Temer e Bolsonaro tiveram discursos parecidos na ONU sobre questões ambientais

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Minimização de queimadas e negacionismo de devastação de reservas ambientais foram estratégias semelhantes adotadas nos últimos quatro anos pelos presidentes Jair Bolsonaro (2020 e 2019) e Michel Temer (2018 e 2017) nos discursos que fizeram na abertura da Assembleia Geral da ONU. Em relação a essa abordagem, eles foram atacados por ambientalistas e a repercussão colocou o país na contramão dos discursos de presidentes de países europeus. 

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Na 75ª Assembleia Geral da ONU, que ocorreu  no dia 22 de setembro (de forma virtual), a modalidade foi virtual.  Como tradição desde 1955, o presidente brasileiro, atualmente Jair Bolsonaro, abriu a assembleia. Os discursos de representantes brasileiros são vistos como importantes pois na época da criação da ONU, o então Ministro das Relações Exteriores do governo Vargas, Oswaldo Aranha, desempenhou um papel de relevância nas duas primeiras sessões da 1ª Assembleia Geral da organização. Essas sessões foram as responsáveis pela aprovação da criação do Estado de Israel.

Bolsonaro, em seu segundo discurso, na mira da comunidade internacional, garantiu que o país prioriza pela preservação do meio ambiente. Particularmente, o bioma amazônico é foco de atenção nos discursos de outros presidentes. Assim ocorreu também nos dois anos que o antecessor, Michel Temer, esteve no cargo e discursou na assembleia geral. 

72ª Assembleia Geral (confira aqui o discurso)

 

No ano de 2017, o ex-presidente Michel Temer tomou uma medida que não agradou a comunidade internacional: extinguiu uma reserva ambiental entre o Pará e o Amapá. Essa reserva, chamada Reserva Nacional do Cobre e Derivados (Renca) tinha aproximadamente o tamanho da Dinamarca e havia sido criada em 1984, com o intuito de proteger os bens naturais lá existentes. A sua extinção levou a Dinamarca e a Alemanha a retirarem seus financiamentos do Fundo Amazônia, destinado a proteger e preservar a floresta. 

Na 72ª Assembléia Geral da ONU, o ex-presidente Michel Temer manteve o foco do seu discurso nas questões de imigração, terrorismo e comércio. No entanto, ele não poderia deixar os outros países sem resposta a tais ações consideradas contra a preservação ambiental no Brasil. Temer disse que o Brasil se preocupava com a questão do desmatamento na Amazônia, onde o seu governo teria concentrado recursos e atenção. Ele ainda ressaltou a queda de 20% do desmatamento na região até a data da Assembleia (19 de setembro). “Retomamos o bom caminho e nesse caminho persistiremos”.

73ª Assembleia Geral da ONU (confira o discurso de Temer)

 

Em 2018, o Brasil sofreu com o corte de orçamento para o meio ambiente. De acordo com o levantamento realizado pelas organizações não-governamentais WWF-Brasil e Associação Contas Abertas, os investimentos do governo federal com o setor são os menores desde 2013. 

“Só nos últimos anos, negociamos a Agenda 2030 e o Acordo de Paris. São verdadeiros marcos, que nos colocam no caminho do crescimento econômico com justiça social e respeito ao meio ambiente”.

Em seus discurso na Assembleia, o presidente Michel Temer destaca o isolacionismo, intolerância e unilateralismo como desafios para integridade da ordem mundial. Ao falar do meio ambiente, o presidente cita que a taxa de desmatamento na Amazônia é 75% mais baixa do que em 2004.

“Criamos e ampliamos, no Brasil, unidades de conservação ambiental, que, atualmente, correspondem a mais de quatro vezes o território da Noruega”, afirmou o presidente. Além de destacar que instituíram nos mares brasileiros áreas de preservação da dimensão dos territórios da Alemanha e da França somados.

74ª Assembleia Geral (confira o discurso do presidente)

 

A comunidade internacional já percebia que a preservação e proteção das florestas brasileiras não eram tão importantes para Jair Bolsonaro, presidente do Brasil. Em seu primeiro discurso na ONU, o presidente brasileiro dedicou quase 5 minutos para atacar os governos cubanos, venezuelanos e o antigo governo petista. 

Ao falar da Amazônia, Bolsonaro citou Ysani Kalapalo, indígena que participava de sua comitiva e de certa forma servia como um apoio para negar a ideia de que o presidente seria contra os povos originários brasileiros. Em seu discurso, Bolsonaro afirma que o seu governo tem um “compromisso solene com a preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável em benefício do Brasil e do mundo”.

“Nossa política é de tolerância zero para com a criminalidade, aí incluídos os crimes ambientais”, falou Bolsonaro. Ele ainda culpou o clima seco, os indígenas e a população local por conta das queimadas na Amazônia, que em agosto 2019 haviam aumentado 222% em relação ao mesmo período do ano de 2018. 

Em sua fala sobre a Amazônia, o presidente ainda comentou que o Brasil sofre com ataques sensacionalistas da mídia internacional em relação as matérias sobre as queimadas na Amazônia brasileira. Para ele, tais ataques despertam o lado patriota do brasileir. O presidente ainda argumentou contra a ideia de que a floresta amazônica é patrimônio da humanidade, afirmando que essa frase vai contra a soberania do Brasil.

“Quero reafirmar minha posição de que qualquer iniciativa de ajuda ou apoio à preservação da Floresta Amazônica, ou de outros biomas, deve ser tratada em pleno respeito à soberania brasileira”, completou Bolsonaro. 

Em seu primeiro discurso na ONU, Bolsonaro falou por volta de 10 minutos sobre a preservação ambiental e a questão dos indígenas no Brasil. Seu discurso estava previsto para durar 20 minutos, no entanto, o recém operado presidente falou por 31 minutos.

75ª Assembleia Geral da ONU (confira aqui o discurso do presidente)

Atualmente o país vive um cenário caótico devido a pandemia gerada pelo novo coronavírus, em que o Brasil se tornou um dos países com maior número de mortos pela covid-19.  

O cenário ambiental brasileiro está em crise devido a poluição da água, do ar e do solo, o desmatamento na Amazônia e Pantanal, o depósito e disposição de lixo em locais inadequados, a caça e a pesca predatórias, o desperdício de alimentos e de recursos naturais, e o aquecimento global. 

Em seu discurso para a ONU, o atual presidente do Brasil, disse que a Floresta Amazônica é úmida e não permite a propagação do fogo. “Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”, completa.

O presidente ainda afirma que qualquer crime ambiental é combatido com rigor e determinação, e que mantém sua política de tolerância zero com o crime ambiental.

Ao falar das queimadas no Pantanal, Bolsonaro fala que as queimadas são consequências da alta temperatura local e acúmulo de massa orgânica em decomposição.

O presidente também falou sobre a disposição dos lixos. “Nossa preocupação com o meio ambiente vai além das nossas florestas. Nosso Programa Nacional de Combate ao Lixo no Mar, um dos primeiros a serem lançados no mundo, cria uma estratégia para os nossos 8,5 mil quilômetros de costa”, relata Bolsonaro.

Por Ana Clara Botovchenco e Laura Cardoso
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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