“Hoje, na Funai, nós temos mais pessoas ruralistas e pró-soja, que não querem fazer demarcação de terras e que vemos que estão dando mais apoio aos ruralistas do que aos próprios indígenas”, reclama Fetxawewe Tapuya, estudante de direito e ativista indígena.
O indígena, que faz parte da comunidade Santuário dos Pajés, localizado no bairro Noroeste, também relatou a falta de apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai) no processo de demarcação de terras do próprio bairro e entende que nada aconteceria sem o apoio do Ministério Público.
“O GDF, a própria FUNAI e os governos sempre foram um passo atrás. Poucos órgãos quiseram ajudar, por exemplo, o Ministério Público. Por isso que quando alguém vai procurar alguma coisa sobre o Santuário e a demarcação não acha nada na FUNAI, mas sim no Ministério Público”.
Em contrapartida, um antropólogo do órgão, que preferiu não se identificar, considera que a relação da instituição com os indígenas continua intacta e que nada se alterou com o passar dos anos. “Ela teve altos e baixos, mas nunca perdeu a sua essência”. Porém, admite a incompatibilidade com o governo Bolsonaro. “O atual governo tem reproduzido um discurso que é próprio do setor ruralista, que enxerga nos direitos indígenas um obstáculo para a expansão do agronegócio. ”
O antropólogo ainda diz que a Funai intermediou e auxiliou sim o povo do Santuário nas negociações das terras do Noroeste: “Houve a intervenção para que eles fossem mantidos no mesmo local com a criação de uma Reserva Indígena, que não é a mesma coisa de uma terra de ocupação tradicional, mas isso dependia também da concordância do GDF”. Durante negociações feitas ano passado, o GDF finalmente aceitou devolver 32 hectares (os indígenas alegam que, na verdade, a área é de 50 hectares). “A demarcação de terras tão perto do planalto central foi um marco para a luta indígena e impulsionou novas demarcações”.
A Funai, de forma oficial, respondeu, em nota, que, até hoje, os indígenas têm recebido auxílio do órgão de acordo com as demandas apresentadas por eles. “Há, ainda, demandas territoriais de outras seis famílias do povo indígena Fulni-ô. A Funai tem mantido tratativa com o ICMBIO e a Terracap para possível doação de área específica para essas famílias”. A Funai acrescentou que um grupo do povo indígena Kariri-Xocó está em fase avançada de regularização de área, junto à Terracap, para constituir reserva ao lado da Terra Indígena Santuário dos Pajés.
Por Helena Mandarino e Geovanna Bispo
Imagens cedidas por Oliver Boëls
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira