Empresários do setor de reciclagem e transformação passaram a constatar escassez de matéria-prima no mercado para essa finalidade. “Hoje, infelizmente, falta matéria prima no mercado para que a indústria de transformação faça dela uma nova embalagem ou novos produtos para ser posto no mercado”, afirma o empresário Maurílio Sobral.
Empresários creem que essa falta está relacionada à desorganização provocada pela pandemia. “Me dói ver empresários industriais, da área de transformação, disputando o pouco de material reciclável que conseguem encontrar no mercado, comercialmente falando”, diz Gilvander de Oliveira Silva, que também atua no mercado como gerente da mesma empresa de Maurílio Sobral.
O problema ocorre 10 anos após a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ele ressalta que a falta de material já afeta o preço dos produtos derivados de certos materiais. “O plástico não fugiu disso. Nós temos o PEAD (Polietileno de Alta Densidade) e a indústria não tem mais esse plástico e está brigando para pegar de todos os segmentos esse plástico para poder comercializar os seus produtos. Já começou a inflacionar no mercado, os produtos derivados dessa matéria prima ficaram mais caros”, informou Silva.
Em debate mediado pela professora e pesquisadora Andrea Libano, responsável pelo projeto de extensão Gestão Ambiental do UniCEUB, Maurílio ressalta a importância da sociedade estar informada a respeito da reciclagem. “O que está faltando, na verdade, é que a nossa sociedade entenda que nós precisamos dela pra fazer com que esses materiais retornem para a cadeia produtiva e não deixe dar falta de materiais dentro das indústrias de transformação”, afirmou o profissional.
Saiba mais sobre reciclagem durante a pandemia
“Quando um produto é pensado pela indústria, para ser lançado no mercado, desde a sua concepção já é pensado no retorno da sua embalagem para a cadeia produtiva do reciclável. Se você pegar qualquer produto e olhar a embalagem, você verá o símbolo da reciclagem. Aquelas três setinhas, representam a indústria de transformação, o consumidor e o empresário da reciclagem”, elucida.
Para os profissionais, a raiz do problema encontra-se na falta de políticas públicas eficazes, e na não percepção do impacto desse lixo por parte dos empresários.
“Os empresários não conseguem enxergar que o lixo são materiais destinados de forma errada para os aterros sanitários e lá ele se tornam agentes poluidores e contaminantes do meio ambiente”, relembra Maurílio.
Com relação ao governo, ele completa, “Infelizmente, por falta de políticas, o governo não consegue fazer esse trabalho com relação a destinação dos materiais recicláveis, para que ele possa voltar à cadeia de produção”.
Quanto aos aterros sanitários do País, Maurílio Sobral explica que, o Brasil, enterra, por ano, mais de R$ 8 bilhões de matéria prima. “Desse recurso, nem sequer se fala do volume, que o governo, através dos nossos impostos, paga para os aterros sanitários enterrarem essa matéria-prima. Então é algo surreal”.
Em 10 anos de Política Nacional de Resíduos Sólidos, muitas oportunidades de negócios foram criadas a partir da consolidação de legislações, regulamentos específicos dentro de Estados, municípios e também no Distrito Federal.
“A pandemia trouxe novos negócios relacionados a logística reversa. Começou-se a valorizar mais a questão financeira, do valor agregado que tem esses resíduos”, avalia Gilvander.
Desse forma, os profissionais utilizaram o espaço para pontuar aos empreendedores que pretendem entrar no mercado, a importância de estar ciente do desafio a ser enfrentado. “Será que vamos ter que esperar capital estrangeiro vir para o nosso país? Isso já está acontecendo, na verdade. Algumas empresas de fora estão reconhecendo o potencial econômico que o nosso país tem e já chegam querendo tirar quem já está no mercado, pois eles têm muito dinheiro, e fica fácil de levar esse material rico para outros países”, pontua Maurílio Sobral.
Assista na íntegra ao debate completo:
Por Mayra Christie