A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) definiu, na tarde da última terça-feira (29), o nome dos cinco deputados que vão compor o Tribunal Misto que julgará o processo de impeachment de Wilson Witzel, governador afastado do Rio de Janeiro, pelo Partido Social Cristão (PSC). Suspeito de corrupção na área da Saúde, Witzel já tinha sido afastado do cargo por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Fato é que o sucesso político de Witzel foi repentino. Em setembro de 2018, o ex-juiz aparecia nas últimas posições como intenção de voto nas pesquisas eleitorais. Ele começou a crescer a menos de uma semana da votação do primeiro turno, após diversas demonstrações de apoio à candidatura de Jair Bolsonaro e de seus filhos. Assim como a família Bolsonaro, Witzel defende bandeiras conservadoras e se apresentando como uma nova alternativa na política.
Com uma campanha orçada em R$ 2,6 milhões, Witzel investiu no corpo a corpo com eleitores e priorizou propostas na área de Segurança, sempre assimilando seu discurso com a pauta bolsonarista. Semelhante a forma que o atual presidente defendia que “bandido bom é bandido morto”, Witzel afirmava que, sob o seu comando, a ordem seria para atirar e “abater” os criminosos com fuzis. O discurso contra a corrupção e o apoio aos militares foram outros pontos em comum entre os candidatos.
Jair Bolsonaro não chegou a apoiar candidatos na disputa eleitoral do Rio. “Nós somos neutros, exceto nos Estados onde temos candidatos. Estou neutro aqui [no Rio]”, afirmou em entrevista veiculada na TV Globo na época da campanha, mas seu filho Flávio, pouco antes das eleições do primeiro turno, participou de carreatas com Witzel. “Governador, todos nós vestimos a mesma camisa, que é a camisa do Brasil, da decência, da moralidade e do respeito com o dinheiro do contribuinte”, afirmou durante uma carreata em Nova Iguaçu.
A campanha de Witzel chegou a pagar anúncio no Google que associava o ex-juiz ao sobrenome Bolsonaro. Ao digitar “Bolsonaro” no buscador, encontrava-se um link com a chamada “Bolsonaro apoia Witzel”. Somente depois de clicar, o eleitor entendia que o apoio era de Flávio, e não do pai dele Jair Bolsonaro. Também foram distribuídos panfletos com imagens de Witzel e Jair.
Relações estremecidas
No segundo turno, Witzel foi eleito com 59,87% dos votos. Foi durante a votação para decidir qual deputado estadual assumiria o comando da Alerj, logo depois de sua posse, que os primeiros sinais de afastamento entre Witzel e os Bolsonaros apareceram. Os filhos do presidente não gostaram da suposta aproximação do governador com André Ceciliano, deputado petista. Carlos Bolsonaro chegou a negar, por meio de um comentário em sua conta do Instagram, que ele, Jair e Eduardo tivessem qualquer relação com Witzel, ignorando o apoio de seu irmão, Flávio.
Flávio Bolsonaro, inclusive, continuou apoiando Witzel e chegou a tecer diversos elogios ao governador: “Governador, meus parabéns, Governador, que os outros sigam o seu exemplo! A população não aguenta, Governador Wilson Witzel, mais ser oprimida por esses marginais.”, declarou o Senador durante pronunciamento no Plenário, em 8 de maio de 2019.
Porém, em setembro de 2019, após a exoneração de Gutemberg de Paula Fonseca, aliado do senador no governo, e uma série de declarações por parte de Witzel sobre sua pretensão de concorrer à Presidência em 2022, o senador decidiu cortar de vez os laços com o governador: o PSL deixou oficialmente a base de apoio de Witzel na Assembleia Legislativa — a maior bancada da Casa. O comunicado oficial do partido justifica a ruptura por “posicionamentos políticos” do governador e por orientação de Flávio, então presidente estadual do PSL no Rio.
O fim da aliança
O rompimento absoluto e o início de uma era de indiretas e acusações aconteceu em outubro de 2019, quando veia a tona informações sobre a investigação do assassinato de Marielle Franco. O presidente Bolsonaro foi citado por um porteiro do condomínio de sua casa no Rio de Janeiro. Em depoimento dado à Polícia Civil, o funcionário havia atribuído a Bolsonaro a autorização para a entrada de um dos acusados no crime no complexo residencial.
Jair Bolsonaro acusou Witzel de vazar e manipular as informações da investigação. De acordo com o presidente, o governador estaria manipulando as informações para se beneficiar em uma disputa à Presidência em 2022. “Esse é o trabalho de um governador que tem a obsessão de ser presidente da República. Dizem que no seu gabinete ele usa a faixa de presidente.”, afirmou Bolsonaro, durante a cerimônia de lançamento da Aliança pelo Brasil.

Witzel, por sua vez, rebateu as críticas prometendo processar Bolsonaro: “A polícia do Estado do Rio de Janeiro é independente. Eu não manipulo a polícia e, infelizmente, [Bolsonaro] passou dos limites. Vou tomar providências judiciais contra ele e iniciar uma ação penal”, afirmou.
Desde então, os ex-aliados estão trocando farpas constantemente.
Conflitos durante a pandemia
A pandemia do novo coronavírus trouxe a necessidade de medidas urgentes e efetivas contra à rápida proliferação do vírus. Witzel, assim como outros governadores, entrou em atrito com o presidente Bolsonaro. Enquanto o governador incentivava medidas de isolamento e suspensão de atividades comerciais, Bolsonaro menosprezava a doença e encorajou seus eleitores a desrespeitarem a quarentena.
Por Gabriela Bernardes