
A partir de janeiro de 2021 a relação entre o Brasil e os Estados Unidos da América (EUA) deve sofrer mudanças políticas e econômicas. Isso porque o democrata Joe Biden, eleito presidente norte-americano, assume o cargo no dia 20 de janeiro com propostas mais progressistas, diferentes das do presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
Biden é de esquerda e já anunciou publicamente que, quando assumir o cargo, as primeiras ações como presidente serão direcionadas a combater a pandemia do coronavírus e aproximar novamente os EUA de tratados ambientais. Em ambas as ideias o governo do presidente Bolsonaro se opõe. Além de as políticas adotadas pelo governo para combater a pandemia terem se mostrado ineficientes, o mês de setembro registrou o maior índice de desmatamento da Floresta Amazônica desde 2005. Essa diferença em relação às prioridades dos dois presidentes deve mudar o panorama atual da relação entre Brasil e EUA.
A aprovação do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) depende do apoio de membros do grupo e, nesse caso, o dos EUA seria crucial pela relevância do país. “Ter um governo alinhado com o norte-americano seria um canal mais favorável para obter esse apoio”, disse Paulo Guimarães, mestre em economia. A vitória de Biden tende a dificultar a entrada do Brasil na OCDE. Isso pode ocorrer porque o grupo exige políticas como a de preservação ambiental, aspecto no qual o Brasil não é tido como referência, por exemplo, em razão dos incêndios na Amazônia e no Pantanal.
Porém, para o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), José Luis Oreiro, o fato de o Brasil não entrar na OCDE não possui relevância do ponto de vista da economia brasileira. “Na verdade, é até pior entrarmos na OCDE, porque isso implicaria que o nosso país terá que fazer algumas concessões, como, por exemplo, abrir mão do status de país subdesenvolvido. Esse status lhe permite usar barreiras tarifárias para o caso de produtos manufaturados. O Brasil também terá que abrir totalmente a sua conta de capitais, o que vai tornar a taxa de câmbio mais volátil do que já é”.
Quanto ao fato de o Brasil ficar mais isolado economicamente com a vitória de Biden, isso vai depender da postura do governo Bolsonaro, afirma José Luis Oreiro. “Os EUA vão endurecer o jogo para o Brasil. Vão adotar sanções comerciais se não houver uma mudança significativa na política ambiental. Porque, se insistir nessa política ambiental desastrosa, vai haver embargo comercial não só dos EUA, mas também dos países europeus”, explica.
Relação política com os Estados Unidos
Em relação à política entre EUA e Brasil, o professor de Relações Internacionais da UnB, Juliano Cortinhas, acredita que a pressão em cima do governo Bolsonaro irá aumentar, mas destaca a importância do Brasil para os EUA. “Nós fornecemos diversos bens a eles (norte-americanos) e acho que Biden tende a ser um presidente pragmático, que não vai virar as costas para o Brasil. Por outro lado, vai aumentar a pressão sobre o nosso país em relação a temáticas ambientais, por exemplo.”
Juliano considera o aumento da pressão sobre o Brasil algo benéfico já que, na visão dele, o país tem adotado posturas extremamente ruins no âmbito internacional. O professor disse que “haverá uma normalização da relação entre os dois países, já que o que ocorreu durante os governos Bolsonaro e Trump foi uma aproximação ideológica, que em nada beneficiou o Brasil.”
Ele afirma que a tendência, mesmo indiretamente, é de que a derrota de Donald Trump tenha um impacto nas eleições presidenciais de 2022. Juliano teme que, com o isolamento político dos próximos anos, o Brasil tenha mais dificuldade em recuperar o seu rendimento econômico e prevê que 2021 e 2022 sejam muito difíceis para o país. O professor acredita que esse cenário, durante os dois últimos anos do atual mandato de Bolsonaro, pode influenciar o eleitorado brasileiro.
Juliano explica que com Trump, Bolsonaro poderia manter uma retórica acirrada nos discursos. “Agora ele não tem mais esse escudo e as nossas saídas, em termos econômicos, serão ainda mais limitadas. Isso sim pode interferir nas próximas eleições presidenciais no Brasil”, explica.
Biden foi eleito durante o pleito que ocorreu em 3 de novembro. Ele será o 46º presidente dos Estados Unidos da América. O resultado da vitória do democrata foi concretizada após quatro dias de apuração dos votos. Ele ocupou o cargo de vice-presidente durante os dois mandatos de Barack Obama.
Por Bruna Rossi e Eduardo Hahon
Sob supervisão de Isa Stacciarini