Hetty Lobo, professora de Educação Física, percebeu ao longo da sua carreira, que a participação do negro ia se tornando cada vez menor nos níveis sociais mais altos. “Eu sou descendente direta de negros e índios. Estudei em escola pública e até então não sentia as diferenças, mas quando fui para graduação percebi que são pouquíssimos negros”.
Ao ingressar no mestrado, a professora foi vítima de racismo de sua professora. “O preconceito foi aberto porque o ambiente é muito mais seletivo. Quanto mais alto o nível, maior é o preconceito e não é velado, ele é claro. Ela me falou abertamente na sala de aula, há dois anos atrás: – para os negros são reservadas apenas atividades primárias, nada de fazer faculdade, porque isso não é pra você, você não vai conseguir”.
Recente pesquisa do Dieese aponta que os setores de atividade econômica, que empregam o maior índice de trabalhadores negros ainda são o comércio, a construção civil e os serviços domésticos.
Segundo análise do Departamento, estes segmentos são compostos de ocupações, cujos requisitos de qualificação profissional não são fundamentais para sua execução.
Quando o levantamento de dados se amplia para questões de gênero, a discriminação se torna maior. Índices apurados no DF demonstram que uma mulher negra recebe apenas 49,5% equivalente ao salário do homem não negro.
Ana Luiza Flauzina, negra, 34 anos, professora mestre e doutora em direito, ressalta que o espaço historicamente ocupado pelas mulheres negras tem sido nas relações informais de trabalho. “Ainda existe este ranço da escravidão na nossa estrutura social, em torno do trabalho manual subalterno. Nos serviços domésticos ainda somos a maioria.”
Segundo ela, os meios de comunicação contribuem para a perpetuação do preconceito. “A mídia deturpa a imagem da mulher negra, hipersexualiza os corpos, passando um tipo de perfil extremamente estereotipado, que só tende a reproduzir este tipo de prática desumanizada.”
Para Flauzina, a educação é a porta para mudanças. “Enquanto a gente não estudar e mudar a epistemologia e a estrutura e confrontar o racismo de frente, ainda teremos apenas mudanças muito mais cosméticas do que efetivas nas práticas institucionais de uma forma geral”.
Por Tina Oliveira