
Depois de manifestações neste mês em Valparaíso sobre a falta de transporte, moradores de cidades goianas no entorno do Distrito Federal ainda não têm opção de ônibus que siga direto para a capital, apesar de promessa da ANTT. É necessário desembarcar na cidade de Santa Maria e apanhar outro coletivo, o que causa desgates e atrasos todos os dias. A empregada domestica, Maria da Conceição de 55 anos, também de Pedregal, diz que está preocupada em perder o emprego. “Não tem ônibus e quando tem quebra na estrada e aí o pessoal fica obrigado a vir pra Santa Maria se quiser trabalhar. Se não quiser, vai perder o trabalho”.
“Eu acho uma humilhação, porque deviam ter ônibus pra eles irem trabalhar daqui de Goiás”, comenta Eliseu José Gomes de Menezes de 23 anos, cobrador de ônibus de Goiás, quando questionado sobre a população do entorno ter que ir para Santa Maria pegar ônibus. Um motorista do Entorno, que não quis se identificar com medo de represálias, diz o que pensa da situação: “Eu acho uma falta de respeito com os moradores do entorno, por ter que se deslocar do lugar da sua moradia, se deslocar para outro estado sendo que eles pagam impostos e não são beneficiados pelo investimento que eles fazem”.

Após o dia 17 de março, em que a população do entorno decidiu queimar ônibus e protestar contra o transporte público, próximo a saída de Santa Maria, a ANTT anunciou que seriam contratadas duas empresas para atuar emergencialmente enquanto era aberto um processo de licitação para o transporte interestadual semiurbano de passageiros entre o entorno e o DF. A promessa era de que até a primeira semana de abril as novas empresas começariam a atuar, mas não foi bem isso que a equipe de reportagem observou.
A população do entorno continua a seguir para a cidade de Santa Maria para pegar os coletivos. Alguns vão a pé, aqueles que moram em Pedregal e Novo Gama, ambos em Goiás, por serem cidades mais próximas. Outros pegam uma van ou ônibus circulares que passam em frente ao terminal da cidade. “Eu pelo menos prefiro não ficar esperando muito não, ontem eu esperei quase 1 hora lá na parada, ai eu venho pegar aqui que sai mais rápido”, afirma Paula Alves de 30 anos, moradora de Pedregal.
Custo X Beneficio
Em 2012, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) reajustou a tarifa paga pela população do Entorno de quase 3% por meio da Resolução Nº 3.849 publicada no Diário Oficial da União (27/07), cidades como Novo Gama anteriormente era R$ 4,00, hoje é R$ 4,15. Algumas pessoas entrevistadas disseram que sai mais barato, “Fica (mais barato a passagem), lá no Goiás é R$ 4,15 para ir ao Plano Piloto aqui é 3 reais qualquer lugar, fica até mais barato”, afirma Douglas Casale de 20 anos, técnico de montagem de elevadores.
Mas outras pessoas afirmam que pesa no bolso por ter que pegar duas conduções para chegar ao serviço. Porém o dilema continua, ou paga mais caro e garante o emprego ou então perde o trabalho, porque não tem ônibus ou demoram muito para passar. Paula Alves trabalha em uma padaria e afirma, “Não sai mais barato não. Mas compensa? Ah é melhor do que perder o emprego”.
A viagem mais cara é de Luziânia – GO para Taguatinga – DF, custa R$ 4,95 e a mais barata é do Gama – DF para o Novo Gama – GO, custa R$ 1,15.
Perigo na profissão
Desde o dia 17 de março a população do Entorno e de Santa Maria andam preocupados com tantos ônibus do Goiás quebrados e queimados ao longo da BR-040. Mas as represálias são sentidas pelos motoristas e cobradores que não se sentem mais seguros conduzindo os coletivos, “Nós motoristas e cobradores estamos correndo perigo, porque a gente trabalha de frente com a população e nós somos os primeiros a pagar esse preço, somos os primeiros ser cobrados da população. Porque o popular não quer saber se o motorista ou cobrador é o culpado ou não, ele quer saber de quem está ali representando a empresa, dando de frente com a população revoltada e pagando um preço e estamos correndo um risco de vida sim”, afirma o motorista de ônibus da VIAN que não quis ser identificado.
O cobrador de ônibus, Eliseu José Gomes de Menezes, concorda com a declaração dado pelo motorista de ônibus e acrescenta “Essas pessoas (que colocam fogo em ônibus) são uns vândalos. Porque quanto mais quebra menos ônibus fica na rua pra rodar. E quanto mais eles tacam fogo menos ônibus vai ter pra eles, eu acho uma perca de tempo eles tacarem fogo no ônibus”.
No dia 4 de abril, a ANTT divulgou o edital de licitação para empresas de transporte interestadual para atuarem em 11 cidades do entorno que vão ligar ao Distrito Federal. A previsão é de que até agosto tenha os nomes das vencedoras e a partir do ano que vem comecem a rodar os ônibus que tenham menos de 10 anos de uso. No edital também está previsto a redução do custo das passagens.
Entrevista com Cobrador da Vian:
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Entrevista com Motorista da Vian:
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Por Simone Alves – Agência de Notícias UniCEUB