Ciganos recebem alfabetizadoras em “tenda” para evitar preconceitos

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Duas alfabetizadoras da secretaria de educação local  ensinam 29 alunos com idade a partir de 15 anos, na comunidade cigana Calón (em Sobradinho), como ler e escrever. “A cultura deles é muito diferente, mas a gente ensina e aprende com os estudantes”, diz Iris Bezerra, uma das professoras. As educadoras foram colocadas no projeto pela Secretária de Educação e antes de iniciarem as aulas passaram por um curso preparatório. Os alunos também participam de palestras sobre drogas e violência familiar, realizadas por policiais militares do centro de Polícia Comunitária e Direitos Humanos. As aulas acontecem de segunda a quarta-feira.

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Segundo o Capitão Elias Alves, 34, líder da comunidade, os jovens já passaram por vários tipo de preconceito nas escolas, “Eles já saíram aos prantos da escola, chegamos a registrar ocorrências, mas, nada aconteceu”, acrescenta Capitão Elias. “Se nós é que tivéssemos feito alguma coisa, já teriam nos punido”, completa.

O projeto foi criado devido à descriminação que os jovens ciganos sofrem nas escolas públicas e muitos acabam abandonando os estudos, “Nossos meninos, não gostavam de ir às aulas. As pessoas faziam piadas por conta do jeito que se vestiam e pela idade que tinham. Esse preconceito me deixa muito triste”, conta a cigana Leila Alves, 34. Os meninos iam vestidos com botas e chapéu, além de usarem dentes de ouro. Esse traje faz parte da cultura, mas não era aceito pelos colegas de classe.

As crianças frequentam as escolas públicas do governo, mas frequentemente passam por difíceis situações de preconceito e indiferença dos colegas de classe. A aluna aplicada, Esmeralda Alves, 9, conta que já presenciou vários casos de preconceito com os amigos, e que para evitar o constrangimento, ás vezes, é preciso mentir, “É triste ter que se esconder para ser aceito, para ser visto como ser humano”, finaliza. O sonho dela é se tornar advogada e lutar pelos direitos da sociedade cigana.

O povo cigano

Eles existem e todos sabem, mas, pra maioria são considerados invisíveis. Ainda hoje, a origem dos ciganos continua envolta em mistério. Suas historias sempre foram transmitidas em lendas e passadas de geração para geração, sem deixar registros. Passam a vida despercebida, sem endereço fixo, sem saneamento básico, carteira assinada, nem história. A única certeza que os rodeiam é: ignorância e preconceito. Medo e injustiças são características que rondam seu dia a dia. Bem-vindo ao mundo cigano.

Localização – Há 35 km do Plano Piloto, em uma chácara na BR-020, no Núcleo Rural Córrego do Arrozal, entre Sobradinho e Planaltina, está localizado o acampamento da Associação Cigana das Etnias Calóns (ACEC), o único fixo do Distrito Federal. Com difícil acesso para chegar à comunidade, estrada de chão e buracos fazem parte do percurso. Em um terreno de aproximadamente 2,5 hectares vivem 100 ciganos que buscam a sobrevivência com a venda de produtos artesanais.

Há atualmente  39 comunidades  ciganas no Distrito Federal. Em Brasília, a maioria deles deixou de ser nômade para se estabelecer em um endereço fixo  e cerca de 25 famílias vivem com a falta de infraestrutura. Com apenas água e luz os ciganos vivem em uma constante batalha com o governo para o saneamento básico. Além disso, outro problema perceptível é a falta de segurança. Ciganos contam que, às vezes, são tratados como indigentes, “Raramente os policiais passam aqui. Não somos bandidos. Só queremos espaço na sociedade”, conta a cigana Jucélia Oliveira, 27.

Há quatro anos eles ocupam as terras do acampamento que foram cedidas pela União. O terreno foi oferecido quando entraram com um pedido de ocupação de terra. Eles possuem uma concessão provisória de ocupação e, segundo o secretário Viridiano Brito da Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial do Distrito Federal o que falta para a regularização do terreno, é a aprovação do Estatuto do Ciganos. “É preciso regularizar a área para uso dos ciganos, e, também é necessário melhorar a infraestrutura do local, como por exemplo, construção de banheiros e cozinha comunitária”, conta o secretário. O Estatuto está tramitando pelo Congresso Nacional – sem data para votação. Atualmente, os ciganos já possuem Certidão de Nascimento e Registro Geral (RG).

A Associação Cigana da Etnia Calón (ACEC) foi criada para dar amparo aos ciganos do acampamento e ciganos que estão em trânsito pela cidade. O governo sempre cobrava organização da parte deles, “Toda vez que íamos de alguma forma ao governo exigir políticas públicas que beneficiasse os ciganos, sempre diziam a mesma frase: vocês tem que se organizar!” explica Adriana Gonçalves, militante de causas indígenas e esposa de cigano Calón Ronn Marckes. A partir disso, se juntaram e o capitão Elias Alves, 34, fundou a Associação Cigana das Etnias Calóns.

A situação financeira também é difícil. Porém, a comunidade fabrica artesanato, como sandálias rasteiras, e revende enxovais, como mantas e panos de prato, que são comprados direto em fábricas, para retirar algum lucro. “A saída para sobreviver está nos próprios costumes da comunidade” , relata o Capitão Elias Alves. “Lutamos diariamente para ter o pão, comida na mesa, mas sempre com um trabalho digno. Ninguém passa fome aqui. Somos unidos e sempre defendemos uns aos outros”, explica Elias.

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Por Karla Larissa – Agência de Notícias UniCEUB

 

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