Historicamente o Brasil não é um ambiente favorável para jornalistas exercerem seu trabalho. Após a ditadura, muitos profissionais que vivenciaram aqueles momentos, ainda lesados, não possuíam a coragem de publicar suas notícias, sendo esse o fenômeno da auto-censura. Para Guilherme Amado, a linha é muito tênue entre o discurso de ódio e o crime de ódio. “Os grandes problemas que a gente tem que enfrentar em termos de liberdade de imprensa, são a segurança do jornalista para trabalhar e os ataques que são feitos à imprensa, sendo eles, virtuais e o discurso de ódio”, comentou.
“O jornalismo não tem como ser totalmente imparcial, nossos pilares são a independência e a justiça”
Ainda se tratando dos ataques à imprensa, Guilherme Amado acrescenta que a ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) considera que o presidente Jair Bolsonaro tem responsabilidade sobre os recentes ataques a jornalistas. “A cada palavra de ódio que ele e os apoiadores dirigem contra a imprensa, ele incentiva e estimula esse tipo de comportamento“, disse o jornalista. Apesar de muito presente no momento atual, e em proporção muito maior, Guilherme Amado alerta que não só a direita possui esse tipo de comportamento. “Os repórteres que estavam cobrindo a prisão de Lula foram humilhados, espancados e encurralados. O Lula também incentivou o ódio à imprensa, mas num grau incomparavelmente menor ao de Bolsonaro”, afirmou.
O segundo tópico abordado pelo colunista do Metrópoles, foi a pandemia, Guilherme Amado se diz orgulhoso da cobertura da imprensa durante a pandemia da Covid-19. “Há deslizes, mas no geral é o momento de se orgulhar da imprensa e dos colegas que estão indo para rua”.
Nesse cenário, a segurança dos jornalistas, algo fundamental, é ameaçada constantemente. Guilherme, mesmo fazendo parte de uma realidade diferente, reconhece que os índices de assassinatos contra os profissionais no interior do país são muito altos. Agressões públicas, rádio incendiada e redação de jornal depredada são alguns dentre tantos exemplos de ataques. Ele condena essa violência: “Nenhuma pessoa merece ser humilhada, massacrada ou torturada, seja ela quem for, independente do que tenha feito”.
O especialista considera que a situação seja muito pior com as repórteres mulheres, através da difamação e ofensas degradantes. Como exemplos disso, ele trouxe os ataques machistas sofridos pelas colegas Vera Magalhães e Patrícia Campos Mello. O jornalista considera que, diante dessa situação, um papel dos homens da profissão é evidenciar a covardia por trás dessa hostilidade.
Guilherme Amado aconselha que os jornalistas “voltem alguns passos para trás”, e não se atenham à direita ou à esquerda. Além disso, não é aceitável que alguém faça apologia a ataques, tortura ou assédio moral contra quem não concorda. Já o humor, sátira e crítica fazem parte da liberdade de imprensa. Enfatiza que, independentemente do que for noticiado, sempre vão tentar colocar a imprensa de um lado.
Ele alerta para a importância do cuidado com a saúde mental na profissão e da regulação da atividade jornalística. O palestrante acrescenta que, culturalmente, esses profissionais acabam sendo muito resistentes à colaboração. A união e apoio entre os colegas é essencial para a proteção do ofício. “Defendam o jornalismo”, diz. Hoje, a ABRAJI tem uma institucionalidade que permite a luta por qualquer questão que envolve o jornalismo.
“Nós jornalistas, estudamos comunicação social, cultura e sociedade, precisamos de um repertório vasto, conversando muito com o outro”
Segundo ele, já houve uma diminuição da desinformação, porém os jornalistas ainda devem criar soluções inovadoras para combatê-la. Pontua que a educação midiática é fundamental, pois ela propõe a desenvoltura do discernimento com as mídias. É necessário lidar de uma maneira crítica, capacitando, assim, para o diálogo. “Além de desenvolver um senso crítico, é preciso ter uma relação saudável com as redes”.
Por Maiza Santa Rita e Maria Tereza Castro
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira