Artigo – Automutilação e o comportamento suicida durante o isolamento social

COMPARTILHE ESSA MATÉRIA

Ao contrário que se pensa, a automutilação e o comportamento suicida não estão associados unicamente a transtornos mentais ou apenas chamar atenção das pessoas. Esses comportamentos estão ligados a questões emocionais sérias, que, se não abordadas de maneira apropriada, podem evoluir para situações irreversíveis.

Durante esse momento de pandemia do COVID-19 e das medidas de isolamento social, diferentes situações podem desencadear automutilações e comportamento suicida, tais como a solidão, sentimento de inutilidade, tristeza, irritabilidade excessiva, redução da autoestima, atrelados a diversos tipos de violência como física, doméstica, moral e psicológica. Além disso, a perda do emprego, crises políticas e econômicas e o sofrimento no distanciamento de pessoas importantes podem vulnerabilizar o lado psicológico do indivíduo. Tudo isso pode agravar ainda mais em pessoas que sofrem de depressão e transtornos de ansiedade.

Dessa maneira, os suportes familiar e social são extremamente importantes nesse momento de isolamento social. Todos devem estar vigilantes a sinais de alerta que podem ser indicativos de automutilação e comportamento suicida. 

Nos casos de automutiliação atente-se a alguns sinais como: cicatrizes, uso de mangas compridas ou calças compridas mesmo em climas quentes; isolamento excessivo e dificuldade nas relações interpessoais; declarações de inutilidade e desesperança. Além disso, outros sinais também são importantes e que podem indicar um comportamento, tais como: falta de autocuidado, já que pode haver uma perda gradual de interesse pelas atividades do dia-a-dia; a pessoa expressar que está cansada da vida e que se vê sem esperança por dias melhores, além de ter uma visão negativa sobre sua vida e o seu futuro. 

Nesses casos, algumas dicas poderão ajudar pais, amigos e familiares a lidar com essas pessoas em sofrimento psíquico intenso. São elas:

  • Escute. A falta de comunicação é um importante fator de risco para o agravamento de situações de automutilação e comportamento suicida. Se mostre disponível e aberto para escutar a pessoa, sem julgamentos e repreensão;
  • Converse. Seja direto e pergunte se a pessoa está se machucando e/ou considerando o suicídio como uma saída para o sofrimento – muitas vezes essa abordagem é a mais eficaz;
  • Olhe. Atente-se para os sinais que a pessoa pode dar (isolamento, falas e posts de cunho negativo e pessimista nas redes sociais, fixação por questões na mídia sobre morte ou temas relacionados, etc.);
  • Não negligencie. Tudo isso não é brincadeira ou uma maneira dramática de chamar atenção. Muitas vezes a pessoa se automutila para tentar externalizar aquela dor interna que não está sabendo lidar. Além disso, a pessoa pode pensar no suicídio não porque realmente quer morrer, mas talvez encontre no suicídio a única saída para acabar com tal sofrimento. Portanto, valide seus sofrimentos e mostre preocupação.
  • Procure ajuda profissional. Não tenha receio de procurar apoio de um profissional especializado. Médicos, psicólogos e enfermeiros especialistas em saúde mental poderão ajudar no enfrentamento dos problemas e da solução dos conflitos. 

Lembrem-se: vocês não estão sós! Estamos juntos nesse momento tão delicado. Tudo vai passar. Solidarize com o outro. Escute o outro. Acolha o outro. Talvez seja isso que ele mais precise.

Por Roberto Albuquerque*


* Enfermeiro. Mestre e Doutorando em Enfermagem na área de saúde mental pela Universidade de Brasília. Professor do Centro Universitário de Brasília – UniCEUB nas áreas de saúde mental, relações psicossociais e relações humanas. Professor do PRISME – Projeto Interdisciplinar de Saúde Mental/UniCEUB.

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.

Você tem o direito de:
Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial.

Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.

SemDerivações — Se você remixar, transformar ou criar a partir do material, você não pode distribuir o material modificado.

A Agência de Notícias é um projeto de extensão do curso de Jornalismo com atuação diária de estudantes no desenvolvimento de textos, fotografias, áudio e vídeos com a supervisão de professores dos cursos de comunicação

plugins premium WordPress