Brasília, 61 anos: “As pessoas daqui não são frias”, diz coreana de 78 anos

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A sul-coreana Joung Ja Chang tinha apenas 21 anos de idade quando acompanhou a família, em fuga da guerra no país natal, para atravessar o mundo e chegar a um lugar desconhecido e amistoso. Era o ano de 1964, quando chegou ao Brasil, junto com outras 68 famílias em um navio. Nem imaginaria que começaria ali também um período de 21 anos de ditadura militar.

Depois de morar em Vitória (ES), a família se mudou, em 1975, com bagagens e esperanças para uma cidade nova, a capital recém-criada, com apenas 15 anos de história. O tempo de recomeço para estrangeiros e brasileiros que passaram a chamar Brasília de nova casa. “Nunca achei as pessoas frias. Aqui é fácil fazer amizade”, garante a sul-coreana. 

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Acolhimento

Mesmo diante da boa impressão de Joung Ja Chang, o historiador Deusdedith Rocha Junior afirma que o acolhimento a estrangeiros no Brasil sempre foi regido por situações de classe, raça e gênero. “O mesmo preconceito que as elites devotam aos trabalhadores brasileiros, elas também dão aos trabalhadores estrangeiros que vêm para cá”, explica o pesquisador. 

“Pode ficar parecendo que se reconhece uma igualdade da diversidade dos povos, mas é preciso ver que se trata de um fenômeno de cultura de massa, com uma intenção claramente comercial”, afirma o historiador. 

 

O professor Deusdedith acredita que, ao mesmo tempo em que os estrangeiros têm uma presença importante na nossa história, essa presença também é muito diversificada. A sul-coreana indica que uma das realidades que estranhou é o  número de pessoas com nacionalidades diferentes.  “Naquela época não se viam estrangeiros na Coreia”. Em janeiro de 2020, Brasília tinha 17.741 estrangeiros, vindos principalmente da Venezuela, Haiti e Colômbia. 

 

A sul-coreana diz que, apesar de gostar da cidade, enxerga desigualdades e violência, principalmente nas cidades satélites”. Ela destaca que mudaria o sistema de educação por achá-lo muito fraco em relação à Coreia do Sul. O principal ponto positivo apontado pela entrevistada foi a presença de muitas árvores e flores. 

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Maurício Goulart, arquiteto e urbanista representante do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, afirma que a cidade é o exemplo mais acabado de conjunto urbano construído em decorrência dos preceitos modernistas da arquitetura e urbanismo. O público assimila a cidade como aparência de uma libélula ou borboleta ou, como mais comentado, o formato de avião. O crescimento populacional instigou os problemas de desigualdade social na cidade. 

Confira trecho de entrevista

 

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Organização e modernidade

Brasília foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Patrimônio Mundial em 1987, e em 1990 tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Está na lista que contém bens culturais, bens naturais e bens mistos.

 

Para pesquisadores do urbanismo em Brasília, como os professores Sávio Guimarães e Júnia Marques, o Plano Piloto de Brasília, elaborado por Lúcio Costa, é único no mundo por ser uma “cidade moderna” que vinha sendo desenvolvidas desde fins do século 19. Eles argumentam que o plano de Brasília foi o primeiro a possuir uma configuração morfológica bem distinta das cidades tradicionais e uma distribuição espacial baseada na setorização.

Os pesquisadores ainda apontam que a preferência pela forma rodoviária e não privilegiando pedestres é uma das características urbanísticas mais fortes da cidade, o que leva a problemas, como maior  movimento da cidade nos fluxos por ela em determinadas horas do dia. 

Mesmo diante desses problemas, Brasília, 61 anos depois, é sonho para migrantes de diferentes lugares, como é o caso de Tainar Borges, de 24 anos, moradora de Sobradinho, que foi motivada a mudar de sua cidade, Ilha de Vera Cruz (BA) por falta de emprego. 

Sair da minha cidade para vir morar aqui em Brasília foi muito bom e ao mesmo tempo foi triste, porque eu sabia que viria para mudar de vida e que iria ser melhor pra mim, mas ao mesmo tempo tive que deixar minha família lá.” afirma a baiana. 

Por Isabela Domanico, Lorena Rodrigues, Fernanda Bittar e Maria Eduarda Cardoso

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

 

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