massagista profissional em uma partida válida pelo campeonato amador local entre Asbac x Asbol. Naquele dia, fazia muito calor, além da seca, característica da região. Jogo bastante disputado. “Seu” Anísio, alcunha que carrega desde os tempos de formação, vislumbrava o embate através das hastes e lentes dos óculos que o auxiliavam na visão, já que possuía 11 graus de miopia. De repente, num lance despretensioso, perto da lateral do campo, a vida de “Seu” Anísio mudou num piscar de olhos. E os olhos mudaram.

Aquele objeto redondo, com oito gomos, costurada à mão, foi a sua última visão. A bolada foi em cheio atingindo o seu rosto. Levado às pressas para Belo Horizonte, recebeu tratamento vip no Instituto dos olhos Newton Rocha, supervisionado pelo médico Pedro Ernesto, o mesmo do craque do Cruzeiro e da Seleção Brasileira Tostão.

Mas, apesar de todos os esforços, o diagnóstico não poderia ser pior: Anísio não poderia mais enxergar. Num primeiro momento, ao retornar para Brasília, preferiu o isolamento. Porém, rapidamente mudou de ideia. Resolveu voltar a trabalhar e montou uma escolinha de futebol para a comunidade da Vila Planalto, com o lema: “Bom na escola, craque na bola”, fornecendo todo o material e aporte necessário para as crianças carentes.

“A escolinha funciona até hoje e nunca cobrei um centavo sequer de ninguém. Mas, para poder participar tem que estudar”, afirma Anísio, enquanto recupera o ginecologista Edenir Macedo, 84 anos, jogador de tênis e que está com um problema no ombro. Veja vídeo ao lado.

Outro fato interessante, é que a escolinha começou a funcionar em um espaço onde as gangues dos acampamentos de encontravam para promover brigas e arruaça. Morador há mais de 50 anos na cidade, sua trajetória se iniciou quando desembarcou no dia 11/1/1960, no Núcleo Bandeirante, onde residiu até 1965. Em meados de 66, mudou-se para a Vila Planalto e foi morar num barraco de pau a pique, perto do acampamento Rabelo.

Lá, se tornou massagista do 1º clube profissional de Brasília, o Rabelo F.C., primeiro tri campeão candangão. Pai de Ricardo Anísio, 44, Rivelino Rodrigues, 42 e Beatriz Rodrigues, 33, Seu Anísio tem 10 netos, todos homens. “Visualmente não conheci nenhum deles, o que para mim, sinceramente, não faz diferença alguma, pois conheço o coração de cada um deles e isso já me basta”, declara ele com um largo sorriso, característica que lhe é peculiar.

Por José Duílio – Pós-graduação em Jornalismo Esportivo

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