Segundo o censo da Escola de Jornalismo Portátil em parceria com a JSK Fellowships, da Universidade de Stanford, 23% dos jornalistas da América Latina em 2017 viviam exclusivamente da renda do trabalho freelancer e 33% tem um emprego fixo, mas reforçam o salário fazendo freelas.
A jornalista independente Joana Suarez faz parte desses 23%. Após sete anos em um jornal tradicional de Belo Horizonte, Joana decidiu deixar a redação e voltar para Recife, sua cidade natal, para poder se dedicar mais a área que ela realmente amava: jornalismo investigativo. “Eu acredito que o jornalismo investigativo tenha mais espaço dentro desse jornalismo independente.”
De acordo com a jornalista, a decisão veio após a percepção de que, dentro de um jornal, fazer um jornalismo de profundidade era muito mais difícil e cheio de barreiras. “O jornalismo investigativo custa muito caro, demanda muito tempo, ele precisa de uma dedicação da mão de obra profissional.”
Porém, Joana Suarez entende que ela é uma exceção no mercado brasileiro. “Eu sou uma exceção no Brasil, porque eu sei nem todo mundo pode deixar seus empregos para fazer um jornalismo desses. Mas eu acredito que isso está se tornando cada vez mais possível.”
Ainda assim, a jornalista incentiva o debate sobre o jornalismo independente dentro das faculdades, visando os prováveis déficits futuros das redações. “Acredito que a academia deva estudar muito isso e trocar muito com quem está no mercado. Acredito que os alunos devam sair das faculdades já com uma cabeça voltada para o jornalismo independente, porque o jornalismo tradicional vai ser mais ainda mais difícil”
Para ela, as crises no jornalismo atual não são culpa dele em si, mas sim dos veículos e diz que o Estado deveria incentivar o retorno da comunicação. “A crise não é no jornalismo, mas sim nos jornais e é uma crise financeira e de credibilidade. Acredito que essa mudança deve vir até do Estado, porque o direito à comunicação é um direito constitucional. Nós temos a lei de incentivo ao esporte e à cultura, já está na hora de termos a lei de incentivo à comunicação”
Joana Suarez participou nesta sexta-feira (23) da Semana da Comunicação 2020, evento promovido pelo Centro Universitário de Brasília. A conversa sobre a transição das redações tradicionais para a rotina como freelancer foi mediada pelas professoras Carolina Assunção e Katrine Boaventura.
Assista a conversa na íntegra:
Por Geovanna Bispo
Supervisão de Luiz Cláudio Ferreira