“Brasília não sai de mim. E é muito importante na minha formação. Ela tem sido personagem de todos os meus filmes. Tão importante como o Eduardo, a Mônica, a Maria Lúcia e o João do Santo Cristo”. O sentimento é do diretor brasiliense René Sampaio, de 46 anos, que em 2021, levará ao circuito nacional a sua mais recente obra: o filme Eduardo e Mônica, que não estreou no ano passado por causa da pandemia da covid-19.
O filme Eduardo e Mônica, do diretor brasiliense René Sampaio, é um sonho muito perto de chegar aos olhos do público. O cineasta pensava nesta obra desde que tinha 14 anos de idade. O filme, previsto para estrear em meados deste ano, é uma adaptação da famosa canção de Renato Russo, e conta a história de um casal de namorados com gostos e personalidades drasticamente diferentes.
Assista ao trailer do filme Eduardo e Mônica
O longa-metragem de quase duas horas foi exibido no Festival de Filmes Internacionais de Edmonton (EIFF), um renomado evento canadense de cinema independente e plural, e levou o prêmio de melhor filme internacional.
O EIFF foi adaptado para oferecer a possibilidade de tanto ter a experiência tradicional de festivais, com exibições presenciais de filmes, como proporcionar uma opção virtual mais segura. Isso foi uma maneira de evitar que se tornasse inteiramente virtual e de se manter fiel ao espírito do evento, sem também comprometer a segurança do público.
Medo de pirataria
René Sampaio conta que, após a estreia internacional de Eduardo e Mônica no Festival de Filmes de Miami, procurou outros festivais para enviar o filme, mas a principal preocupação dele é com a pirataria. “Como os festivais viraram on-line e nós temos muito receio de pirataria acabamos não permitindo que o filme fosse exibido em diversos festivais, o que foi muito frustrante pra nós. O Festival do Canadá é muito bacana e um dos melhores de filmes indies do mundo. Como lá era com exibições em salas de cinema, permitimos que o filme fosse pra lá. E ficamos muito honrados com a premiação de melhor filme”, diz o diretor.
René Sampaio, diretor e publicitário brasiliense de 46 anos, foi também responsável pelo filme de 2013 Faroeste Caboclo, outra adaptação cinematográfica da famosa canção de Renato Russo. Segundo René, desde os 14 anos sonhava em levar essa música e mais outras para as telas de cinema. Ele é fã do cantor e considera que a obra dele permanece atual. Faroeste Caboclo é um dos maiores sucessos da banda brasiliense Legião Urbana, e é conhecida pela letra inusitadamente longa de 168 versos, inspirada por baladas do cantor norte americano Bob Dylan.
Para alcançar o sonho de juventude, René começou a trabalhar em produções de amigos e de outros alunos de da Universidade de Brasília. “(Eu) era faz-tudo. Depois fui assistente de câmera. Virei assistente de câmera profissional e com isso eu juntava dinheiro pra pagar minhas próprias produções. Aos poucos fui fazendo curtas, clipes, etc. Um desses filmes foi muito premiado em festivais: chamava-se Sinistro. Ele deu uma importante impulsionada na minha carreira. Depois dele, comecei a dirigir comerciais e me profissionalizei como diretor”, relata. Ele trabalha desde 2000 com cinema independente.
Desde o primeiro longa-metragem que dirigiu em 2013, Faroeste Caboclo, trabalhou também como diretor na série policial Dupla Identidade (2014), no curta Amor ao Quadrado (2016), nas duas temporadas da série Impuros (2018), e por fim em Eduardo e Mônica.
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O projeto do filme inspirado pela música de Renato Russo começou em 2013, e passou por muitas etapas até o começo da filmagem, como a aquisição dos direitos, elaboração do roteiro, captação de recursos, levantamento da produção, definição do elenco. As filmagens aconteceram em 2018, e nos anos seguintes ocorreram as edições e a finalização. Para René, um dos maiores desafios foi acertar o tom do filme, de modo a transpor o sentimento da música para as telas.
Obstáculos
Apesar de o cinema ser uma atividade desejada por muitos, nada é fácil para os cineastas brasileiros. René afirma que a indústria cinematográfica brasileira é muito plural, mas enfrenta sérias restrições e dificuldades: “Muitos estilos de filmes estão sendo feitos por diferentes diretores em todo o país. Acho que reflete um pouco a riqueza e a diversidade cultural do nosso enorme país. Ao mesmo tempo, todos são muito guerrilheiros, pois o nosso cinema é feito em condições duras de poucos recursos. O que une todos é a dificuldade de se fazerem lançar filmes lutando contra filmes muito bem financiados de todo o mundo”. Ele conta que foi caro realizar sua visão dos filmes, que são situados em 1981 (Faroeste Caboclo) e 1986 (Eduardo e Mônica), por necessitar o uso de itens da época, como veículos e figurino.
Impacto da pandemia
Um decreto publicado pelo GDF em 03/09 permitiu que os cinemas voltassem a funcionar, e muitos foram reabertos em outras cidades do país. A iniciativa Juntos Pelo Cinema promove a volta das sessões de cinema, seguindo cuidados para deixar o ambiente mais seguro, e muitos estabelecimentos de Brasília aderiram, como o Kinoplex, Cinemark e Cinema Itaú. Os protocolos de segurança que tomaram são: uso obrigatório de máscara; distanciamento mediante poltronas vagas; higienização das salas após cada sessão; monitoramento de temperatura; compras pela internet; disponibilização de álcool em gel 70%.
Leandro Correa Machado, médico infectologista de 39 anos, afirma que é arriscado ir para o cinema mesmo com essas medidas. Segundo ele, em ambientes fechados e pouco arejados há uma chance maior de transmissão de Covid-19 pelo ar. “A única medida que consegue evitar a infecção pelo ar é a máscara PFF2/N95, que as pessoas não usam”, diz.
Leandro também fala que, mesmo com o monitoramento de temperatura e com os outros protocolos, o risco permanece. “O problema não é a pessoa assintomática ou que tá com febre, o problema é pessoa pré-sintomática, que ela tá transmitindo também a doença, mas não tá tendo sintomas (…) ela pode tossir ali dentro, e só o fato de estar ali dispersando gotículas pode infectar quem tá na frente e quem tá no lado”.
Eduardo e Mônica, filme para celebrar
No entanto, René não planeja estrear o filme no país agora, mesmo com a reabertura. Isso porque ele quer que Eduardo e Mônica seja lançado quando as pessoas possam se aglomerar de novo: “É um filme pra ser celebrado como um show, um evento. Queremos que as pessoas possam ir com amigos, com a família, com a namorada ou namorado pra juntos celebrarem essa história”.
O diretor não pretende que esta seja a última adaptação cinematográfica de músicas de Renato Russo que vai dirigir. “Meu projeto é uma trilogia. Vamos fazer mais um. Mas pode até virar uma quadrilogia. Vamos ver o que o futuro nos reserva. Eu me identifico muito com a obra e acho excelente material pra fazer filmes”.
Por Gabriel Catelli
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira